Não tem como deixar de ressaltar que o time foi guerreiro. Lutou, buscou, não se acovardou. Foi melhor do que Internacional nas duas partidas, ressaltando as boas atuações de todo o sistema defensivo. Mas, principalmente no jogo do Rio, não teve um ataque competente nas conclusões e agora está fora da Copa do Brasil. Justo? Não cabe mais discutir essa questão. A verdade é que quem foi competente seguiu, quem não foi está voltando para casa.
Com a visão de quem esteve em Porto Alegre vendo o time de perto, sofrendo no estádio, espremido no ridículo espaço destinado ao torcedor Rubro Negro, não consigo me contentar com os aplausos à bravura da equipe ou me apoiar na idéia de que “caímos de pé”. Tudo isso é muito pouco para a grandeza do clube.
Futebol é resultado, é conquista, não apenas intenção, vontade.
E por isso, mesmo ainda com a dor da derrota bastante evidente, vale a pena refletir um pouco sobre o que podemos esperar desse Flamengo.
Ainda que uma ou outra peça não esteja mais no clube, penso que o auge da base dessa equipe e principalmente desse sistema de apoio dos laterais ocorreu na Copa do Brasil em 2006. De lá para cá já temos alguns tropeços, uns significativos, outros nem tanto, mas que vão pouco a pouco minando a paciência, a credibilidade, a confiança de quem torce pelo time.
E algo que eu mesmo demorei a perceber e que hoje vejo com muito mais clareza, é que o torcedor do Flamengo em geral está se contentando com o “bom”. O momento não é dos melhores para tal, mas é necessário reviver certos fantasmas para refletirmos sobre.
Libertadores 2007. O Flamengo joga em Montevidéu uma de suas piores partidas nos últimos tempos. Perde para o aguerrido, mas limitado time do Defensor por 3 x 0, fora o olé. No jogo da volta, o Flamengo foi valente, correu, suou, esbarrou na retranca adversária e na péssima atuação do arbitro. Fim de jogo, desclassificação. E o sonho de mais uma libertadores foi embora. E não aconteceu mais nada, simplesmente abaixamos a cabeça, aceitamos que “foi bom, quase deu”, e a vida seguiu.
E a vida seguiu novamente na famosa arrancada do Brasileirão. Saímos da zona de rebaixamento ao terceiro lugar, conquistamos de forma brilhante uma vaga na Libertadores do ano seguinte. “Que bom”, “Que recuperação”, “Joel é nosso salvador”, comemoramos!
E seguiu pós vexame contra o América do México.
E já estamos seguindo pelo mesmo caminho após mais essa desclassificação para o Internacional.
Mas “O time foi guerreiro” - E foi mesmo, muito!
Mas “Quase deu”- Mas o fato é que não deu.
Não tenho a menor moral para vir aqui e ditar como cada um deve enxergar sua forma de torcer pelo clube. Mas, reflitam: O Flamengo é muito maior do que esse “nada” que estamos nos acostumando a comemorar. Lutar dentro de campo em partidas decisivas, chegar em terceiro na principal competição nacional, fugir de zona de rebaixamento, ou fazer duas boas partidas contra a melhor equipe do Brasil no momento, tudo isso diante da grandeza do Flamengo, não é rigorosamente nada.
Estamos nos contentando com o que parece ser bom e deixando de pensar no que é ótimo.
Solução? Só vejo uma. O Flamengo precisa se refazer. Esse time tem uma base formada há algum tempo, e altamente dependente de um único padrão de jogo, que é atuar com os laterais. Se fosse apenas isso, já seria um enorme problema, não seria fácil alterar esse padrão tendo os jogadores que o elenco do Flamengo proporciona, com as características que cada um possui. Mas pior do que isso é a marca que muitos desses jogadores estão deixando.
Todos têm grandes qualidades, não se pode questionar isso. Muitos estão valorizados, com o mercado europeu mostrando interesse e talvez nem permaneçam após a janela de transferências.
Mas já que não os vejo levantando taças dignas com a grandeza do Flamengo, já que não marcam o imaginário do torcedor fazendo, a nosso favor, o gol da classificação aos 44 do segundo tempo de um jogo dificílimo, fica a imagem do cara que perde pênalti, abandona treino em semana decisiva, mostra desatenção em partida decidida em detalhes, do goleiro que toma gols discutíveis, do jogador que fez uma falta desnecessária, do jogador que perdeu todas as divididas na partida, entre outras.
Para essa base, e prefiro não citar nomes pois me parece muito óbvia, quero crer que o ciclo no Flamengo tenha acabado definitivamente. Não consigo mais criar expectativas sobre o futebol destes. E o máximo que conseguimos sentir é essa sensação do “quase”, a de que, mais uma vez, “faltou pouco”.
Se o Flamengo não quer ver o dourado da estrela que, com muito orgulho carrega no peito, se desbotar cada dia mais, precisamos urgentemente de renovação, dentro e fora de campo!
Precisa de verdadeiro gosto por títulos, gana de vencedor.
Precisa voltar a ser Flamengo.
Grande abraço e Saudações Rubro Negras, sempre!
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