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COLUNA DO SÁBADO – Mauricio Neves


A busca pelo texto e pelo gol


Dez da manhã. Abri o editor de texto para escrever a coluna de hoje. Nada. Só o branco da tela e agonia da espera do jogo. Ou a agonia de esperar por esse Flamengo despedaçado, desorientado, descontinuado. Desisti.

Tentei relembrar outros confrontos com o Atlético Paranaense, velho freguês de Maracanã. Boas lembranças: um show de Zico na Taça de Ouro de 1983, dois gols de Toto (!) em 1992 e até aquela vitória do ano passado. Mas quem quer boas lembranças em contraste à fase atual? Eu não.

Desisti do texto. Voltei a abrir o editor dez minutos atrás, aos vinte e cinco do segundo tempo. Eu buscando o texto, o Flamengo buscando o gol, quem sabe?

De cara, uma boa chance. Escrevi o primeiro parágrafo e a primeira fase do segundo. Saiu o gol. Derrubei o notebook quando pulei do sofá.

Agora são trinta e sete minutos do segundo tempo. Não fecho o editor de texto para não dar azar.

Trinta e nove, vai entrar Erick Flores. Nada funcionou na armação hoje, nem Juan deslocado depois da entrada de Luizinho. Partida inqualificável de Ibson e Leo Moura.

Quarenta, falta no bico da área. Vai, Juan. Bateu mal, de novo. Atlético vai ao ataque, Angelim tira de peixinho. Anda, relógio do caramba! Bruno defende chute de Rodriguinho.

Quarenta e dois, boa jogada de Erick com Juan, a zaga tirou. Lá vem eles de novo. Bruno defende outra, córner. Luizinho tira.

Quarenta e quatro, chutaço de Erick Flores. Não valeu? Não entendi nada, tirei o volume. Locutor paranaense secador. Quarenta e cinco já, serão quatro de acréscimo. Isso, tiro de meta.

Quarenta e sete. Falta para o Atlético na esquerda. O cronômetro parece em slow motion. Bruno fica com a bola. Éder desperdiça o contra-ataque. Quarenta e oito. Vem o Atlético. Tiramos. Vai acabar, vai acabar.
Acabou! Não, não encontrei o texto. Mas o Flamengo encontrou o gol. Troco um milhão de textos por um golzinho desses. Vou ver o resto do campeonato com o editor de texto aberto.