terça-feira, 10 de março de 2009



Alfarrábios do Melo






Copa do Brasil 1990 (final)
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Olá, saudações rubro-negras a todos. Segue a última parte da história da conquista da primeira Copa do Brasil, em 1990. O Flamengo, que vivia uma transição, tinha uma equipe que, apesar de MUITO limitada, soube honrar as tradições do clube (o que o time atual anda precisando).
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Boa leitura,
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1990. O Flamengo estava nas quartas-de-final da Copa do Brasil, torneio criado pela CBF no ano anterior. Seu adversário seria o Bahia, que havia, contra todos os prognósticos, eliminado o favorito Botafogo. No meio da competição, o clube perdera Leonardo e Alcindo, negociados para o São Paulo por empréstimo, em troca do meia Bobô e do experiente lateral Nelsinho.
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Vem o jogo contra os baianos. Já sem Leonardo e sem poder ainda aproveitar Nelsinho, o treinador Jair Pereira recorreu ao garoto Piá, campeão da Copa SP, de quem se esperava bastante. Um público de cerca de 25 mil pessoas (considerado excelente) acompanhou o Flamengo surpreender e tomar a iniciativa da partida, com forte marcação e saídas rápidas pro ataque. O time foi melhor o tempo todo, abriu o placar (Zinho escorando escanteio), logo depois sofreu o empate, e depois cozinhou o jogo com notável competência. Ainda teve gol mal anulado, o que ocasionou a expulsão do irrequieto Renato Gaúcho. No final, o 1-1 estava de bom tamanho.
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O jogo de volta foi marcado para o Estádio de Juiz de Fora, que o Flamengo utilizava com freqüência na época. Seja pela ressaca da eliminação do Brasil na Copa, seja pela desconfiança com o time, seja pela péssima divulgação, o fato é que a Copa do Brasil não “pegava”, e seus jogos tinham pouco apelo de público, especialmente no Sudeste.
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E foi diante de 7 mil pessoas que o Flamengo fez sua pior partida na competição. Esperto, Jair Pereira não caiu na armadilha do treinador do Bahia, Candinho (mestre em contragolpes), e não mandou o Flamengo à frente. Era o tal “regulamento debaixo do braço”, “futebol competitivo”, herança maldita da Copa. Além disso, Renato Gaúcho desfalcava a equipe, que perdia profundidade no ataque, com dois atacantes fixos (Bujica e Gaúcho). O resultado foi um jogo horroroso, cheio de desarmes e faltas, ajudado por um gramado ruim. O destaque da partida foi o volante Delacir, o que ajuda a explicar a qualidade do jogo. A equipe só melhorou um pouco com a saída do inoperante Djalminha para a entrada de Ailton, que deu mais movimentação ao setor ofensivo, e acabou recompensado com o gol da vitória, de cabeça após cruzamento de Piá (que começava a agradar), já perto do fim do jogo. Apesar das vaias, o Flamengo chegava às semifinais.
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Esperava-se uma semifinal entre São Paulo e Atlético-MG, o que seria promessa de uma final sensacional. Mas a zebra pastava alegre. O tricolor paulista caiu diante do Criciúma, levando 2-0 em SC e não conseguindo reverter no Morumbi (1-0). Já o Galo não superou a retranca do Goiás em casa (0-0) e, na melhor partida do torneio, foi eliminado pelo alviverde em um jogo espetacular, que terminou 4-3. Assim, o Flamengo era a única grande força ainda viva na competição, e se chegasse à Final enfrentaria Criciúma ou Goiás. Os caminhos para a Libertadores se abriam. Mas primeiro o time deveria enfrentar o perigoso Náutico nas semifinais.
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Nesse entretempo, começa o Brasileiro, e o Flamengo faz uma campanha ruim. Jair Pereira conseguia montar uma equipe com boa marcação, aplicada taticamente, mas de reduzido poder ofensivo. Dos novos reforços, Nelsinho havia feito péssima partida na estréia (onde foi expulso). Logo depois, sofreu séria contusão e ficou afastado alguns jogos, o suficiente para perder a posição para o limitado, mas vigoroso Piá. Já Bobô (que fora recebido com muita festa na apresentação) parecia sentir a pressão de atuar no Flamengo. Era jogador sensível, de temperamento complicado (mesmo no Bahia, onde era rei, vivia altos e baixos e chegou a ser barrado). Enquanto isso, Leonardo brilhava e era um dos melhores do São Paulo...
Enfim, chegam as semifinais, após pausa de dois meses. A Copa do Brasil já começava a ser tratada como a salvação da temporada, em função da péssima campanha no Brasileiro (que já vinha pela metade). Então, o jogo contra o Náutico foi encarado com muita seriedade. A boa equipe pernambucana, do folclórico artilheiro Bizu, era muito difícil de ser batida no acanhado estádio dos Aflitos, e vinha sendo a revelação do Brasileiro, com várias vitórias em casa. Assim, era fundamental que o Flamengo conseguisse uma boa margem no Maracanã (que seria utilizado pela primeira vez na Copa do Brasil).
