quarta-feira, 9 de julho de 2008

COLUNA DE QUARTA FEIRA - JOÃO MARCELO MAIA

Coisas inusitadas ***


É duro falar isso, mas não me recordo de ver um desempenho tão bom do Flamengo no início do Brasileiro, ao menos no período de pontos corridos. Esse fato inédito me levou a lembrar de outras coisas inusitadas que vêm marcando o cotidiano de todos nós rubro-negros. Vejamos algumas.

Jogada ensaiada - Contra o Sport, vi algo surpreendente, que parecia não encontrar adeptos na Gávea: uma cobrança de falta ensaiada, que resultou em gol. Fiquei positivamente estarrecido. Que venham outras.

Atacantes e artilheiro - O Flamengo atualmente conta com seis atacantes: Maxi, Obina, Souza, Tardelli, Marcinho e Eder (aliás, por que esse sujeito quase nunca entra?). Nenhum craque, mas para média do futebol brasileiro atual, todos são razoáveis. O time não tem tido grandes dificuldades para fazer gol, e ainda temos um dos artilheiros do certame. Lembram da época Jean??

Continuidade - Léo Moura, Juan, Renato Augusto, Obina e Souza. Não é por nada não, mas esses nomes parecem que jogam há anos no Flamengo. Entre todos os fatores, a manutenção de uma certa espinha dorsal há de ser um dos mais revelantes para explicar a boa campanha. Lembram das faxinas gerais que varriam o elenco anualmente?

Renato Augusto no meio - Os colegas certamente já repararam que Caio Jr. é homem dado a certas ousadias. Entre elas, está a firme decisão de escalar um meia no meio campo, atitude que parecia provocar asco e repúdio em técnicos anteriores. Em determinado momento, cheguei a acreditar piamente que Renato Augusto tinha virtudes de um Cristiano Ronaldo, percebidas apenas por Joel e Ney Franco. Mais um fato novo.

Jogando fora - Como todos sabem, nos últimos anos o Flamengo se limitava a tentar vencer em casa como forma de compensar os sacodes que tomava no Paraná, em São Paulo etc. De repente, uma luz baixou na Gávea: é preciso jogar bem nesses lugares, sob risco de condenar o time a patinar entre o meio e o fim da tabela. Nessa toada, vimos Caio Jr. enfiar um atacante no jogo contra o Sport em Recife, e não mais um volante para segurar o empate que se avizinhava.

Ausência do grande craque - Desde a era Kleber Leite, nos acostumamos a ver algum grande craque sendo apresentado como a salvação da lavoura ou o jogador decisivo que iria nos levar ao paraíso. Nenhuma das últimas contratações teve esse perfil gongórico. O maior ídolo da torcida é um atacante baiano meio gordinho cuja fama foi construída a partir de uma espécie de piada interna da própria torcida.

Sobriedade - Como todos sabem, o Flamengo dos últimos tempos é um time meio esquizofrênico, ou bipolar, ou algo do tipo. Uma hora somos geniais, envolventes e decisivos, na outra jogamos como um time criado nas Laranjeiras. A torcida seguia o mesmo padrão, oscilando entre a crença delirante na mística rubro negra e um corrosivo pessimismo que relegava o time à lata de lixo da História. As coisas agora parecem mais equilibradas. A despeito da excelente campanha, não vejo sinais de frenesis ou carnaval antecipado. Tenho cá para mim que o trauma da Libertadores teve ao menos alguma consequência positiva...

É claro que é cedo para tanto otimismo, e no próximo jogo velhos hábitos e vícios podem ressurgir novamente. Mas eu vivi tantos Brasileiros traumáticos nos últimos anos que me permiti relaxar um pouco e assistir jogos do Flamengo como se não fossem experiências torturantes ou penitências religiosas. Espero continuar assim.
*** Nota dos editores: O autor, em trânsito por motivo de viagem, produziu o texto antes do Sportv veicular a notícia sobre a negociação de Renato Augusto.

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