"Enfim, 16 anos depois, uma decisão". Não lembro se era exatamente assim. Foi mais ou menos esse o título da principal matéria esportiva do Globo, se não me engano, de 20 de maio de 2003, uma terça. A notícia se referia ao jogo entre Sport e Flamengo, no dia seguinte, na Ilha do Retiro, primeira partida da semifinal da Copa do Brasil, e mencionava que se tratava do primeiro confronto direto e eliminatório entre os dois times depois da lenga-lenga de 1987.
Aquela manchete, por si só, não fazia sentido. Servia, no máximo, para promover o jogo. Ainda não entendo as dúvidas sobre o título brasileiro de 21 anos atrás (se você não sabe da história, conheça os fatos). Segundo porque não seria aquela peleja em 2003 que definiria o vencedor do título de 1987 (se fosse, também, não tinha problema: o Flamengo se classificou derrotando o Sport por 1 a 0 em Recife e confirmando a vaga com um 0 a 0 no Maracanã).
Lembrei disso depois de ler a coluna de ontem do João Marcelo Maia. Ele é preciso ao dizer que "não temos nada a provar, não 'defendemos' nenhuma honra desafiada e nem o resultado deste jogo terá qualquer impacto sobre o histórico de conquistas do Flamengo. Pensar diferente é aceitar os parâmetros de grandeza criados por outros, que jamais podem ser referências para um rubro-negro". Perfeito. Recordar 1987, nestas horas, pode até funcionar como um grito de motivação de boca de túnel, não como um mantra a ser repetido toda vez que vamos enfrentar o Sport. Fica tão chato quanto lembrar 1950 sempre que tem Brasil x Uruguai.
Entretanto, o jogo deste sábado reúne material para justificar uma manchete que use o termo "decisão". Pode não significar nada para o Sport Recife dentro do Brasileirão - único time que realmente pode brincar no torneio (® Renato Gaúcho) - mas é partida-chave para as pretensões do Flamengo. De volta ao G4, o rubro-negro não pode nem pensar em sair do grupo daqui pra frente. Na cola, uma legião de rivais. À frente, três adversários competentes e distantes.
Mesmo no Maracanã, não podemos desmerecer o adversário. O rubro-negro genérico de Pernambuco costuma endurecer. Na campanha vitoriosa de 1992, conseguiu vencer o Flamengo aqui por 2 a 1. Na famosa Arrancada de 2007, foi um dos poucos rivais a tirar pontos do Mengão dentro do Maior do Mundo. E, bem ou mal, o Sport é o atual campeão da Copa do Brasil e não fraquejou no Brasileiro.
O Flamengo pós-reforços ainda não se encontrou. Porém, dificilmente perde. Aos trancos e barrancos, recupera seu lugar no topo da tabela. A tendência é acertar o entrosamento, melhorar as jogadas ensaiadas e subir de produção. O problema é essa arrumação ocorrer no momento mais decisivo do campeonato. A nosso favor, uma tabela generosa, que nos permite sonhar com uma boa escalada, mesmo que vençamos apenas por 1 a 0 com dificuldades, para na hora certa, contra Palmeiras e Cruzeiro, já nos meados de novembro, o time esteja tinindo.
Vencer o Sport não será apenas essencial, mas também estratégico. São Paulo e Cruzeiro se enfrentam no Morumbi no domingo. Uma vitória tricolor aproxima o Flamengo do terceiro lugar. Um triunfo celeste nos afasta dos bambis. Um empate seria magnífico e realizaria os dois objetivos. Se formos bem-sucedidos, terminaremos a rodada ainda em quarto lugar, mas numa situação mais confortável que antes. Portanto, Mengão, garra, concentração e vontade, rumo à vitória. E, em seguida, ao título de 2008. Porque o de 1987 já é nosso.
***
Primeiro turno - temos tudo para derrotar o Leãozinho do Recife novamente. Na Ilha do Retiro, ganhamos mesmo diante de um ambiente hostil e sobre um gramado inacreditável. Além disso, um time que sofre dois gols deste Obina versão 2008 não pode ser tão temível.
|