Não se fala mais em outra coisa. O rubro-negro foi dormir com os velhos problemas na cabeça (aliviados pela vitória da seleção e pela risível derrota da Argentina para a Bolívia, por 6 a 1) e acordou com os diários Lance e O Globo (na coluna Ancelmo Góis) sentenciando: a “parceria” entre Flamengo e Petrobras, vigente em seu 25º ano, chegou ao fim.
O fim deste relacionamento é bom para as duas partes. Para a Petrobras, a verdade é que o Flamengo já vai tarde. Não sou afeito a teorias conspiratórias, mas tenho pra mim que desde que o governo Lula assumiu o poder – com seus sindicalistas e dirigentes paulistas – a empresa passou a tratar o Flamengo de maneira marginalizada. Lembro-me dos idos de 2001 – pré-Lula, portanto - quando a empresa inundou o Rio de Janeiro com propagandas celebrando a parceria. Coisas deste tipo nunca mais ocorreram. A Petrobras simplesmente deixou de se relacionar com o clube e sua torcida. E passou a endurecer dramaticamente na hora das renovações, a ponto de ter acordado para 2009 valores de patrocínio bastante abaixo dos vigentes. A impressão que dava era que a empresa estava de “saco cheio”, jogando valores pra baixo sob a justificativa de uma crise mundial (crise esta que NÃO CHEGOU aos outros clubes brasileiros, é bom que se diga), e torcendo pra que o Flamengo recusasse e acabasse com a palhaçadinha de uma vez. Ah, mas quando o Manchester United convidou a empresa para discutir um possível patrocínio, ela se apressou a divulgar na mídia, toda satisfeita. É incrível que o maior estudo de caso da história dos patrocínios esportivos no mundo – exatamente no ano de sua boda de prata – termine desta maneira melancólica. Todo Carnaval tem seu fim.
Já para o Flamengo, o rompimento não é bom. É excelente. Simplesmente porque a desgraça dos salários atrasados tornou-se ainda mais recorrente desde que passaram a exigir na justiça as malfadadas Certidões Negativas de Débitos perante o Governo Federal. E o Flamengo simplesmente não as tem. Assim, tornou-se inviável ser patrocinado por uma estatal, e a insistência da diretoria do Flamengo diante da manutenção deste patrocínio – ainda mais depois da tal renovação por míseros R$ 14,2 milhões - já beirava algo suspeito.
Por falar em diretoria, para variar é ela a merecedora da nota de repúdio desta coluna. Em 2008, Flamengo e Petrobras demoraram a acertar as bases de seu novo patrocínio, o que só veio a acontecer mais ou menos no mês de março. Durante este período, o Flamengo fez propaganda de graça, contando com o fato de que o acordo com a estatal sairia. Saiu, mas com um reajuste insignificante (o patrocínio recebeu uma “correção monetária” de R$ 15,7 para R$ 16,2 milhões, se não me engano). Escaldada, a diretoria anunciou que isso não mais aconteceria, e que adiantaria as negociações para uma possível renovação em 2009. Caso não houvesse interesse, buscaria patrocinadores na iniciativa privada. E não é que, mesmo com esse blá-blá-blá, a diretoria do Flamengo deixou acontecer este ano EXATAMENTE A MESMA COISA do ano passado??? A diferença é que agora, as negociações chegaram ao fim (até porque a dificuldade para obtenção das CNDs se agravou) e o Flamengo, em pleno mês de abril, está sem patrocínio. Sintam o tamanho do prejuízo: mesmo se acontecer o milagre de fecharmos com alguma empresa o maior patrocínio do Brasil, o rombo pela falta dos três primeiros meses não poderá ser coberto. Um patrocínio de R$ 20 milhões equivale a parcelas mensais de R$ 1,66 milhão. Desta forma, teríamos perdido – ou melhor, deixado de ganhar – nada menos do que R$ 5 milhões entre os meses de janeiro e março. Repito: isto é culpa da incompetência da diretoria.
Por sorte, somos o Flamengo. Interessados, imagino, não faltarão. Já se especula um possível interesse da Nestlé e da Oi. Duvido que seja a Nestlé. Fomos os responsáveis pelo maior desgaste de imagem da empresa suíça nos últimos anos, naquele episódio da troca de produtos por ingressos, na última rodada do Brasileirão-2007. Inúmeros rubro-negros processaram a empresa por não terem conseguido trocar seus produtos por ingressos, o que levou a Nestlé a cancelar a até então bem sucedida iniciativa “Torcer Faz Bem”. Hoje, um patrocínio da Nestlé aparentaria como um “pedido de desculpas”. Mas já dizia Adam Smith, que “não é pela benevolência do padeiro ou do açougueiro que as pessoas têm pão e carne em suas casas”. Pois é. Filantropia, quem faz é só o Flamengo, expondo de graça uma marca ao longo de três meses. Já na Oi, eu acredito. Rola um incrível compadrio entre as empresas sediadas no Rio de Janeiro e os clubes da cidade – vide os patrocínios do Bob’s e da Embratel ao Campeonato Estadual. A Embratel, inclusive, já patrocinou a FlaTV. Levo fé que deste mato saia coelho.
Para terminar, outra notícia de hoje, do Globo, que transcrevo:
“Hoje, o presidente do Conselho Deliberativo, Walter D'Agostino, e o presidente em exercício, Delair Dumbrosck, vão receber um documento assinado por conselheiros e ex-presidentes. Nele, são propostas medidas contra a grave crise e o progressivo endividamento. Uma delas é um modelo similar à Lei de Responsabilidade Fiscal adotada no setor público. O clube limitaria gastos em cerca de 50% da receita orçada.”
Se é assim, ótimo. O Brasil é mesmo o único país do mundo que precisa fazer uma lei determinando que se respeite às leis.
E-mails para a coluna: viniciusflanet@gmail.com
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