Farinha pouca? Pirão inglês primeiro...
“Um encontro entre representantes do clube inglês Manchester United e da Petrobras está previsto para março. Na pauta estará o trabalho de marketing esportivo realizado pela maior equipe de futebol do mundo. O Manchester United realizou uma pesquisa com empresas de todo o mundo a fim de selecionar possíveis patrocinadores. Entre as companhias que interessaram ao clube está a Petrobras.”
Foi por meio destas palavras que a Petrobras informou ao grande público, em nota oficial, que estaria vislumbrando a possibilidade de patrocinar a “maior equipe de futebol do mundo”. Segundo se especula, os valores girariam em torno de 27 milhões de euros (R$ 81 milhões de reais), em substituição à seguradora americana AIG – atual patrocinadora do “Man Utd” - empresa em severas dificuldades por conta da crise mundial, (tendo inclusive amargado em 2008 o maior prejuízo da história corporativa mundial: mais de US$ 60 bilhões).
Mas peraí, como é que é?
1) Vinte e sete milhões de euros? Oitenta e um milhões de reais? Desde quando estatal brasileira tem que virar hospital de clube inglês que, mesmo rico, passa por dificuldades já que sua atual parceira não terá condições de arcar com o compromisso assumido? Este tipo de aporte de dinheiro público seria um verdadeiro escândalo.
Além do mais, não foi a própria estatal quem renegociou para baixo os valores do contrato com o Flamengo (que hoje não passam se míseros R$ 14 milhões anuais – US$ 6 milhões) por conta das dificuldades impostas pela crise mundial? Para o Flamengo, time brasileiro – onde se encontra o principal foco das operações da empresa – a pindaíba bate à porta, mas para torrar milhões de euros na Inglaterra, onde a empresa simplesmente não possui operações significativas, a fonte jorra?
Alguém pode dizer que se trata de uma estratégia de branding, a famosa “solidificação da marca” internacionalmente. Mas não faria mais sentido fazê-lo a custos menores e em atividades relacionadas ao escopo de suas operações (através de patrocínios no Brasil ou por meio de investimento em esportes motorizados)? Cabe deixar claro que a Petrobras encerrou suas participações na Formula-1 quando a equipe Honda abandonou o circo, ao final de 2008. Mesmo com a Honda já de volta, comprada por um outro grupo financeiro, a Petrobras continuou fora.
2) Maior equipe de futebol do mundo? Sob qual ótica?
Segundo a Fifa, o maior clube de todos os tempos, eleito pela premiação “Fifa Clubs of the 20th Century”, no ano 2000, é o Real Madrid (http://en.wikipedia.org/wiki/FIFA_Clubs_of_the_20th_Century). O Manchester United até ocupa um honroso segundo posto (o Mengão, claro, é top ten), mas ser vice é algo que os vascaínos sabem muito bem que não nos leva ao topo de coisa alguma.
Já em termos de finanças, dá-lhe Real Madrid. Segundo a consultoria britânica (isso mesmo, britânica) Deloitte, os merengues foram o clube mais rico do mundo em 2008, com orçamento de 365,8 milhões de euros, contra 324,8 milhões do... Manchester United! A lista com os 20 primeiros pode ser conferida em http://maquinadoesporte.uol.com.br/v2/noticias.asp?id=12270 . Não há, naturalmente, clubes brasileiros na mesma.
Já se formos considerar a quantidade de títulos como fator preponderante, o maior clube do mundo seria... Real Madrid (está ficando sem graça). O clube espanhol possui 9 títulos da Liga dos Campeões da UEFA, além de 3 títulos mundiais, contra 3 títulos da Champions League e 2 títulos mundiais dos “Diabos Vermelhos”. Nesta categoria, o Manchester é superado até mesmo pelo conterrâneo Liverpool.
Mas ainda existe um outro ponto de vista: em número de títulos internacionais, os dois maiores clubes do mundo seriam o Milan e o Boca Juniors, empatados com 18 conquistas cada. O United ocuparia uma modestíssima 18ª posição, com 7 títulos, empatados com o Cruzeiro, vejam vocês.
Por fim, se o critério para “maior equipe de futebol do mundo” for o tamanho da torcida (o que, no fim das contas, é a razão de ser e o maior patrimônio de um clube de futebol), todos estão cansados de saber que o maior do mundo é o Clube de Regatas do Flamengo e seus cerca de 33 milhões de torcedores. Segundo condensação de dados feita pela revista Mundo Estranho (não riam, esta reportagem rodou o mundo), o Manchester United teria apenas 4,2 milhões de torcedores na Inglaterra (http://mundoestranho.abril.com.br/esporte/pergunta_287914.shtml).
3) Que comportamento é este? A estatal brasileira sempre se notabilizou pela discrição com que lidava com todo tipo de negociação. Valores e condições contratuais fechadas com o Flamengo sempre estiveram amparados por cláusulas de confidencialidade, e nunca algum patrocínio, por mais internacional que fosse (como o fornecimento de gasolina para a equipe Williams de Formula-1), foi motivo de oba-oba. De uma hora para a outra, a empresa parece “brilhar os olhinhos” com a possibilidade de patrocinar um clube europeu, a ponto de inventar rótulos (como este de “maior equipe do mundo”) e se apressar a negar informações que davam conta de que não haveria acordo entre as partes.
