As causas não determinam o caráter da pessoa, mas apenas a manifestação desse caráter, ou seja, as ações.
Quem acompanha o que venho escrevendo aqui no Urublog desde julho está cansado de saber que abuso do direito de ser parcial e irracional. E que muitas vezes uso dos argumentos mais idiotas e sem vergonhas para exaltar o meu time e diminuir os adversários. Faço isso com plena consciência, amparado pelo entendimento de que o discurso tendencioso e bairrista é, antes que uma prerrogativa, uma característica dos verdadeiros torcedores. Não me envergonho de me desculpar com aqueles que se sentiram ofendidos, mas reitero que é apenas papo de torcedor e que não devo ser levado tão à sério.
Sei que muita gente, até mesmo alguns rubro-negros, não gostam do meu estilo, mas como não sou jornalista esportivo e não represento oficialmente o pensamento institucional do Flamengo, os meus deslizes éticos na defesa incondicional do Mengão não prejudicam o direito de ninguém e não merecem reprimenda maior do que alguns xingamentos no sistema de comentários. E mesmo que a maior parte dessas ofensas seja barrada pela moderação do blog, podem ter certeza que tenho recebido a justa cota de puxões de orelha de quem não aprecia o que escrevo. Sou torcedor e, por mais incrível que pareça aos meus detratores, quero crer que tenho consciência de onde termina a galhofa e o clubismo e onde começa o desrespeito às regras de boa convivência em sociedade.
Essa consciência ética, que geralmente se aprende em casa com papai e mamãe, é o que anda faltando aos dirigentes do tricolor paulista no lamentável episódio envolvendo uma inútil taça que dormitou durante 20 anos em um cofre escuro da Caixa Econômica Federal. Sem o menor despeito afirmo que essa taça nada representa, é um adereço decorativo que não faz jus ao título brilhantemente conquistado pelo Flamengo em 1987, enfrentando os maiores clubes do país. Será que algum de vocês já se sentiu menos Pentacampeão por que essa taça não está juntando poeira na Gávea?
Durante esses 20 anos, em momento algum, nem mesmo por um segundo, os torcedores conscientes e de bom caráter (de todos os times, até mesmo os do Sport, campeões da Segundona) que acompanharam a disputa do Brasileiro de 1987 tiveram qualquer dúvida sobre quem foi o verdadeiro campeão. E quando em 1992, o Flamengo conquistou o mesmo campeonato pela quinta vez, todos souberam que o Flamengo era mesmo o primeiro Pentacampeão do Brasil. Não importa muito o que se diz da boca pra fora, a verdade reside é na consciência de cada um. Cada um que entre em acordo com a sua. Ou não, o dia do julgamento pode ser que nunca chegue.
Se a postura malandra, aética e canalha que alguns dirigentes do campeão de 2007 tem adotado ao negar o pioneirismo do Flamengo em matéria de pentacampeonatos nacionais irrita a muitos rubro negros, ela envergonha ainda mais a muitos torcedores do São Paulo. Que se constrangem ao ver um momento de justa comemoração de uma brilhante conquista esportiva empanado por uma cartolagem indigna que aposta na memória curta da população e não busca honrar a palavra empenhada por seus predecessores.
A Lei de Gérson, desvio moral renegado até mesmo pelo Canhota de Ouro, que a batizou compulsoriamente, é a justificativa preferencial dos malfeitores que se amparam na impunidade endêmica que solapa as estruturas do país, para obter vantagens sabidamente imeritórias. Esses dirigentes que não honram o clube que representam fariam melhor se buscassem seus irmãos éticos nas enxovalhadas casas legislativas brasileiras, onde seu comportamento vergonhoso poderia até passar despercebido e jamais provocaria tamanho repúdio.
Como torcedor que ainda se lembra muito bem das circunstâncias em que se deu a disputa de 87, tenho a mais tranqüila certeza de que sempre fomos os primeiros Pentacampeões. Depois de longos 20 anos, fomos finalmente igualados em nossa marca, e isso é coisa comum no esporte, não envergonha ou engrandece ninguém. Futebol se joga e se vence no campo. Esperamos, sinceramente, que os maucaratistas de plantão e seus métodos condenáveis de administrar o que não lhes pertence se mantenham afastados do objeto de nossa paixão.
É tranqüilizador saber que a verdadeira Taça do Campeonato Brasileiro de 1987, a Copa União, está muito bem guardada. Na sala de troféus daquele que a conquistou com talento, suor e dedicação e a ergueu com muita justiça na tarde de 13 de dezembro de 1987. Se a taça que representa nosso Penta está com Zico, então está com Deus.
Mengão Sempre
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