Derrota tática
Uma das poucas vantagens de ter enfrentado cerca de 850 kms num apertado ônibus de excursão, neste último domingo ocupado por uma viagem de ida e volta entre Curitiba e o estádio do Morumbi, foi a visão ampla que tive do plano tático das equipes em campo. Das frias arquibancadas na tarde de ontem, era fácil perceber o esquema do São Paulo. Quando defendiam, os tricolores atuavam com suas linhas bem compactas, um 3-4-2-1 , e a marcação da saída de bola bem adiantada, começando por Dagoberto e Hugo, já no campo de defesa do Flamengo. Quando recuperavam a bola - e isso passou a acontecer com constância a partir da metade do primeiro tempo -, os donos da casa atacavam com um 3-4-3. O artilheiro são-paulino Hugo - talvez o coadjuvante mais valioso e menos valorizado do futebol brasileiro - fazia com eficiência o papel de terceiro atacante e sua movimentação, assim como a de Dagoberto (melhor em campo, na minha opinião), confundia o sistema de marcação do Fla.
Hernanes, alvo de críticas de Muricy Ramalho na entrevista coletiva, também subia com liberdade e confundia a marcação rubro-negra. Zé Luis e Jorge Wagner deram pouco espaço para os alas do Flamengo e, quando subiam (principalmente o primeiro), não eram acompanhados por aqueles que marcavam. E tudo isso com o suporte de quatro zagueiros - os três de ofício (André Dias, Rodrigo e o ótimo Miranda) - e o cão de guarda Jean, que liberava Hernanes para subir.
Estava claro que, aos poucos, o São Paulo tomava conta do jogo e, pior, induzindo o Flamengo ao erro - coletivo e individual. E ele aconteceu no primeiro gol da partida. Repare na imagem que o sistema defensivo estava completamente mal posicionado - Ibson teve que correr para cobrir um buraco pelo lado esquerdo, Angelim ficou para cobrir Ibson e Jailton (mais baixo) tendo que correr para marcar André Lima. Já Fabio Luciano, mais pesado, teve que marcar o rápido Dagoberto e quis ser mais malandro que o malandro, ao parar e clamar por uma ação do bandeirinha. O Flamengo nesse lance perdeu a vantagem da sobra e o gol seria, como foi, o desfecho normal. Erros que se repetiriam depois da volta do vestiário, quando o São Paulo desperdiçou a chance de matar o jogo já aos 3 do segundo tempo, numa finalização bisonha de André Lima, em outra jogada construída por Zé Luis.
No ataque, o Flamengo foi vítima principalmente da incapacidade de uma saída de bola inteligente, capaz de impor seu jogo. Ibson, estranhamente, muitas vezes posicionou-se à frente da primeira linha de marcação são-paulina, justamente ele, que é notório pela sua capacidade de carregar a bola ao ataque com qualidade. Isso fez com que ele muitas vezes recebesse a bola de costas para a marcação, em más condições de domínio, propiciando o desarme são-paulino. Sem saída de bola, o Flamengo por algumas vezes fez ligação direta para Josiel, que atuou bastante isolado na frente. Pelo lado esquerdo, Everton estava em tarde indigna de nota - o garoto parece que sentiu o peso de enfrentar o São Paulo fora de casa. Kleberson, muito criticado aqui no Blog, por algumas vezes teve que se desdobrar para cobrir Ibson e Léo Moura, que dava espaços para Jorge Wagner. Nisso, deixava Hugo livre.
Mas isso é mera hipótese. Certo é constatar que, com as seguidas boas atuações de Sambueza, e com um insistente ponto de interrogação no ataque, ainda não temos um time claramente definido. Para quem toma o tecnicamente fraco Jailton como bode expiatório, aviso que ele não sai mais do time, pelo menos enquanto Caio assinar a súmula. Portanto, qualquer debate sobre os onze deve levar sua escalação como certa.

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