Enquanto isso, na Gávea, tal qual um dos 12 Trabalhos de Hércules, os salários de dezembro (!) são quitados...
viniciuspaiva1@yahoo.com.br
“Um encontro entre representantes do clube inglês Manchester United e da Petrobras está previsto para março. Na pauta estará o trabalho de marketing esportivo realizado pela maior equipe de futebol do mundo. O Manchester United realizou uma pesquisa com empresas de todo o mundo a fim de selecionar possíveis patrocinadores. Entre as companhias que interessaram ao clube está a Petrobras.”
Foi por meio destas palavras que a Petrobras informou ao grande público, em nota oficial, que estaria vislumbrando a possibilidade de patrocinar a “maior equipe de futebol do mundo”. Segundo se especula, os valores girariam em torno de 27 milhões de euros (R$ 81 milhões de reais), em substituição à seguradora americana AIG – atual patrocinadora do “Man Utd” - empresa em severas dificuldades por conta da crise mundial, (tendo inclusive amargado em 2008 o maior prejuízo da história corporativa mundial: mais de US$ 60 bilhões).
Mas peraí, como é que é?
1) Vinte e sete milhões de euros? Oitenta e um milhões de reais? Desde quando estatal brasileira tem que virar hospital de clube inglês que, mesmo rico, passa por dificuldades já que sua atual parceira não terá condições de arcar com o compromisso assumido? Este tipo de aporte de dinheiro público seria um verdadeiro escândalo.
Além do mais, não foi a própria estatal quem renegociou para baixo os valores do contrato com o Flamengo (que hoje não passam se míseros R$ 14 milhões anuais – US$ 6 milhões) por conta das dificuldades impostas pela crise mundial? Para o Flamengo, time brasileiro – onde se encontra o principal foco das operações da empresa – a pindaíba bate à porta, mas para torrar milhões de euros na Inglaterra, onde a empresa simplesmente não possui operações significativas, a fonte jorra?
Alguém pode dizer que se trata de uma estratégia de branding, a famosa “solidificação da marca” internacionalmente. Mas não faria mais sentido fazê-lo a custos menores e em atividades relacionadas ao escopo de suas operações (através de patrocínios no Brasil ou por meio de investimento em esportes motorizados)? Cabe deixar claro que a Petrobras encerrou suas participações na Formula-1 quando a equipe Honda abandonou o circo, ao final de 2008. Mesmo com a Honda já de volta, comprada por um outro grupo financeiro, a Petrobras continuou fora.
2) Maior equipe de futebol do mundo? Sob qual ótica?
Segundo a Fifa, o maior clube de todos os tempos, eleito pela premiação “Fifa Clubs of the 20th Century”, no ano 2000, é o Real Madrid (http://en.wikipedia.org/wiki/FIFA_Clubs_of_the_20th_Century). O Manchester United até ocupa um honroso segundo posto (o Mengão, claro, é top ten), mas ser vice é algo que os vascaínos sabem muito bem que não nos leva ao topo de coisa alguma.
Já em termos de finanças, dá-lhe Real Madrid. Segundo a consultoria britânica (isso mesmo, britânica) Deloitte, os merengues foram o clube mais rico do mundo em 2008, com orçamento de 365,8 milhões de euros, contra 324,8 milhões do... Manchester United! A lista com os 20 primeiros pode ser conferida em http://maquinadoesporte.uol.com.br/v2/noticias.asp?id=12270 . Não há, naturalmente, clubes brasileiros na mesma.
Já se formos considerar a quantidade de títulos como fator preponderante, o maior clube do mundo seria... Real Madrid (está ficando sem graça). O clube espanhol possui 9 títulos da Liga dos Campeões da UEFA, além de 3 títulos mundiais, contra 3 títulos da Champions League e 2 títulos mundiais dos “Diabos Vermelhos”. Nesta categoria, o Manchester é superado até mesmo pelo conterrâneo Liverpool.
Mas ainda existe um outro ponto de vista: em número de títulos internacionais, os dois maiores clubes do mundo seriam o Milan e o Boca Juniors, empatados com 18 conquistas cada. O United ocuparia uma modestíssima 18ª posição, com 7 títulos, empatados com o Cruzeiro, vejam vocês.
Por fim, se o critério para “maior equipe de futebol do mundo” for o tamanho da torcida (o que, no fim das contas, é a razão de ser e o maior patrimônio de um clube de futebol), todos estão cansados de saber que o maior do mundo é o Clube de Regatas do Flamengo e seus cerca de 33 milhões de torcedores. Segundo condensação de dados feita pela revista Mundo Estranho (não riam, esta reportagem rodou o mundo), o Manchester United teria apenas 4,2 milhões de torcedores na Inglaterra (http://mundoestranho.abril.com.br/esporte/pergunta_287914.shtml).
3) Que comportamento é este? A estatal brasileira sempre se notabilizou pela discrição com que lidava com todo tipo de negociação. Valores e condições contratuais fechadas com o Flamengo sempre estiveram amparados por cláusulas de confidencialidade, e nunca algum patrocínio, por mais internacional que fosse (como o fornecimento de gasolina para a equipe Williams de Formula-1), foi motivo de oba-oba. De uma hora para a outra, a empresa parece “brilhar os olhinhos” com a possibilidade de patrocinar um clube europeu, a ponto de inventar rótulos (como este de “maior equipe do mundo”) e se apressar a negar informações que davam conta de que não haveria acordo entre as partes.
Enquanto isso, na Gávea, tal qual um dos 12 Trabalhos de Hércules, os salários de dezembro (!) são quitados...
viniciuspaiva1@yahoo.com.br
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