NOSSO MUNDO FLAMENGO: Adriano x Ronaldo, por dentro da notícia
Entre imprensa, torcida e comentaristas de plantão, há uma verdade atual que me soa deveras questionável: a contratação de Ronaldo pelo Corinthians foi muito mais impactante do que o retorno de Adriano ao Flamengo.
Embora se diga o contrário, julga-se o fato muito mais com base no atual e surpreendente poder de reação que tem levado o camisa 9 a ter grandes atuações em SP, com direito a prêmio de melhor jogador de torneio, do que efetivamente por suas conquistas e recordes individuais - como ter vencido duas Copas do Mundo e ser o principal goleador da história delas. Pois os que o aplaudem hoje são os mesmos que acreditavam em sua aposentadoria há poucos meses.
Contra o argumento, digo, sem entrar no mérito de validade ou custo-benefício para nós: a contratação de Adriano pelo Flamengo supera, em escala mundial, a repercussão oferecida pela notícia de Ronaldo no Corinthians, em dezembro passado.
Jornais americanos, ingleses, portugueses, holandeses, italianos e de várias outras nacionalidades questionam a rapidez com a qual o Imperador superou os problemas pessoais que lhe serviram como desculpa para rescindir o contrato com a Internazionale e assinar com o Flamengo, poucos dias depois de ter anunciado o afastamento – ao menos provisório – dos gramados.
A pergunta os intriga. Afinal, até há algumas semanas, mesmo após passar por períodos instáveis, Adriano ainda era uma das grandes esperanças de uma das maiores potências futebolísticas do planeta, a Internazionale de Milão. Ainda era a aposta do presidente Massimo Moratti e do técnico José Mourinho (em meados de fevereiro, ele decidia um clássico contra o Milan), que pareciam ainda ter algumas doses de paciência para gastar com os delizes do Imperador.
Ou seja, ainda que, infeliz na Itália, decidisse deixar a Inter, o caminho natural, na cabeça dos europeus, era de que, aos 27 anos, o craque rumaria a outra praça importante do continente, como Inglaterra, Espanha ou Alemanha. E que com mais euros no bolso e ambiente renovado, a boa performance do então titular do ataque de Dunga voltaria a ser ato contínuo.
O desfecho dessa novela, que começou com a “deserção” rumo ao Rio, a decisão de parar temporariamente de jogar e a rescisão com os neriazzuri, surpreendeu o mundo mais do que os folhetins de Gilberto Braga. Embora o coração apontasse para uma volta ao clube brasileiro que o revelou, seria improvável resistir às propostas de times europeus que certamente apostariam em uma rápida recuperação à velha (e recente) forma.
Mas o anúncio do acerto com o Flamengo soa entre a decepção dos italianos e a dúvida sobre se o mise-en-scène psicológico não serviu apenas para criar condições mais favoráveis para a repatriação do jogador pelo C.R.F. Sem multa a pagar.
Trata-se de um processo inteiramente distinto do que ocorreu com Ronaldo, cuja disponibilidade após expirado o acordo com o Milan não pareceu seduzir os clubes europeus. Para eles, aos 32 anos e com ao menos três lesões gravíssimas nos joelhos, Ronaldo já tem (ou tinha?) o prazo de validade vencido para atuar no Velho Continente. Encontrou nos gambás, como ele mesmo diz e como toda a imprensa mundial reproduziu, a “luz no fim do túnel” para voltar a jogar futebol. Trocando em miúdos: na Europa, naquele momento, já não tinha mercado algum.
E aí Ronaldo fez-se ressurgir seu futebol no Corinthians. As boas atuações surpreendem o Brasil e todo o mundo. É o Fenômeno de volta! Mas espere: vale lembrar que desde a derrota para França na Copa de 2006 – há quase três anos – ele não atua pela Seleção. Só faz ser lembrado agora, talvez, porque o ataque canarinho, sem Adriano em sua plena forma, não corresponde integralmente às expectativas.
Enquanto isso, o bom desempenho do Imperador na Gávea só surpreenderá aqueles que acreditavam que o craque não mais se recuperaria dos problemas psicológicos e de sua curta crise existencial. Porque, em termos de capacidade técnica e atuação em alto nível, Adriano ainda desfruta de confiança plena.
ADRIANO e FLAMENGO na Imprensa Internacional
Diante das dezenas de reportagens publicadas pelo mundo sobre a contratação de Adriano pelo Flamengo e seus impactos, separei três interessantes para leitura e reflexão dos amigos do blog. Na Itália, o "La Stampa", aborda justamente a surpresa pelo fim do "brevíssimo adeus de Adriano ao futebol". Os argentinos do Olé pedem: "Abram espaços para Adriano" e se confundem com o apelido do atacante, tratando-o como o "Animal", alcunha dada a Edmundo. Por fim, talvez a matéria mais completa e controversa publicada na imprensa internacional sobre o assunto é do jornalista Robert Shaw, correspondente esportivo na América do Sul do jornal inglês "The Telegraph". Em "Adriano e Flamengo, um casamento perfeito", ele pergunta: Mas a decisão de Adriano é realmente um casamento celebrado no céu ou no inferno?
Que São Judas Tadeu esteja sempre com ele.
*Paulo Lima, 29 anos, residente em Nova York (NY), é servidor público federal e ex-repórter (Paulo Henrique Caruso Lima, aka "Falquinho") do Diário LANCE! (de 2001 a 2008), e escreve também no Mundo Flamengo (www.mundoflamengo.com)
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