Muito tem se falado sobre a profissionalização do futebol do Flamengo, a sua separação da parte social do clube, a criação de uma empresa em moldes modernos, pereré-pão-duro. É ponto pacífico que sem a profissionalização do futebol o Mengão corre perigo esportivo, isto é, pode ficar pra trás em relação aos outros clubes. Mas será que temos mesmo que virar uma empresa? É uma boa conhecer o outro lado da moeda, uma outra visão sobre a questão. Marcio Braga disse em entrevista recente que o Flamengo correu risco sério de fechar as portas em 2004. Ele não estava exagerando, por falta de dinheiro o Mengão quase foi pro ovo. Salvou o Mengão um acordo de renegociação de dívida trabalhista urdido no TRT por dois juízes rubro-negros, José Saba e Marcelo Antero de Carvalho. Um deles escreveu uma carta pro grande Maestro Junior. A carta está aí pra você ler também.
Caro Junior,
Primeiramente desejo a você e a todos os seus um Feliz Natal.
Segundamente, li, com interesse, o que você falou a jornalistas sobre a possível candidatura do Leonardo à Presidência do CRF.
Realmente, é para ontem a instauração de um regime efetivamente profissional no CRF, no que tange à administração, seja em relação ao futebol, seja em relação aos demais departamentos, inclusive o social.
É impensável que quem almeje ser Presidente do CRF pense exclusivamente em como deve ser gerido o futebol, ainda que esse (futebol) seja o nosso carro chefe.
Administrações falhas têm contribuído sobremaneira para que ocorra uma dicotomia esdrúxula, qual seja, que o Flamengo (futebol) é uma coisa e o Clube de Regatas do Flamengo seja outra.
A própria mídia trata o Flamengo como sendo da torcida, olvidando que este Flamengo é o Clube de Regatas do Flamengo, com toda a sua centenária história, escrita por seus associados!
O Clube de Regatas do Flamengo (e o Flamengo, portanto) pertence aos seus associados, que o construíram.
Nossa torcida, a Nação Rubro Negra (à qual pertenço), é de suma importância, mas nasceu a partir do Clube de Regatas do Flamengo! É importante isso ser ressaltado sempre!
O regime no CRF é presidencialista e, portanto, a implantação de todo tipo de profissionalismo depende exclusivamente da vontade política de quem detenha o poder.
Ser profissional não depende, necessariamente, de ser empresa. Estão aí os exemplos do São Paulo e do Barcelona, ambos geridos com profissionalismo, a despeito de não serem empresas. E quem manda nestes clubes? Presidentes amadores, auxiliados por Vices também amadores!
O Zico (como sempre) foi muito feliz quando disse que a Gávea está uma tristeza e que era maravilhoso, nos sábados, ver os associados, com suas famílias, desfrutando daquele espaço, o que, atualmente, é impensável.
Concordo quando você diz que mudanças radicais fazem-se necessárias, mas, observo, sempre respeitando a história do Maior do Mundo, o Clube de Regatas do Flamengo.
A dívida atual do CRF é tão grande que, se se transformar em empresa, abrirá falência no dia seguinte. Não é possível constituir uma empresa que agregue a parte boa (o futebol), deixando com os associados a parte ruim. Legalmente isto é impensável.
Ao depois, como empresa, perderá uma série de benefícios fiscais que detém como associação sem fins lucrativos.
Sendo presidencialista o regime, repito, é possível dirigir o futebol com autonomia, desde que haja profissionais em postos chaves, profissionais remunerados e capazes, sob as ordens dos Presidente e Vices amadores, mas que pensem e ajam como profissionais. E existem, no CRF, associados amadores capazes de pensar e agir como profissionais.
De todo modo, é sempre bom sabermos que há possibilidade de o CRF (e não apenas o Flamengo-futebol) poder contar com um executivo capaz e com experiência, como o Leonardo, a despeito de a experiência dele ter sido adquirida em “mundo” outro, com cultura e economia diferentes das nossas, o que não invalida esta possibilidade, pois, sendo um cara inteligente, saberá adaptar-se a nosso “mundo”, à nossa cultura.
Outro dia, conversando com o Presidente Márcio Braga, disse-lhe que a idéia do FLA-FUTEBOL foi correta, apenas que foi mal implementada, pois que atropelou a nossa Lei Maior, qual seja, o Estatuto, além de não ter contado com pessoas efetivamente capazes, salvo raríssimas exceções, dentre as quais o incluo. Disse-me ele que errou no timing.
Faço parte de um grupo de associados que tem contribuído positivamente para o CRF, desapegados que somos de exercer necessariamente qualquer cargo, e sempre estaremos dispostos a conversar em prol do CLUBE DE REGATAS DO FLAMENGO.
Por fim, é com extremada alegria que posso sempre bradar aos quatro cantos que o Dida, o Zico, o Junior, o Leandro, o Adílio, o Andrade e tantos outros são e serão sempre nossos ídolos.
Um beijo grande no fundo de seu coração e SRN.
Zé (Saba)
Mengão Sempre
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