Tudo começou no ano de 1980, pois naquela época, o Flamengo estava começando a formar uma verdadeira máquina de ganhar títulos. O meu interesse não só pelo Flamengo, mas também pelo futebol, se deu por causa de um personagem, o meu pai. Sou filho único e morava em São Cristovão, e acho que pela proximidade do bairro ao Maracanã, fazia com que eu e meu pai não perdêssemos uma sequer partida. Minha mãe morria de medo, pois voltávamos sempre a pé e de noite pela Quinta da Boa Vista, tudo escuro e deserto, mas sem perigo ou quem sabe pouco, pois o Rio de Janeiro era diferente naquela época.
Tenho boas recordações do 1° Campeonato Brasileiro do Flamengo e consequentemente da Libertadores e do Mundial Interclubes, mas foi em 1983 que minha vida começava a mudar, de uma maneira que marcaria minha vida para sempre. Eu já não estava morando mais em São Cristovão, estava morando para as bandas de Niterói. No dia 22 de maio de 1983, o Flamengo disputava contra o Santos a final do Campeonato Brasileiro daquele ano. No primeiro jogo só deu Santos, e acabamos perdendo o jogo por 2 X 1.
Quando o jogo acabou, meu pai falou:
- Filho! Na esquenta! Semana que vem estaremos lá no Maracanã e o nosso Mengão certamente será campeão.
No dia seguinte, dia 23 de maio de 1983, aconteceu o inesperado, meu pai acordou, me deu um beijo e um até logo e foi trabalhar. Passei uma manhã estranha, como se alguém estivesse ao meu lado, me tocando e me abraçando, não sabia explicar o que estava acontecendo. Acabou a aula e fui correndo para casa e ao chegar, fui surpreendido com minha mãe me dizendo a mesma coisa. Logo depois chegou notícia triste. Meu pai, meu herói e responsável por ter me dado o prazer de ver aquele Flamengo do Zico, havia falecido naquela manhã de um infarto fulminante do miocárdio. Ele estava prestes a entrar nas barcas Rio – Niterói, quando caiu e não se levantou mais.
Foi como se o mundo tivesse acabado pra mim. No domingo seguinte veio o segundo jogo da final, dia 29 de maio, com o Maracanã lotado, com um público de 155.253 pagantes e que acompanhou uma aula de futebol do Zico. Não fui ao jogo por motivos óbvios, mas não pude deixar de acompanhar aquela decisão. Aquela equipe cumpriu com a sua obrigação e meu pai estava certo, o Flamengo se sagrou tricampeão.
Ao receber o convite do amigo Moraes para encontrar com o Zico, não pude deixar de escapar a chance de estar ao lado da pessoa que meu pai mais admirava. Foi um dos momentos mais emocionantes de toda a minha vida, dia 28 de maio de 2008, prestes a completar 25 anos do dia em que eu jurei que nunca mais deixaria de acompanhar o Flamengo, incrível essa coincidência de datas.
Essa é a minha história de amor, entre personagens que fizeram e ainda fazem parte da minha vida, o meu pai, o Flamengo e o Sr. Arthur Antunes Coimbra, o Zico.
* Luis Henrique Marques, 33 anos, mora no Rio de Janeiro e é admnistrador de empresas. Trabalha com marketing de relacionamento com clientes.
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