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E assim ocorreu. Jogando com muita concentração, encurralando o adversário e com Bobô (finalmente) num bom dia, o Flamengo não teve dificuldades para tocar 3-0, em jogo onde perdeu muitos gols. Mas, mesmo com a boa vantagem, o jogo de volta preocupava.
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A apreensão maior dos dirigentes e comissão técnica nem era com a classificação. Todos sabiam que dificilmente o Náutico faria quatro gols no Flamengo. A questão era o clima de guerra que já começava a ser criado para o jogo. Falava-se em “honra do futebol pernambucano”, a história de 1987 voltava a ser lembrada, a idéia era transformar o jogo num inferno para os visitantes. O Flamengo tentou transferir a partida para o Arruda, em nome da segurança, sem sucesso. Mas foi aí que um golpe de sorte tornou as coisas muito mais amenas pro rubro-negro.
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É que a tabela do Brasileiro, coincidentemente, marcou, justamente para a semana do jogo decisivo, uma partida entre Náutico e Flamengo em Recife. Isso amenizou brutalmente a pressão sobre o time, que chegou antes a Pernambuco, fez uma dura partida no sábado, pelo Brasileiro (empate em 0-0, que desanimou os locais), e assim pôde, na quarta-feira, jogar mais ambientado ao “inferno”. O clima de “Batalha dos Aflitos” havia se arrefecido. A equipe chegou a tomar um gol, mas virou o jogo e dominou amplamente a partida, perdendo gols incríveis. O castigo foi o gol de Bizu no finalzinho, que decretou o 2-2. O Flamengo estava na Final.
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O adversário? Como era esperado, o Goiás bateu o Criciúma (em dois jogos duríssimos, a decisão acabou nos pênaltis) e se classificou para as finais. O time era certinho e equilibrado, com destaques para os laterais Wilson Goiano e Lira, o meia Luvanor e o devastador ataque formado por Niltinho, Agnaldo e pelo garoto Túlio. E chegava à final tendo eliminado Atlético-MG e Cruzeiro. Muitos apressados chegavam a apontar os goianos como favoritos.
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Mas do outro lado estava o Flamengo. Um time com problemas, especialmente na criação do meio-campo e na lateral-direita, mas com forte poder de marcação e bastante solidário. Os garotos da base ainda não tinham muito espaço, mas já começavam a ser aproveitados, como Djalminha, Marquinhos e Nélio, além do já citado Piá. E, no primeiro jogo da final, disputado em Juiz de Fora (o Maracanã havia sido interditado), o Flamengo mostrou sua tradicional face guerreira. Atuando com muita raça, a equipe superou suas limitações e conseguiu arrancar uma vitória por 1-0, em gol de cabeça de Fernando escorando cobrança de falta de Djalminha. Fernando finalmente justificava a fama de zagueiro-artilheiro (construída no Vasco) e marcava um gol importantíssimo. O Goiás tentou, perturbou, mas não conseguiu furar o bloqueio muito bem montado por Jair Pereira. No fim, 1-0 e tudo aberto para a decisão em Goiânia.
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Para a finalíssima, Jair Pereira armou o time com uma postura parecida com a do jogo em Salvador (no empate com o Bahia). Surpreendeu o adversário, com uma marcação forte e mais adiantada. Era a primeira vez que o Goiás enfrentava um oponente tão ousado em sua casa (público de 45 mil, a maioria rubro-negra). O Flamengo mostrava quem era o time grande, impunha todo o peso da mística da camisa. E, atuando com muita raça, o time controlou a maior parte do jogo, criou algumas chances e poderia inclusive ter vencido. O festejado Túlio teve atuação apagada, engolido pelos vigorosos Fernando e Vítor Hugo. Renato, um dos melhores em campo, foi um tormento constante para o adversário. Júnior voltava a ser um gigante em decisões. Ailton (improvisado de lateral) e Zinho eram os motores do meio, e Uidemar finalmente voltava a jogar bem (ironicamente contra seu ex-clube).
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Final de jogo, 0-0. O Flamengo era o campeão da Copa do Brasil em 1990. Mérito para uma equipe que não vivia bom momento, mas soube aproveitar a oportunidade que a competição lhe deu, e tirar proveito com raça e determinação (só sofreu UM gol em casa).
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Foi o primeiro título conquistado após o fim da Era Zico.
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Flamengo 1-0 Goiás:
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Goiás 0-0 Flamengo:

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