domingo, 15 de junho de 2008

COLUNA DE DOMINGO - Oswaldo Tinhorão


Duas décadas de freguesia

Foi no ano da Graça de 1988, há duas décadas completas. O Presidente da República atendia pelo nome de José Ribamar Sarney, mas ninguém tinha votado nele: não se votava para Presidente havia exatos 28 anos. A União Soviética estava viva e bulindo, e o Muro de Berlim era um impávido colosso. Em Roma, para se ter uma idéia de quanto tempo faz, Sua Santidade, o Papa João Paulo II, ainda se fazia chamar "o Papa-Atleta". O aiatolá Khomeini era figurinha fácil nos noticiários, e seus cornos furibundos estampavam uma bandeira insólita da Torcida Jovem do Flamengo ("a bênção, aiatolá / nosso povo te abraça").

Cá no Brasil, a moeda da semana era o cruzado, mas não ia demorar a ser substituída pelo cruzado novo. Em Brasília, 559 ilustrados cavalheiros (entre eles o sr. Márcio Braga) elaboravam uma Constituição que legislou até sobre o Colégio Pedro II, e que estabelecia bases tão sólidas para o desenvolvimento nacional que teve de ser emendada 62 vezes em vinte anos. O Prefeito da mui leal e heróica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro era o sr. Roberto Saturnino Braga, que um belo dia, com a cara mais lavada deste mundo, decretou a falência do município que ele próprio administrava.

Por esses dias, assunto de mulher era a novela Mandala, com uma Vera Fischer inteiraça a merecer as melhores homenagens dos que andávamos pela casa dos doze, treze anos. Ouviam-se coisas esquisitas no rádio, do gênero A-Ha, RPM ou Suzanne Vega -- que cantava, segundo consta, sobre uma moça a quem apetecia levar porradas do namorado. Havia também The Killing Moon, do Echo and the Bunnymen, e o excelente The Joshua Tree, do U2, para equilibrar um pouco a coisa.

No esporte, fora do futebol, o grande ídolo pátrio era Ayrton Senna da Silva, que muito em breve conquistaria seu primeiro campeonato mundial. Houve também espaço para os quinze minutos de Aurélio Miguel Fernández, o único brasileiro a voltar da Coréia com uma medalha de ouro no pescoço.

No futebol, Diego Maradona e Ruud Gullit disputavam o posto de melhor do mundo, e aqui ainda reinava soberano, apesar do joelho, Sua Majestade, o Rei Arthur Antunes Coimbra. O técnico da seleção brasileira era Carlos Alberto Silva, cujas grandes façanhas foram empatar com a Noruega e voltar de Seul com uma medalha de prata, pequeno consolo para o esforço de jovens promessas como Taffarel, Bebeto e Romário.

E foi nesse mundo distante e esquisito que, pela última vez, em 22 de junho de 1988, faz duas décadas, o Club de Regatas Vasco da Gama conquistou seu último título em cima do Flamengo.
De lá para cá, foram derrotados pelo Flamengo em quatro finais cariocas, mais uma final de turno que nos valeu o estadual (e mais um vice para eles), além de uma decisão da Copa do Brasil que, para eles, era o jogo de todos os tempos, a mãe de todas as batalhas, e que nós vencemos sem muito esforço. Em muitas dessas ocasiões, o pândego dirigente deles garantia que o título estava no papo e que o chope já estava comprado (deve ter azedado, depois de tanto tempo).

Este dia há de ser a data nacional do Vasco da Gama. É o Grito do Ipiranga deles, a Tomada da Bastilha, está para sua história assim como os 3 x 0 sobre o Liverpool estão para a nossa.
Nessas condições, manda a educação e a boa vizinhança que os cumprimentemos por façanha tão maiúscula, que ora completa seu jubileu de porcelana.

Quem quiser, que fique à vontade para encaminhar estes meus cumprimentos a todos os vascaínos de suas relações.

Flamengo Net

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