CADERNINHO DO SIMÕES LOPES XXX
Calma, não é nada disso que estão pensando... XXX é apenas “trinta” em algarismos romanos. Acontece que em 2008 completo trinta anos na minha carreira de torcedor, que começou no augustíssimo campeonato carioca de 1978. Nestes anos já presenciei tanta coisa, que resolvi fazer um resumo do Flamengo (ou dos Flamengos, para ser mais exato) que eu acompanhei ao longo destas três décadas de emoções sempre fortes.
ARMANDO PELO MEIO
A primeira dúvida que me ocorreu seria como dar um título para este post. Nele tentarei dar um panorama de trinta anos de uma posição não muito bem definida. Refiro-me aos meias que não eram o típico “Camisa 10”. Chamá-los de “Camisa 8” seria uma alternativa, mas nem todos usaram esse número. Optei por chamá-los genericamente de “meias armadores”.
Quando comecei a acompanhar futebol, o Flamengo tinha um titular absoluto na posição: Adílio. Driblador, habilidoso, genial em certos momentos. Capaz de dar dois dribles até em cima de um guardanapo, o neguinho bom de bola formava um meio-de-campo com o veterano Carpegiani – que segurava as pontas como um volante – e Zico – que desequilibrava as partidas fazendo gols, gols... e mais gols. Em 1979, Adílio ganhou um concorrente à altura com o retorno de Andrade. Da mesma geração de juniores (então chamados juvenis) que revelara Tita e o próprio Adílio, Andrade voltou de um empréstimo na Venezuela, onde se consagrara como artilheiro. Apesar de seu toque de bola refinado, Andrade demonstrou uma sutil vantagem tática em relação a Adílio: sua capacidade de marcação. Com isto em mente, ao longo de 1979 e 1980, Cláudio Coutinho passou a utilizar cada vez mais Andrade como uma opção para o meio-de-campo, que com ele marcando, liberava Carpegiani para a armação. Adílio tornara-se então uma opção tática para os segundos tempos, ora lançado como um falso ponta-esquerdo ora como um meia mais ofensivo. Com a gradual aposentadoria de Carpegiani em 1981, e sua promoção a técnico, o Flamengo chegou a sua formação clássica de meio-de-campo, que me permitam grafar com maiúsculas: ANDRADE, ADÍLIO E ZICO. Com este trio sensacional, o Flamengo conquistou mais dois Campeonatos Brasileiros, uma Libertadores, um Mundial Interclubes e mais um Estadual. A grande quantidade de jogadores habilidosos e versáteis no elenco (Tita, Lico, Júnior, Leandro) tornava quase desnecessário um reserva na posição, que foi ocupada em 1980 esporadicamente pelo folclórico Peu e pelo polivalente Lico. Em 1983, Zico foi para a Itália, mas Adílio permaneceu absoluto no meio, apenas circunstacialmente ocupando a ponta. Prosseguiu até o início de 1987, quando uma série de contusões fizeram-no perder espaço, e ser vendido ao Coritiba. Lamento que as diretorias seguintes do Flamengo não tenham se interessado no retorno de fantástico jogador que está marcado na história do MAIS QUERIDO. Em 1985, a posição de meia-armador foi ocupada pelo versátil Marco Antônio, ou simplesmente, Marquinho, que vindo do Vasco numa troca pelo volante Vítor, teve bons momentos na Gávea graças ao seu estilo mais formiguinha, que usava um preparo físico invejável para apoiar o ataque, cair pelas pontas, e ainda voltar para fechar os espaços. A partir deste momento, os meias apoiadores passam a ganhar menos espaço, graças ao defensivismo que vai enchendo os times com um número cada vez maior de volantes. Um jogador que acabou por substituir Marquinho fazendo praticamente a mesma função, foi o incansável Aílton, que fez parte do tetracampeonato brasileiro em 1987, e que seguiu no time fazendo às vezes de lateral-direito, até ser vendido ao Guarani, quatro anos depois. Fez sucesso em todos os times por onde passou, mas jamais retornaria ao seu clube de origem. Com a saída de Aílton, sua posição foi ocupada por Zinho, recuado da falsa-ponta-esquerda, e de certa forma pelo fantástico maestro Júnior, que foi o verdadeiro armador nas conquistas de 1991 e 1992. Com a venda de Zinho ao milionário Palmeiras-Parmalat, a jovem promessa Marquinhos ocupou a posição, mas sem jamais se firmar. Em 1993 o Flamengo contratou Casagrande para esta função, mas sua passagem pelo Mengão foi muito rápida. Jogadores como Carlos Alberto Dias e Boiadeiro também tiveram participações fugazes, e a penca de contratações que marcou a Era Kléber Leite incluiu nomes como Branco, Válber, Moacir, Zé Roberto, Palhinha, todos com participações meteóricas. Foi só em 1998, na figura do marrento e raçudo Beto, que o Flamengo chegou a ter um apoiador com uma presença mais consistente, mesmo tendo sido emprestado por um breve período ao São Paulo, mas retornando ao Mengão para ganhar o tricampeonato carioca de 1999-2000-2001. Ao seu lado, e fazendo às vezes a mesma função, tínhamos o sempre irregular e imprevisível Fábio Baiano. Os anos seguintes foram de elencos fracos, e com um excesso de volantes que praticamente deixava o time sem apoiadores, e tivemos uma sucessão de jogadores com passagem um tanto insípida, como Hugo, Marcelo Rosa, Marquinho, Felipe Mello, Igor, Fernando Diniz, Jônatas, Vinícius Pacheco, e outros. Cabe apenas destacar a presença de Renato Abreu, que chegou ao time em 2005 como uma opção de lateral-esquerdo e volante, e terminou garantindo sua posição no meio de campo com seus impactantes gols de falta, e do atual apoiador do elenco, o também marrento Íbson.Atuando de 2003 a 2005 como mais um volante, retornou no final de 2007 para a mesma posição, mas com funções ligeiramente mais ofensivas. É com ele que encerro este passeio por três décadas.
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