segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

COLUNA DE SEGUNDA-FEIRA - Herminio Correa

Virando a página

Ontem, pouco depois do jogo, ainda nas cadeiras da Arena um amigo virou e perguntou:

“Hermínio, você tá puto né?”

Refleti por alguns minutos até ser interrompido por um PM me “convidando” a conhecer a porta de saída do estádio. E nesse meio tempo conclui que não, não era por aí minha insatisfação.

Acho que toda e qualquer raiva que eu poderia sentir do Flamengo nesse ano foi se diluindo com os seguidos vexames aos quais nós, torcedores, fomos expostos.

E percebi que de alguma maneira o que eu sinto nesse momento é resignação, palavra definida pelo “pai dos burros” em sua versão Michaellis da seguinte forma:

1 Ato ou efeito de resignar ou resignar-se. 2 Cedência voluntária. 3 Demissão voluntária da graça recebida ou do cargo exercido; renúncia. 4 Sujeição paciente às amarguras da vida; conformação com a dor física ou moral; paciência no sofrimento.

Foi melancólico, ridículo, frustrante. Bem disse nosso lateral Juan ao afirmar – ele sim puto - que “cada time tem o que merece. Nós tivemos o que merecemos”. Sim, esse Flamengo mereceu ficar fora da disputa do título e, não sendo bastante, também agora fora da Libertadores.

E talvez só agora, com o final da temporada, todos os podres enterrados, escondidos, venham à tona e nos convençam que realmente não havia um desfecho mais coerente do que esse. Há muitas histórias mal contadas que foram acumulando no decorrer do ano, mas isso talvez seja assunto mais coerente para as próximas semanas. Certo é que não deixaremos passar em branco os boatos (ou verdades?) de racha no elenco, noitadas, bebedeiras antes de jogos importantes, regalias em excesso, etc. Diria que o ventilador foi ligado, não demora a jogarem a “dita cuja”.

Lógico que com tantos erros assim só podemos concluir que 2008, para o futebol do Flamengo, foi uma “dita cuja”, vulgo merda.

Na moral, nem sei qual vergonha queima mais a cara nesse momento. Se a de um time que nadou, nadou, desistiu de nadar e morreu vendo a praia ou a de ontem já não mais poder cantar “Vamos Flamengo, vamos ser campeão” – fala sério, incoerência assim só se fosse para fazer a galera rir um pouco -, ou a de ter acreditado no Flamengo na Libertadores mais uma vez ou ainda aquela, sarcástica, de ver nosso maior rival (rival?) na série B 2009.

Qualquer seja a minha e a sua vergonha nesse fim de campeonato ela retrata exatamente a diferença entre o que esperamos do Flamengo e aquilo que ele tem sido. Isso porque existe um Flamengo que leva gente para fazer festa nos saguões de aeroportos, foguetório nas portas de hotéis, festas nos estádios, sempre quebrando recordes de público: O Flamengo das multidões, do povo. Aquele Flamengo que trouxe ontem desde Montevideu (isso, tá lendo direito, Montevideu no Uruguai) uma família inteira esperançosa por rever o clube na Libertadores.

Mas há o outro Flamengo da má administração, da ganância, da falta de estrutura, do atraso de salários, do amadorismo, das regalias, da irresponsabilidade e inconseqüência, o Flamengo que tem história e conquistas de time grande, mas mentalidade de time medíocre.

O Brasileiro acabou, 2009 vem aí. Precisamos reconstruir o Flamengo que, com certeza, eu e você queremos. Senão nossa rouquidão após cada partida continuará a ser em vão. E só para lembrar, a senha da fila cronológica agora é a 17.

Até segunda e saudações rubro-negras, sempre!

Flamengo Net

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