sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

COLUNA DE SEXTA-FEIRA - André Monnerat

Como contornar o perrengue olímpico

O ano começou com o pessoal se dando conta: não há dinheiro na Gávea. Isso se reflete no elenco do futebol, sem os reforços que muita gente esperava. Mas, ao que parece, está batendo mais forte nos esportes amadores, onde Patrícia Amorim e companhia vão passando perrengue para cortar o orçamento e fazer os gastos caberem na contabilidade precária do clube. Chegou a se falar no fim do basquete e da ginástica olímpica, as duas modalidades que mais visibilidade tiveram no clube nos últimos anos.


Seria mesmo triste se o basquete fechasse suas portas, ou mesmo viesse enfraquecido demais, justamente em 2009. É um ano em que o esporte tem tudo para ter um grande crescimento no Brasil, com uma nova liga sendo formada - é bom lembrar que o Brasileiro que o Flamengo venceu no ano passado não contava com os times paulistas, que agora participarão do campeonato reunificado. O contrato com a TV melhorou muito em seu valor e a competição deve até ganhar espaço na TV aberta,  Rede Globo. Ficar de fora disso, depois de ter sido campeão nacional e vice do continente no ano anterior, seria realmente lamentável.

Diante das dificuldades para viabilizar as equipes de basquete, futsal, ginástica, vôlei, judô e por aí vai, Márcio Braga partiu para uma solução comum nesta sua passagem pela presidência: chorar em público. "Estes esportes não dão retorno, o governo não ajuda". Será possível que um time campeão brasileiro de basquete, com jogos transmitidos nas duas principais emissoras esportivas de TV por assinatura e perspectivas de estar com destaque na Globo ao longo do ano, não tem como dar retorno mesmo? Se o clube que tinha Diego Hipólito sob contrato, em um ano em que era favoritaço a uma medalha de ouro olímpica e todo mundo só falava nele, não conseguiu capitalizar em nada com isso, a culpa é de quem?

Mas bem. Fala-se que o contrato com a Petrobras terá seus valores reduzidos e, por isso, os esportes amadores sofrerão. Fica a pergunta: o acordo então finalmente vai liberar os outros esportes do clube para procurarem seus próprios patrocinadores?

Se isso acontecer, Márcio Braga e companhia - incluindo outros que estejam pensando em concorrer à presidência no fim do ano - podem começar a trabalhar na solução para financiar estas equipes. O caminho já é conhecido no clube; é o mesmo que estão buscando para finalizar o Ninho do Urubu. A Lei de Incentivo ao Esporte está aí mesmo pra isso - no duro, ela foi pensada muito mais para financiar as modalidades olímpicas do que pra ajudar clube de futebol a fazer CT. Que se preparem os projetos, se apresente ao Ministério e, em 2010, coloque-os debaixo do braço pra passar de porta em porta pedindo dinheiro. Não acho que vá ser difícil arrumar empresas dispostas a associar sua marca ao Flamengo sem gastar nada - é dinheiro que elas pagariam de impostos e, em vez disso, investirão em uma instituição popular, ganhando exposição de suas marcas em troca.

Infelizmente, não se pensou nisso em 2008, não se negociou o contrato com a BR pensando nisso com antecedência, não se apresentou projeto nenhum ao Ministério. Então, para este ano, vai ficar difícil. Mas acreditem: é ano de eleição e ninguém vai querer desagradar um sem-número de sócios ligados a todas essas modalidades às vésperas da votação. Alguma fórmula mágica vai aparecer.


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É bom dizer: eu sou a favor de que o clube continue se mantendo como poliesportivo, trabalhando as modalidades olímpicas. Penso isso não só em termos de equipes de alto rendimento, mas olhando a coisa pelo lado social mesmo. Acho que o clube tem muito a oferecer à sociedade neste campo, e isso seria bom pra todos e pro próprio Flamengo. E há múltiplas maneiras de pensar em parcerias com empresas e com o próprio Estado para agir nessa linha, fora a própria Lei de Incentivo ao Esporte. Eduardo Paes, por exemplo, já anunciou a intenção de fazer os alunos da rede pública usarem instalações de clubes para praticarem esportes. Essa idéia já poderia ter partido do próprio Flamengo, que afinal vive enrolado com dívidas tributárias, há muito tempo.

Mas também sou a favor de que se procure uma maneira do resto do clube, off-futebol, se sustentar. É óbvio que a idéia de que os problemas financeiros do clube vêm do social e dos esportes amadores não é exatamente verdadeira - é só pensar no tamanho do orçamento do clube pra essas áreas pra perceber que a explicação para a dívida monstruosa atual do Flamengo não vem daí. Mas, mesmo assim, não faz sentido que o futebol precise construir todo o resto. É só uma questão de não se amarrar a contratos sem sentido e saber procurar a maneira de cada área gerar sua receita. A marca Flamengo tá aí pra isso.

André Monnerat é profissional de marketing em Internet, já jogou muito basquete, enganava no pólo aquático e também escreve no SobreFlamengo.

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