quarta-feira, 10 de junho de 2009

Obscuridade

Nas faculdades de jornalismo o fato não é tão comentado como deveria ser. Em 2003, repórteres quebraram o sagrado sigilo da fonte informando que o falecido Antonio Carlos Magalhães - na época, senador - havia feito uma denúncia sobre seu inimigo Geddel Vieira Lima. Na época, os jornalistas alegaram o conflito de interesses: o senador baiano mandara grampear o deputado e distribuir um dossiê com esses dados para matá-lo politicamente. Sob pena de iludir o leitor e se permitirem ser usados Luiz Cláudio Cunha e Weiller Diniz cumpriram seu dever e informaram a verdadeira notícia por trás da miopia costumaz: ACM mandara grampear um rival ilegalmente e, aeticamente, procurava quem pudesse aproveitar esse material.

No jornalismo, por essência, o que se busca é o interesse público. O interesse público não era apenas ouvir denúncias obtidas de forma ilegal, mas saber quais meios um homem público, eleito pelo povo brasileiro, buscava para exercer o seu direito democrático de fazer denúncias. Muitas vezes como a informação surgiu é mais importante do que a informação propriamente dita. E por quê?

Não se confia em fontes inidôneas.

Elas mentem e oferecem caminhos para atenderem interesses privados - ou próprios. O repórter deve sempre buscar outras formas de informar sob o risco de ser usado e perder a credibilidade.

Há algumas semanas, um documento privado do Clube de Regatas Flamengo foi enviado para jornalistas e alguns blogueiros. Esses papéis foram obtidos por uma pessoa de dentro do clube, diretamente interessada nas eleições para presidente do clube. O objetivo? Desestabilizar a gestão atual e facilitar o processo eleitoral ao seu favor.

É notório entre os rubro-negros - incluindo este - que toda e qualquer chapa estará sob avaliação de todos e deverá se prontificar a esclarecer seus posicionamentos. O que talvez não seja tão público são os fatos por trás dessa história. Por que esse membro da política do clube não expôs os documentos publicamente? Por que recorre ao anonimato para divulgar esses papéis? E por que faz isso justamente - mais de uma vez, aliás - em ano eleitoral ao invés de participar ativamente em prol dos interesses do clube e não do seu grupo? Sejam verdadeiros ou não, esses documentos atendem a um interesse muito mais obscuro e desconhecido do que denunciar uma gestão temerária.

Em nome desses fatos, em nome dessa história, o melhor que cada jornalista - e blogueiro - pode fazer com sua consciência é meditar e investigar quais as ligações de quem lhes forneceu essas informações tem. E, principalmente, a quais interesses esses comunicadores, querendo ou não, atendem: o dos leitores ou o de poderes obscuros?

Flamengo Net

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