quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
COLUNA DE QUINTA-FEIRA - Raphael Perret
Superações de uma diretoria
Em apenas dez dias, desde o último dos muitos vexames de 2008, o Flamengo conseguiu produzir quatro assuntos polêmicos.
1) Adriano
Por que o Flamengo acha que Adriano, ao domiciliar-se em sua terra natal, reencontrar os velhos funcionários da Gávea e vestir rubro-negro, vai resolver todos os seus problemas e voltar a ser o poderoso "Imperador" que lhe valeu vaga de titular na seleção brasileira? O que há de tão especial no "projeto" do Flamengo que não havia no Inter de Milão e no São Paulo e que, agora, vai solucionar a vida do jogador e, conseqüentemente, ajudar no desempenho do nosso time em 2009?
Apesar de todas as decepções deste ano, o Flamengo é o quinto melhor time do Brasil e conseguiu ficar 10 pontos à frente do sexto lugar no Brasileiro. O time precisa de alguns ajustes pontuais e de um técnico que enxergue as carências com mais clareza. O Flamengo não necessita de um jogador difícil e que atrai, negativamente, os flashes da imprensa. Trazer Adriano é uma aposta de alto risco e o momento não é de apostas. É de certezas.
E, agora, falam em Carlos Alberto... Francamente. É melhor a diretoria vir a público dizer: "Torcedores, nosso objetivo é tornar o caminho do Flamengo muito problemático. Aumentar o disse-me-disse, criar um ambiente confuso e deslocar a discussão técnica para a fofoca". Seria mais honesto e transparente.
2) Ronaldo
Próximo, por favor.
3) Cuca
Então o Flamengo contratou o técnico-ídolo da crônica esportiva brasileira. Os comentaristas devem ter adorado. Eu tenho minhas reservas.
Elogia-se muito o trabalho do Cuca. Dizem que é bom técnico. Não é dos piores. Concordo que avaliá-lo pela quantidade de títulos (que é zero) não é o melhor critério. Pelos resultados, sim. Alguns de seus feitos:
- Tirou o Goiás da lanterna em 2003 e colocou-o em nono lugar.
- Conseguiu levar o São Paulo à semifinal da Libertadores de 2004.
- Assumiu o Botafogo no segundo semestre de 2006 e foi vice estadual nos dois anos seguintes. Na Copa do Brasil, foi eliminado nas semifinais em 2007 e 2008 (melhorou o desempenho do time, que havia sido eliminado na segunda fase nos três anos anteriores). No Brasileiro, terminou em 12º lugar em 2006 e em 9º lugar em 2007 (o time, sem Cuca, havia sido 9º lugar em 2005, com mais times em disputa).
- Assumiu o Santos no Brasileiro de 2008 e teve 3 vitórias, 4 empates e 7 derrotas.
- Assumiu, em seguida, o Fluminense no mesmo torneio e conseguiu 2 vitórias, 5 empates e 2 derrotas.
Diante de uma performance recente tão mediana e desanimadora como essa, espanta que o Flamengo tenha contratado Cuca. Ousadia parece ser uma palavra distante da Gávea.
(Aliás, a imprensa, que, dizem, é "flamenguista", adorou quando Parreira recusou convite do Flamengo. Como a negativa ocorreu dias depois da ida de Ronaldo para o Corinthians, a mídia explorou, na base da chacota, o novo "não" que o Rubro-Negro recebeu. Casos bem diferentes, já que a Parreira foi feita uma proposta, que poderia ser aceita ou não. Deu a segunda opção)
4) Tri estadual
Depois de ficar no pelotão de cima o Brasileiro inteiro, de participar de duas Libertadores seguidas e de ser campeão da última Copa do Brasil que disputou, o Flamengo, através de sua diretoria, já anunciou as diretrizes de seu "planejamento" para 2009 e uma delas é... priorizar o tri estadual no primeiro semestre.
Em outras palavras:
a) A Copa do Brasil não é relevante. Afinal, se a prioridade é o Estadual e as duas competições são disputadas simultaneamente...
b) A diretoria só vai pensar no Brasileiro quando ele estiver bem perto. Em vez de se discutir a montagem de um elenco forte para a competição mais importante do ano, que poderia causar bons efeitos já no Estadual, visto que os times adversários estão se desfazendo, a diretoria prefere apostar as fichas em um torneio que começará em menos de um mês e com os jogadores vindo de férias. Se, no fim de 2009, conquistarmos o hexa, dirão que foi "tudo planejado". Muita ingratidão com São Judas Tadeu.
Priorizar o tri estadual é fazer marketing barato, pensar pequeno, assumir o amadorismo, fazer demagogia, jogar pra galera. E a galera gosta.
Feliz Natal e um próspero Ano Novo a todos.
***
"'Márcio Braga foi o nosso Juscelino Kubitschek'(...)'O Flamengo tornou-se um clube moderno, o único em que o futebol é realmente profissional'".
"'Viajo bastante, mas só por aeroportos, hotéis e estádios', reclama o goleiro. Ele permanece em campo por achar que, no Flamengo, vale a pena viver futebol".
"'O Flamengo trocou a correria por jogadas simples e de conjunto', resume. 'Não somos nós que corremos: agora, é a bola que rola'.Essa fórmula, tão antiga quanto o futebol, contribui para que um bando de temperamentos distintos pareça um harmonioso grupo de amigos. Antes de cada jogo, os onze craques dão-se as mãos e formam um círculo, numa imagem de perfeita coesão."
"Fiel às mudanças ocorridas no time principal, a escolinha flamenguista atualizou seu currículo e agora martela aos ouvidos de seus alunos lições subscritas por mestres como Zico. 'Há poucos anos, quando um jogador saía driblando, era logo chamado de irresponsável', lembra o ídolo rubro-negro. 'No Flamengo de hoje, o drible deixou de ser um pecado, a bitola acabou. É por isso que estamos ganhando.' Em coro, arquibancadas e gerais dizem amém - e o país do futebol pede que o exemplo frutifique".
Em itálico, estão as citações. As duas primeiras são de Raul Plassmann. A terceira é de Tita. E todos os trechos são da reportagem "A explosão do supertime do Flamengo", com o subtítulo "O esquadrão rubro-negro vai ao Japão disposto a mostrar que joga o melhor futebol do mundo", de José Castello, publicada em 2 de dezembro de 1981 numa revista que, tradicionalmente, aborda futebol apenas em Copas do Mundo: a Veja, que disponibilizou todo o seu acervo em formato digital, com direito a busca e visualização da revista como ela era, incluindo os anúncios publicitários. Procure por esta edição e delicie-se com uma época que jamais se reproduzirá.
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