terça-feira, 4 de novembro de 2008


COLUNA DA TERÇA-FEIRA - Alexandre Lalas


Apenas um bom treinador


Caio Junior não é mau técnico. É um cara sério, estudioso, conciliador, educado e competente. Não fosse, em sua curta carreira não conseguiria chegar a uma Libertadores treinando o Paraná, nem ficar no pelotão da frente dirigindo Palmeiras e Flamengo, em seus três campeonatos brasileiros como treinador. Isso é indiscutível. Como também é indiscutível o fato de Muricy Ramalho ter vencido os dois últimos campeonatos (poderiam ter sido três, caso o Inter não tivesse sido escandalosamente garfado em 2005) e estar na boca pra ganhar mais um. Aí está a diferença. Se o Flamengo quiser investir no amadurecimento profissional de Caio Junior, mesmo que isso custe um título fácil como este brasileiro, tudo bem. Tenho poucas dúvidas de que, em algum tempo, Caio Junior será um dos melhores técnicos do Brasil. Mas se o Flamengo quiser ganhar campeonatos importantes, e não apenas disputar uma vaga na LIbertadores, é bom pensar melhor para o ano que vem.

A diferença é clara. Como bem lembrou meu amigo Vinicius Valente, Muricy respira o futebol. Pensa no São Paulo 24 horas por dia. Analisa adversários, observa jogadores e treina o time com uma dedicação espartana. Chega a ser chato. Para quem trabalha ao seu lado, fica complicado não trabalhar com afinco. O exemplo que vem do treinador é obrigado a ser seguido. Isso se reflete em campo. Mesmo sem brilho, o time de Muricy está na liderança. Enquanto todos os outros alternam brilho intenso com tropeços inexplicáveis, o time de Muricy avança. Errando o menos possível. E não são os jogadores. Antes, eram Mineiro e Josué. Depois, Aloísio, Breno, Alex Pirulito, Richarlyson. Agora, Hernanes é o cara da vez. Daqui a pouco ele será vendido, mas o time de Muricy seguirá adiante. Fosse Muricy o técnico do Flamengo, eu não tenho a menor dúvida em afirmar que já estaríamos encomendando o chope e preparando a festa do hexa.

Voltando a nossa realidade, Caio Junior faz um bom trabalho. Mas errou muito também. Errou ao não conseguir recuperar Jonatas. Ao demorar a acertar o time depois das vendas de Renato Augusto, Marcinho e Sousa. E errou principalmente em seguir mantendo o time recheado de volantes com a furada desculpa de proteger os avanços dos alas. Discordo de meu bom amigo Juan, que escreveu, com a competência de sempre, um texto pregando o fim deste esquema. Errado não é jogar com dois alas ofensivos. Mas ser refém deles. Jogar com os dois, mais Jaílton como terceiro zagueiro, Toró como primeiro volante, e Ibson e Kléberson como meias, é burrice, estupidez. Facilita a marcação adversária. Fica muito pouca gente na frente, o que diminui o espaço de que tanto precisam os nossos alas. Dois zagueiros e dois volantes, sendo que um deles, DE VEZ EM QUANDO, faça às vezes de terceiro zagueiro, é MAIS DO QUE SUFICIENTE para cobrir os avanços dos laterais. Desde que o time tenha uma rápida reposição defensiva, como tem o São Paulo, o time do Muricy.

Se tivéssemos jogado o campeonato inteiro com este esquema (dois zagueiros; um volantão para fazer o terceiro zagueiro, poderia ser Jaílton, Toró, Aírton ou Christian; dois volantes-meias, jogando mais à frente, Ibson, Kléberson, Fierro e Jonatas podem fazer este papel; pelo menos UM meia, como foram Renato Augusto, Marcinho, Diego Tardelli, Everton, Sambueza, Erick Flores ou mesmo Marcelinho Paraíba; e dois atacantes), a história poderia ter sido outra. Jogamos assim em 13 partidas neste campeonato. No primeiro turno, vencemos Internacional (2x1, Marcinho no meio, Tardelli e Sousa no ataque), Fluminense (1x0 Marcinho no meio, Tardelli e Sousa no ataque), Figueirense (5x0, Marcinho no meio, Maxi e Sousa no ataque), Ipatinga (3x1, Marcinho no meio, Tardelli e Sousa no ataque), Sport (2x1, Renato Augusto no meio, Marcinho e Obina no ataque) e Náutico (3x0, Renato Augusto no meio, Marcinho e Obina no ataque), empatamos com a Portuguesa (2x2, Tardelli no meio, Éder e Sousa no ataque) e perdemos para o São Paulo (2x4, Marcinho no meio, Tardelli e Sousa no ataque). No segundo turno, vencemos Figueirense (3x2, Everton no meio, Marcelinho e Maxi no ataque), Ipatinga (1x0, Everton no meio, Marcelinho e Josiel no ataque) e Sport (2x1, Everton no meio, Marcelinho e Josiel no ataque), empatamos com o Fluminense (2x2, Everton no meio, Marcelinho e Obina no ataque) e perdemos, de novo, para o São Paulo (0x2, Everton no meio, Marcelinho e Josiel no ataque). Foram 13 jogos, com nove vitórias, dois empates e duas derrotas. Ganhamos 29 pontos em 39 disputados. Um aproveitamento superior a 74%.

Vai ter gente que dirá “também, contra adversários deste nível é mais fácil jogar assim, tanto que nos jogos contra o São Paulo perdemos os dois”. Tudo bem, aceito o argumento. Mas por que diabos, contra times como Vitória, Portuguesa e Atlético Mineiro, não jogamos desta forma mais ofensiva, que se mostrou tão mais eficiente do que o esquema recheado de volantes? Esta é a pergunta que Caio Junior deveria responder. E a falta de percepção deste detalhe, a falta de estudo das estatísticas do time no campeonato (coisa que Muricy faz quase freneticamente) que separam o bom treinador do grande técnico. Caio Junior é um bom treinador. Por enquanto, apenas isso.

Até terça!

Flamengo Net

Comentários