A diferença é clara. Como bem lembrou meu amigo Vinicius Valente, Muricy respira o futebol. Pensa no São Paulo 24 horas por dia. Analisa adversários, observa jogadores e treina o time com uma dedicação espartana. Chega a ser chato. Para quem trabalha ao seu lado, fica complicado não trabalhar com afinco. O exemplo que vem do treinador é obrigado a ser seguido. Isso se reflete em campo. Mesmo sem brilho, o time de Muricy está na liderança. Enquanto todos os outros alternam brilho intenso com tropeços inexplicáveis, o time de Muricy avança. Errando o menos possível. E não são os jogadores. Antes, eram Mineiro e Josué. Depois, Aloísio, Breno, Alex Pirulito, Richarlyson. Agora, Hernanes é o cara da vez. Daqui a pouco ele será vendido, mas o time de Muricy seguirá adiante. Fosse Muricy o técnico do Flamengo, eu não tenho a menor dúvida em afirmar que já estaríamos encomendando o chope e preparando a festa do hexa.
Voltando a nossa realidade, Caio Junior faz um bom trabalho. Mas errou muito também. Errou ao não conseguir recuperar Jonatas. Ao demorar a acertar o time depois das vendas de Renato Augusto, Marcinho e Sousa. E errou principalmente em seguir mantendo o time recheado de volantes com a furada desculpa de proteger os avanços dos alas. Discordo de meu bom amigo Juan, que escreveu, com a competência de sempre, um texto pregando o fim deste esquema. Errado não é jogar com dois alas ofensivos. Mas ser refém deles. Jogar com os dois, mais Jaílton como terceiro zagueiro, Toró como primeiro volante, e Ibson e Kléberson como meias, é burrice, estupidez. Facilita a marcação adversária. Fica muito pouca gente na frente, o que diminui o espaço de que tanto precisam os nossos alas. Dois zagueiros e dois volantes, sendo que um deles, DE VEZ EM QUANDO, faça às vezes de terceiro zagueiro, é MAIS DO QUE SUFICIENTE para cobrir os avanços dos laterais. Desde que o time tenha uma rápida reposição defensiva, como tem o São Paulo, o time do Muricy.
Se tivéssemos jogado o campeonato inteiro com este esquema (dois zagueiros; um volantão para fazer o terceiro zagueiro, poderia ser Jaílton, Toró, Aírton ou Christian; dois volantes-meias, jogando mais à frente, Ibson, Kléberson, Fierro e Jonatas podem fazer este papel; pelo menos UM meia, como foram Renato Augusto, Marcinho, Diego Tardelli, Everton, Sambueza, Erick Flores ou mesmo Marcelinho Paraíba; e dois atacantes), a história poderia ter sido outra. Jogamos assim em 13 partidas neste campeonato. No primeiro turno, vencemos Internacional (2x1, Marcinho no meio, Tardelli e Sousa no ataque), Fluminense (1x0 Marcinho no meio, Tardelli e Sousa no ataque), Figueirense (5x0, Marcinho no meio, Maxi e Sousa no ataque), Ipatinga (3x1, Marcinho no meio, Tardelli e Sousa no ataque), Sport (2x1, Renato Augusto no meio, Marcinho e Obina no ataque) e Náutico (3x0, Renato Augusto no meio, Marcinho e Obina no ataque), empatamos com a Portuguesa (2x2, Tardelli no meio, Éder e Sousa no ataque) e perdemos para o São Paulo (2x4, Marcinho no meio, Tardelli e Sousa no ataque). No segundo turno, vencemos Figueirense (3x2, Everton no meio, Marcelinho e Maxi no ataque), Ipatinga (1x0, Everton no meio, Marcelinho e Josiel no ataque) e Sport (2x1, Everton no meio, Marcelinho e Josiel no ataque), empatamos com o Fluminense (2x2, Everton no meio, Marcelinho e Obina no ataque) e perdemos, de novo, para o São Paulo (0x2, Everton no meio, Marcelinho e Josiel no ataque). Foram 13 jogos, com nove vitórias, dois empates e duas derrotas. Ganhamos 29 pontos em 39 disputados. Um aproveitamento superior a 74%.
Vai ter gente que dirá “também, contra adversários deste nível é mais fácil jogar assim, tanto que nos jogos contra o São Paulo perdemos os dois”. Tudo bem, aceito o argumento. Mas por que diabos, contra times como Vitória, Portuguesa e Atlético Mineiro, não jogamos desta forma mais ofensiva, que se mostrou tão mais eficiente do que o esquema recheado de volantes? Esta é a pergunta que Caio Junior deveria responder. E a falta de percepção deste detalhe, a falta de estudo das estatísticas do time no campeonato (coisa que Muricy faz quase freneticamente) que separam o bom treinador do grande técnico. Caio Junior é um bom treinador. Por enquanto, apenas isso.
Até terça!
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