sexta-feira, 5 de junho de 2009

COLUNA DE SEXTA-FEIRA - André Monnerat

E se aquela troca do Adriano nunca tivesse acontecido?

21/7/2001. Dois emissários da Internazionale de Milão vão ao Estádio Mané Garrincha, em Brasília, com um objetivo específico: observar dois jovens atacantes do Flamengo, Adriano e Reinaldo, ambos indicados por um olheiro em terra brasilis ao clube italiano. Os dois foram apontados como jogadores de grande futuro e formavam o ataque titular do time naquele dia, no jogo contra os uruguaios do Nacional, pela Copa Mercosul. Ao lado da dupla de italianos na tribuna, o presidente do Flamengo, Edmundo Santos Silva, já sonhava com a realização do grande negócio: a troca de Adriano e Reinaldo por Vampeta, mais a quantia de 5 milhões de dólares.

Porém, assistindo à partida, os italianos mudaram de ideia. Reinaldo, autor dos dois gols da vitória rubro-negra, agradou em cheio e continuou interessando - mas não foi o caso de Adriano. Sua atuação não convenceu os europeus, que mudaram o foco para o outro jovem atacante que entrou durante a partida: Roma. O jeito meio Romário de ser do rapaz e a animação com que a torcida rubro-negra saudou sua entrada convenceram o pessoal da Inter de que ele sim era uma boa aposta, e não aquele outro grandalhão sem jeito.

Meio contrariada, a diretoria do Flamengo acabou aceitando a transação - depois de conseguir negociar um aumento de 5 para 8 milhões na grana a ser desembolsada pela Internazionale. Com isso, Adriano seguiu sua vida no Flamengo, como opção de banco para o ataque formado por Edílson e Reinaldo - que só seguiria para a Europa no início do ano seguinte.

No entanto, as vaias com que a torcida rubro-negra saudava Adriano a cada vez que entrava em campo e o corinho de "bota pra vender" basicamente inviabilizavam qualquer boa atuação de Adriano. Com o tempo, ele foi perdendo espaço e deixando até de aparecer no banco. A comissão técnica decidiu que o melhor era reintegrá-lo ao time de juniores até o fim daquele ano.

Com o físico privilegiado, Adriano voltou a se destacar entre os garotos e ganhou nova oportunidade de integrar o grupo profissional na pré-temporada de 2002. Chegou até a ser escalado como titular no primeiro amistoso do ano, contra o Palmeirinha, em Paraíba do Sul - mas foi substituído durante o jogo, o que se repetiu na estreia pelo Rio-São Paulo, contra o Palmeiras, em que teve péssima atuação. Mas o que o marcou mesmo foi o erro na disputa de pênaltis que decidiu a Copa Mercosul, em jogo adiado do ano anterior contra o San Lorenzo, na Argentina. O título perdido graças ao pênalti desperdiçado por Adriano acabou sendo decisivo na queda de Carlos Alberto Torres, poucos jogos depois. E, com a troca de técnico, Adriano perdeu de vez a pouca moral que tinha na Gávea.

Em abril, a diretoria acertou a troca de Adriano pelo zagueiro Dininho, do São Caetano. E Adriano acabou dando sorte no novo clube: entrando no segundo tempo no lugar de Somália, marcou o gol que deu o título da Libertadores para o Azulão em cima do Olímpia, do Paraguai, no Pacaembu.

Adriano escreveu seu nome na história do clube do interior paulista e ganhou a vaga de titular do time, fazendo muitos gols dali em diante. Felipão chegou a convocá-lo para a Seleção, onde formou o ataque com Marcelinho Paraíba em um jogo contra o Paraguai, para logo depois ser vendido para o Espanyol. O negócio gerou diversos comentários sobre a relação entre esse tipo de convocação surpreendente e a venda em seguida para a Europa. O então colunista de O Dia, Bussunda, escreveu: "Eu me lembro bem do Adriano no Flamengo. Essa convocação podia dar até CPI. A CPI do Bonecão do Posto."

No Espanyol, entretanto, Adriano se perdeu na vida noturna de Barcelona e, depois de um início empolgante, com 12 gols em 10 jogos, foi perdendo espaço. De lá, passou a rodar na Europa por clubes grandes de centros menores ou clubes menores de grandes centros, sempre com histórias de noitadas e sumiços. Depois de alguns anos, voltou a chamar a atenção de todos pelo modesto Pisa, da Itália, em que ficou conhecido como "Torre de Pisa" e marcou 18 gols no campeonato italiano de 2007. Em 2009, voltou ao Brasil para reforçar o Sport Recife na disputa da Libertadores mas, depois de um começo animador no campeonato pernambucano, acabou indo parar no banco.

Neste fim de semana, ele será apenas mais um entre os reservas do Sport no jogo contra o Flamengo. O foco estará mesmo no novo comandante do ataque carioca - o ídolo Roma, herói do hexa na Copa de 2006, repatriado a peso de ouro por Kléber Leite com a ajuda de uma parceria misteriosa. Depois de conquistar tudo o que podia pela Internazionale na Europa - que se tornou "o novo Império Romano", segundo a imprensa italiana -, Roma decidiu voltar ao seu time de coração e à vida simples que levava no Rio de Janeiro. Seu retorno é visto como a grande salvação do impotente ataque rubro-negro, que só deu vexames ao longo do ano. Mas agora, com o Baixinho em campo, tudo será diferente. É o que esperamos!


• ANDRÉ MONNERAT trabalha com marketing e Internet, ficava constrangido a cada vez que a torcida gritava por Roma e escreve também no SobreFlamengo.

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