A hora da verdade para Caio Junior
O sucesso rápido, inesperado até, fez com que o ex-jogador e ex-comentarista recebesse uma atraente proposta do Oriente Médio. Motivou uma campanha "Fica Caio", de torcedores maravilhados e dirigentes encantados. "A notícia não é boa - é ótima", disse o vice-presidente de futebol Kleber Leite, ao anunciar a permanência do nome em que apostara dois meses antes.
Mas no futebol - e no Flamengo, mais intensamente - certos sentimentos são volúveis. A saída de jogadores importantes num mesmo setor e a impressionante maré de azar - marcada por gols desviados, erros bizzarros de arbitragem, contusões absurdas e seguidas suspensões - trouxeram uma imprevista sequência de derrotas. O saldo foi um abrupto desencanto com o treinador, que manteve a serenidade mas mostrou uma certa dificuldade para administrar situações complexas, ao cometer erros de avaliação e de escalação, todos fartamente debatidos aqui.
O herói por pouco não virou vilão. A parcela mais lúcida da torcida debitou a conta nas costas dos dirigentes, que, sem um plano B, comeram mosca ao insistir na contratação de Felipe e Wagner Love. Mas o aproveitamento de 9% em oito jogos teve um custo alto, reduzindo a margem de erro para Caio. Agora, com a chegada de nove reforços (contra a saída de outros nove nomes, incluída a lesão de Tardelli e as moedas de troca para o Paraná Clube), Caio não tem muito do que reclamar. Não veio nenhum fora de série, é verdade, mas boa parte é formada por nomes de qualidade bem razoável para os padrões atuais. Jogadores experientes e jovens, de diversas posições e características. Um mix que permite armar a equipe como Caio bem entender.
A cobrança tende a aumentar no andar de cima. Ao dar por encerrada a temporada de contratações, Kleber Leite por mais de uma vez deu a entender que atendeu a todos os pedidos do treinador. A chegada de Éverton e Josiel corrobora as palavras do dirigente. Não atuaram sob o comando do paranaense, mas são bem conhecidos por terem vestido a camisa do mesmo Paraná Clube onde Caio se revelou como técnico. É em Curitiba que Caio, assim como Cuca, tem seu principal campo de observação, seus principais contatos e informantes.
A responsabilidade agora pesa sobre os ombros de Luiz Carlos Saroli. Depois de um Fla-Flu sempre imprevisível, e da viagem a Florianópolis para um jogo em que o retrospecto não favorece ao Flamengo, Caio Junior terá uma bem-vinda inter-temporada - de quase 10 dias - para preparar a equipe que enfrenta o São Paulo no Morumbi, em 14 de setembro. É muito tempo. Ele poderá testar as diversas opções, com as exceções de Fierro e Juan, ambos envolvidos com as Eliminatórias.
Ninguém mais sensato pode cobrar o título brasileiro nas atuais circunstâncias. Com a cochilada da diretoria rubro-negra, o Grêmio abriu uma boa distância, quase intransponível caso os gaúchos prossigam com sua regularidade em casa. E ainda assim, se o Grêmio falhar, Palmeiras e Cruzeiro apresentam condições mais confortáveis para chegar ao título.
Logo, Brasileiro não é obrigação para Caio. No entanto, ele sabe que precisa conduzir o clube à Libertadores de 2009 - de preferência, na fase de grupos.
Se no início ainda pisava em ovos, se em julho ficou sem ovos para fazer omelete, agora Caio tem condições de provar seu valor, montando um novo time, com a sua cara.
Por isso mesmo, a torcida será menos condescendente.
É ovação ou ovos.
Complementando: O Flamengo tem APENAS quatro compromissos no mês de setembro. Na segunda metade do mês, a equipe sequer terá que viajar. Tem dois jogos em casa. E de outubro em diante, mais 11 jogos. O que faz de setembro, sob esse aspecto, o mês mais tranquilo desde o início da temporada. Tempo de sobra para ajeitar o novo time.
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