sexta-feira, 24 de abril de 2009

COLUNA DE SEXTA-FEIRA - André Monnerat

Maracanã - casa do Flamengo?

Há quantos anos os senhores leitores não vêm ouvindo falar sobre o edital de "privatização" do Maracanã? O assunto existe há alguns anos e a licitação já teve seu prazo anunciado e adiado algumas vezes. Neste período, a perspectiva de que o Flamengo pudesse assumir o Mário Filho entrou nas discussões sobre a participação na licitação do Engenhão, da revitalização da Gávea e de outros papos sobre um possível novo estádio do Flamengo.

Pois é: a licitação saiu. O edital, com o contrato de Parceria Público-Privada e 22 anexos (com a descrição do complexo do Maracanã, plano de negócios, recomendações técnicas etc. etc. etc.), está disponível para download pelos possíveis interessados no site do Governo do Estado do Rio de Janeiro. E, supresa!, o Flamengo tá fora da parada.

Diz o texto do edital:

Por fim, o presente Edital de PPP veda a participação dos clubes de futebol como licitantes (individualmente ou em consórcio). Com efeito, o Estádio do Maracanã tem vocação inafastável de servir democraticamente, no interesse de toda a sociedade, a todos os clubes de futebol que possam utilizá-lo, incluindo as grandes equipes cariocas, bem como a todas as suas torcidas, haja vista constituir patrimônio cultural e esportivo de todo o povo brasileiro. A concessão do Complexo Maracanã, dessa forma, não poderia propiciar a vinculação do Estádio a uma única equipe de futebol ou respectiva torcida, sob pena de gerar grande frustração a todo o restante da sociedade carioca e brasileira e, assim, contrariar o interesse público. Em adição, constata-se que a possibilidade dos participantes da licitação se consorciarem com clubes de futebol, ou mesmo com a CBF -Confederação Brasileira de Futebol, apenas induziria a uma redução indevida da competitividade do certame, haja vista que a singularidade da CBF e o pequeno número de clubes com grandes torcidas e sem estádio próprio na Cidade do Rio de Janeiro acabaria por inviabilizar a participação dos demais interessados que não lograssem compor tais consórcios.


O Flamengo, portanto, não pode tentar "comprar" o Maracanã, tampouco participar como um dos sócios de algum consórcio que pretenda entrar na disputa. Em outro trecho, o edital também proíbe que o novo administrador faça qualquer obra que possa caracterizar o estádio como de propriedade de um ou mais clubes específicos - ou seja, nada de escudão do Flamengo no gramado ou outros sonhos que a galera já teve para o estádio.


Fica a expectativa para os concorrentes deste processo. Se ele realmente chegar ao seu fim, com certeza a relação dos clubes com o novo proprietário vai mudar. Mas o fato é que qualquer clube, hoje, precisa poder usar o estádio onde joga para gerar dinheiro além da bilheteria. Camarotes, ações de marketing, venda de bebidas, comidas, produtos diversos - tudo isso faz parte da receita de matchday, uma das de maior peso nas contas dos grandes clubes europeus, especialmente os ingleses. No Brasil, isso ainda está engatinhando - mas clubes como o São Paulo, que têm seus estádios, já estão começando a andar nessa direção. Será que o Flamengo terá a chance de jogar o mesmo jogo de seus concorrentes sem poder participar da administração do Maracanã?

É conhecido o exemplo de Internazionale e Milan, que dividem o mesmo estádio público em Milão. Seria interessante para o Flamengo agora, em vez de simplesmente chorar pelos termos do edital publicado pelo governo, ir conhecer este modelo italiano para se inspirar para o seu futuro.

E volta aquela discussão: afinal, o Maracanã é, necessariamente, a casa do Flamengo? Ou o clube deve pensar mais seriamente em ter seu próprio estádio?


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É bom dizer que já foi avisado, há tempos, que no ano que vem o Maracanã voltará a fechar para obras. Assim, Flamengo e Fluminense devem procurar outra casa para chamar de sua enquanto as reformas durarem - coisa de dois ou três anos.

Por enquanto, está todo mundo contando que ambos usarão o Engenhão - e o Botafogo já se prepara para faturar em cima disso. A minha sugestão é outra: que se parta para a construção de uma nova casa, possivelmente em parceria com os tricolores. É o que foi feito na época da Arena Petrobras, na Ilha - mas na época o tempo era curto, tanto pra preparar o estádio, quanto para utilizá-lo, já que o período sem Maracanã era de poucos meses. Mas, se começarem a trabalhar em cima da idéia agora, com a perspectiva de usar o novo espaço por um período bem maior, tudo pode ser muito mais bem feito e lucrativo - há tempo para procurar o melhor espaço, encontrar parceiros, pensar nas melhores maneiras de utilização e construir a estrutura. E seria dar um gostinho aos clubes de como é ter seu próprio estádio e utilizá-lo 100% para gerar receitas - quem sabe eles não gostam e resolvem ter pra sempre?

Mas, pra isso, seria necessário começar a trabalhar com antecedência. E ano eleitoral não é lá muito propício pra isso.


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Enquanto isso, o Maracanã é a casa do Flamengo. Domingo, tá na cara, será mais um dia de maioria absoluta de rubro-negros no estádio, empurrando o time pra cima do Botafogo. Muito provavelmente, mais uma vez a tática de Ney Franco será esperar em seu campo para tentar os contra-ataques. Cuca deve saber disso, e deve estar pensando em como transformar o domínio em mais chances, e em como se expor menos aos contra-golpes do Botafogo.

Vamos ver se ambos conseguem melhorar o trabalho de seus times, pra partida desta semana ser um tantinho menos sem-vergonha que a do domingo passado.


• ANDRÉ MONNERAT trabalha com marketing e Internet e escreve também no SobreFlamengo.

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