terça-feira, 2 de setembro de 2008


COLUNA DA TERÇA-FEIRA - Alexandre Lalas


Sonhar não custa nada


Contra o Fluminense, no domingo, Caio Junior escalou um meio-campo mais ofensivo, com Everton e Kléberson jogando como meias. O resultado da mexida foi ótimo. O time dominou o adversário, criou diversas situações de gol e merecia um resultado melhor do que o empate suado conquistado no fim do jogo. O Flamengo jogou solto e a marcação imaginada por Cuca não funcionou, muito por conta da constante movimentação dos jogadores rubro-negros. Até Toró, ultimamente tão sumido na parte ofensiva, arriscou subidas ao ataque e apareceu na área para finalizar. Foi uma atuação animadora. Mas, se Caio Junior acertou na escalação, errou ao sacar Obina. Não que o baiano estivesse jogando bem, longe disso. Mas a simples presença de um homem fixo na área do Fluminense prendia Luiz Alberto e Thiago Silva na defesa. Maxi e Marcelinho Paraíba formam um ataque que carece de uma referência dentro da área. Depois da saída de Obina, nosso time finalizou menos, embora ainda tivesse posse de bola e um relativo domínio da partida.

Mas embora satisfeito com o que jogou o Flamengo no domingo, eu ainda acredito que esse time possa melhorar. Sou um romântico. Gosto do jogo solto, de um time com toque de bola. Guardo na memória o escrete do início da década de 1980. Tita e Lico pelas pontas, com Leandro e Junior nas laterais, avançando ao mesmo tempo e um meio-campo com Andrade, Adílio e Zico, todos jogadores extremamente técnicos. Semana após semana, os treinadores adversários davam a receita infalível: “para ganhar do Flamengo, vamos explorar as subidas dos laterais”, repetiam quase em coro. Salvo um outro jogo, em que um katinha da vida ou afins conseguiam um brilhareco efêmero, o Flamengo demolia seus rivais e colecionava títulos. Com um futebol ofensivo e competitivo, recheado de jogadores técnicos.

Essa época acabou, infelizmente, mas em nosso último título nacional, se não tínhamos jogadores da mesma qualidade, jogávamos de forma igualmente ofensiva. No meio-campo, Uidemar, Junior e Zinho ditavam o ritmo. Nas laterais, Charles e Piá, longe de serem brilhantes, serviam bem ao nosso estilo de jogo. Mas o segredo daquele time estava nas pontas. O eterno mestre Carlinhos, antevendo o que hoje é comum na Europa, jogava com dois homens abertos pelas pontas. Quando o time atacava, jogávamos num 4-3-3. Quando éramos atacados, os pontas recuavam e o time formava um 4-5-1. Simples e eficiente. Paulo Nunes, Marcelinho e Júlio César, pela direita, e Nélio e Djalminha, pela esquerda, se revezavam nesta função. Quando nosso time encaixava, dava gosto de ver jogar. Ganhamos o Estadual de 1991 e o Brasileiro de 1992 jogando desse jeito.

Com esse time que aí está, com esses jogadores, fosse Caio Junior um ousado romântico, poderia optar por uma formação nesses moldes. Dois laterais superiores aos de 92 nós temos. Leonardo Moura (que contra o Flu ainda se revelou um ótimo marcador) e Juan estão mais para Leandro e Junior do que para Charles e Piá, guardadas as devidas proporções. No meio, Ibson, Kléberson e Marcelinho Paraíba poderiam compor o setor. Ibson e Kléberson, embora não sejam do tipo “cães de guarda” são bons marcadores. Nas pontas, Fierro pela direita e Everton pela esquerda poderiam, tranqüilamente, fazer esta dupla função. E ainda poderíamos optar pelo Aírton em lugar de Ibson ou Kléberson quando a situação exigisse uma marcação mais pesada ou de Sambueza em lugar de Marcelinho, para mudar a cadência do jogo. Dentro da área, um goleador, como foram Nunes nos anos 80 e Gaúcho, no começo dos 90. Para uma torcida acostumada a uma profusão de volantes no meio-campo, pode até parecer uma ousadia descabida. Mas eu gosto de sonhar. E conversando com alguns amigos, percebo que talvez eu ainda não seja o último romântico...

Até terça!

Flamengo Net

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