quinta-feira, 12 de março de 2009

O Edital e a Olympikus

Por Vinícius Paiva

É amplamente sabido que em 04 de março passado o Flamengo publicou um edital onde convocava empresas de material esportivo interessadas em participar da licitação para patrocínio e fornecimento de material esportivo para o clube (http://mkt.flamengo.com.br/Documentos/Edital.pdf).

Eu confesso que sequer sabia que o estatuto do Flamengo exigia este tipo de procedimento, e acho temerário que no ano passado tenham divulgado com tanta pompa e circunstância que o Flamengo estava fechado com a Olympikus. Ora, se existe uma licitação, e se é possível que alguma outra empresa faça uma proposta mais vantajosa – o próprio vice-presidente Ricardo Hinrichsen disse que há outras fornecedoras interessadas – não me pareceu prudente divulgar que a Olympikus viria a ser nossa futura parceira.

No entanto, uma análise mais apurada do edital deixa claro que o anúncio da parceria Fla-Olympikus não se deu por acaso. O edital foi completamente redigido de modo a fazer com que a fornecedora brasileira seja a vencedora. Além de todos os trâmites burocráticos e cláusulas de direitos e obrigações, encontra-se na cláusula 5.2 a seguinte redação:

“5.2. Além dos valores relacionados no item anterior, o Patrocinador/Fornecedor do Flamengo deverá efetuar os seguintes investimentos adicionais:

a) Lojas oficiais (...) na sede social, bem como (...) outras dez lojas temáticas FlaShop nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com exceção de Brasília;


b) Museu na sede do Flamengo: o proponente se compromete a adiantar o valor mínimo de R$ 8.000.000,00 (oito milhões de reais), necessário para o custeio da construção do Museu Oficial do Flamengo (...).”

Vejam se não é EXATAMENTE tudo aquilo que a própria Olympikus afirmou que iria fazer? Acho bastante improvável que outra empresa, em plena época de recessão, se comprometa com qualquer investimento que não o fornecimento de material e o pagamento do valor a título de patrocínio.

Resumo da história: A Olympikus vem aí.

Trata-se se uma grande notícia para todos aqueles que, diante da falta de respeito e profissionalismo demonstrados pela Nike, passaram a boicotar os artigos da multinacional. Desde o começo do ano passado, quando agi movido pela emoção e comprei aquela terceira camisa com o escudo do remo, nunca mais comprei camisa alguma do Flamengo. E olha que eu sou um daqueles consumidores compulsivos por artigos do clube. Assim como eu, milhares de outros torcedores vem fazendo o mesmo, o que gera uma situação estranha, pois prejudica a Nike – que não vende- e o próprio Flamengo, que não ganha royalties.

Continuando a analisar o edital, chama a atenção outra exigência interessante, por mais que beire o óbvio ululante: o desenvolvimento de produtos voltados ao público feminino, infantil e “baby”, bem como modelos de tamanho extra-pequeno (EP), extra-grande (EG) e 3G (GGG – seja lá o que for isso!). Como eu disse, parece banal, mas nos últimos tempos vem sendo muito difícil conseguir artigos do Flamengo que não a tradicional camisa de jogo tamanho M ou G. Espero também que sejam produzidos artigos de outras modalidades esportivas, pois a demanda reprimida por camisetas do time de basquete é uma das maiores que eu já vi. Desde 2001, não vejo nenhuma dessas para a venda, e olha que nosso time de basquete vem conquistando o Brasil.

Outro tópico de destaque é o pagamento de bônus por performance – algo que, até onde eu sei, não consta nem mesmo no contrato de patrocínio com a Petrobrás, mas que já deveria ter sido instituído há tempos – e a proibição do “desabastecimento”, nos moldes em que ocorreu com a Nike em 2007, quando não se encontravam camisas do Flamengo em loja alguma no país. Relatórios mensais de venda por estado e cidade também deverão ser feitos, de modo a se conhecer o perfil de consumo e demanda da torcida do Flamengo.

Mas de tudo o que está presente no edital, o que eu mais achei importante veio na “Grade Anual Mínima de Material Esportivo”. No documento, há uma tabela que indica a quantidade mínima de cada tipo de material a ser fornecido – para os profissionais, divisões de base, outros esportes, etc. De um total de 106 mil peças, 29.816 serão destinadas ao... projeto sócio-torcedor!

O projeto sócio-torcedor é uma demanda antiga e que, no momento, pode ser vista como a ÚNICA tábua de salvação do Flamengo. Aqueles velhos e batidos exemplos dos clubes gaúchos (o Grêmio com seus mais de 40 mil sócios-torcedores e o Inter com espantosos 80 mil) servem de exemplo, pois os valores pagos pelas suas torcidas (torcidas bem menores que a nossa) cobrem integralmente a folha de pagamento dos mesmos, espantando o câncer dos salários atrasados, que há tanto tempo monopoliza as notícias do Flamengo. Informações veiculadas no blog “Olhar Crônico Esportivo” da semana passada dão conta de que, ao contrário dos gaúchos, que baseiam seu projeto na facilidade de acesso a ingressos, o projeto rubro-negro se baseará no fornecimento de brindes e materiais. Sendo assim, o Flamengo estaria muito bem acompanhado caso seja patrocinado pela Olympikus. Segundo afirmou em entrevista à revista “Máquina do Esporte” o executivo Tullio Formicola Filho, representante da Vulcabras (grupo a que pertence a Olympikus, e patrocinador de São Paulo e Internacional – via Reebok), a empresa não apenas patrocina um clube por patrocinar. A especialidade é a geração de um relacionamento profundo com o clube e seu torcedor, por meio de projetos e de lançamento de produtos. Seria a melhor maneira de fidelizar o torcedor e afagar o ego do clube.

Pra quem vem convivendo há anos com o descaso de uma empresa que arrota aos quatro ventos que é a maior de mundo mas que se comporta como uma de fundo de quintal, as expectativas são as melhores possíveis.

viniciuspaiva1@yahoo.com.br

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