Nosso Mundo é Flamengo - Como a vida muda em 10 anos...
Por Thiago Gonçalves, de Braga (Portugal)*
Enquanto estive no Brasil, até os meus 16 anos, a minha vida possuía uma certa rotina em relação ao esporte e mais especificamente ao Flamengo.
Todos os dias ao voltar da escola para casa era obrigatória a parada na banca de jornais para ler as capas que estavam penduradas. Mas essa parada não tinha uma banca fixa e isso porque muitas vezes a escolha da banca implicaria se eu chegaria a tempo ou não de ver o Globo Esporte, ou seja, normalmente a banca escolhida era uma perto do colégio onde estudava, mas se por acaso eu avistasse de longe o ônibus chegando, esse tempo de leitura era trocado por uma corrida para o ponto de modo a que não chegasse atrasado à casa. Quando isso acontecia, a leitura era efetuada na banca de jornais próxima à minha casa para eu que eu pudesse gerir melhor o tempo.
Isso era fim dos anos 90 e apesar de haver Internet, essa não era tão difundida nem a informação tão vasta na rede. Se hoje sabemos a notícia num site qualquer 5 minutos depois dela ter acontecido, há dez anos atrás ou eu via o Globo Esporte ou a próxima atualização seria na Rádio Globo no fim da tarde.
À noite, quando meu pai chegava cansado do trabalho, minha primeira “missão” era comentar com ele todas as notícias que tinha lido, visto ou escutado ao longo do dia. Como ele trabalhava num comércio, sem televisão, só sabia das notícias pela leitura matinal do jornal ou por conversa com os clientes ao longo do dia. Esse era o meu ritual e se algo falhasse ao longo do dia, o tema da conversa à noite seria outro e apesar da ótima relação com meu pai e as nossas conversas não se restringirem ao Flamengo, a verdade é que parecia que faltava algo nessas noites.
Mas essa minha rotina era a mesma de muitos dos jovens que gostam de seus clubes e que sentem prazer em partilhar isso com o pai no fim do dia. Essa rotina não tem nada de especial, mas quando se muda de país, deixando de ter acesso aos jornais pendurados na banca e aos programas esportivos da televisão e da rádio, isso torna-se um problema.
Sabem aquela história de que só sabemos a falta que certa coisa nos faz depois de perdê-la? Foi exatamente isso que aconteceu comigo em relação ao Flamengo. Eu não perdi o Flamengo e o amor que sinto hoje é o mesmo que sentia dez anos atrás, mas a distância obrigou-me a vivê-lo de modo diferente. O primeiro passo foi contactar as operadoras de TV a cabo para saber qual delas tinha um canal brasileiro e além de só encontrar uma (transmitia o GNT), só depois de assinar é que descobrimos que eram raros os jogos de futebol que passavam para cá. Só não posso reclamar de tudo porque dentre esses raros jogos eles passaram as finais do Carioca e foi dessa maneira que pude acompanhar o segundo e terceiro título do Tri.
Pessoalmente, os anos de 2002 e 2003 foram os piores relativamente ao Flamengo desde que estou em Portugal. Tenho a dúvida se a GNT deixou de passar futebol ou se passou a transmitir futebol paulista, o que sei é que o Flamengo não dava mais. Sem Internet e sem Flamengo na televisão, a vontade de saber informações e não tê-las era deseperante. Aqui nos bares é normal terem os jornais para ajudar os clientes a passar o tempo e nas segundas-feira era sagrado que eu fosse a um bar espreitar o jornal, para não precisar comprar, e ver os resultados dos jogos do fim de semana. Ainda por cima, nessa época as notícias não costumavam ser muito boas, mas paciência.
De 2004 para cá, com a ajuda da Internet, a procura pelas notícias tornou-se em algo muito mais fácil e prazeroso. Hoje passo os dias a ler comentários nos blogs Rubro-Negros e se antes era preciso esperar dias para saber de certa coisa, hoje dou-me ao luxo de saber de certas coisas antes mesmo de saírem na imprensa.
Quando olho para trás e vejo o tanto que essa tal de Internet facilitou-me a vida é que eu digo: Viva a Internet!!!
PS: Viva também ao Youtube que permite que os azarados que nasceram tarde e não puderam presenciar ao vivo o esquadrão Rubro-Negro liderado por Zico possam ver e dislumbrar esses momentos. Mas isso já dá para outra história...
*Thiago Gonçalves, 25 anos, residente em Braga (Portugal), é formado em Engª da Computação Gráfica e Multimédia, e escreve também no Mundo Flamengo (www.mundoflamengo.com)
sábado, 6 de junho de 2009
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