sábado, 13 de junho de 2009

Mundo Flamengo - A Juventude
por Max Amaral, de Denver (EUA)

Esses moços, pobres moços... Ah!, se soubessem o que eu sei...
(Lupicínio Rodrigues)


Lendo o noticiário essa semana, me peguei pensando na idade dos nossos jogadores. A maioria tem 20 e poucos anos, mais dinheiro no bolso agora que 90% da população brasileira vai ter na vida inteira, são famosos, paparicados. O Rio de Janeiro é uma maravilha e as Cariocas, sensacionais. É até querer demais que eles não aprontem, não é mesmo?!
Eu aprontaria.
O problema é que eles também são representantes de um clube que é a paixão de 100 milhões de brasileiros (metade contra, metade a favor), e muitos deles não se dão conta disso.
É aqui que aparece um dos problemas cruciais do Flamengo: a falta de comando.
Olhando apenas para o elenco, para o grupo de jogadores de futebol, a impressão que se tem é que não tem ninguém que explique para os nossos “craques”, desde as categorias de base, o que é comprometimento, o que é responsabilidade. Ou, no caso das inevitáveis farras, que cobre deles um mínimo de discrição.
Não vemos ninguém lá na Gávea que pegue o grupo pelas mãos e mostre para eles que isso é efêmero. E que qualquer atitude hoje vai ter consequências amanhã.
É difícil, eu sei. Com 20 e poucos anos, você é imortal. Você não sente dores quando se levanta da cama pela manhã, o seu colesterol não existe, sua pressão não está alta. Qualquer merda que você fizer, você tem a vida inteira para consertar. Na cabeça de jogadores, o tempo não é um inimigo - o que é outra idiotice, já que eles só vão ter pouco mais que 10 anos de carreira produtiva. Um arquiteto, um médico, um advogado só vão atingir seu "apogeu" lá pelos 50, 60 anos de idade. Boleiros, aos 35 anos serão considerados velhos demais para continuar jogando – e o esforço do Pet para provar o contrário apenas confirma isso.
Eles não enxergam que ter fama de indisciplinados, preguiçosos ou irresponsáveis vai afetar a carreira deles no futuro - e o futuro para um jogador de futebol é a próxima janela de transferências. Não há ninguém que apareça ao lado deles para tentar enfiar esse pouco de juízo naquelas cabecinhas limitadas.
E, mesmo que houvesse, essa pessoa dificilmente seria respeitada. Por que o mau exemplo vem de cima.
Como é o Flamengo hoje?
Dirigentes que se perpetuam no poder fazendo com que nenhuma mudança real de filosofia, de política, consiga ser implantada. Uma briga suicida nos bastidores que abusa da tática do “quanto pior, melhor”. Decisões de momento, apaixonadas, ao invés de um planejamento bem pensado, ou qualquer planejamento. A necessidade de se administrar apagando incêndios, tentando resolver os problemas urgentes primeiro, os que pipocam no dia a dia, e empurrando com a barriga qualquer solução que traria resultado a longo prazo.
No Flamengo, quatro dirigentes dão quatro explicações diferentes para a ausência do Adriano. No Flamengo, o técnico faz um discurso dizendo que quer acabar com a bagunça e um dirigente o desautoriza. No Flamengo, os salários atrasam, os pagamentos de empréstimos a outros clubes não são feitos, os impostos se acumulam.
Se o Flamengo é uma bagunça, os jogadores, jovens cheios de certezas, são os primeiros a enxergar isso.
Jonatas e Juan descobrem que têm poder para tirar um profissional da comissão técnica da Gávea. Logo, eles vão fazer apenas o que quiserem.
Alguém começa a resmungar que o Adriano tem privilégios e quer ser tratado da mesma forma. Não aparece ninguém para dar um basta (tanto nos privilégios quanto nas reclamações), e isso vira uma bola de neve.
Zero Berto chega a junho ainda fora de forma e nada acontece. Qual a mensagem é passada ao restante do elenco?
Até o fato de o técnico do time se misturar com os jogadores durante um treinamento ou rachão (como o Cuca tem feito) reduz a autoridade que a comissão técnica tem que ter para poder cobrar posturas e resultados.
É aí que teria que entrar a organização, a entidade - para tomar conta dos jogadores, dar um norte, fazer com que eles se comportem bem para o seu próprio benefício. A Seleção Brasileira com o Dunga está assim - todo mundo sabe que não dá para vacilar, os jogadores estão comportadíssimos. No São Paulo é assim, no Cruzeiro, em vários lugares.
Só que, no Flamengo, não há ninguém com moral suficiente para enquadrar os jogadores. Ninguém tem autoridade ou coragem para, pelo bem deles mesmos, fazer com que tenham um comportamento minimamente responsável, que tenham comprometimento e foco durante o jogo, que honrem o Manto.
Muito tem se falado que o time do Flamengo precisa de um líder em campo. Na verdade, o Clube de Regatas do Flamengo é que precisa, urgentemente, de uma liderança digna desse nome.
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Max Amaral mora nos Estados Unidos e acompanha o Flamengo pela Internet. E ficou chocado ao se dar conta de que tem idade para ser pai de metade do elenco do Flamengo.
Ele escreve também no Mundo Flamengo (www.mundoflamengo.com)

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