Se é que você já não sabe, o Barão de Itararé, que se notabilizava pela acurácia e pela pertinência de suas máximas, foi um dos maiores filósofos do Brasil, quiçá o único. Já no século passado o Barão costumava dizer com impressionante clarividência que “quando pobre come galinha, um dos dois está doente”. E isso que é bonito na filosofia, as suas verdades são eternas, não tem prazo de validade. A frase quase centenária se encaixa perfeitamente na situação em que o Flamengo (o time dos pobres por excelência, com muito orgulho) receberá o cronicamente adoentado galináceo mineiro no próximo sábado. Ainda que tudo indique que o nosso próximo adversário esteja em plena crise de comando e dando pinta de que terminará de maneira melancólica sua temporada na Primeira Divisão, o Flamengo e sua torcida se preparam como se esse fosse o jogo mais importante do Brasileiro de 2007. E isso é bom, porque de uma certa maneira, vai ser mesmo.
Pra que se tenha uma idéia do que será o Maracanã na tarde de sábado saibam que os ingressos da promoção do Neston acabaram em menos de 6 horas nos supermercados. Ainda que a voragem pelo lucro fácil e a capacidade logística dos cambistas cariocas devam ser consideradas, pode-se prever que teremos miseravelmente uns 60 mil pagantes, mais um recorde de público. Vejam que só no primeiro dia as bilheterias já venderam mais ingressos do que o público total do último mini-clássico Flor x Botinha. Sei que deveria pegar como exemplo um jogo entre dois times da Primeira Divisão, mas esse foi o último jogo no Maraca. Superá-lo não é nada demais para quem sempre foi o trem pagador do futebol brasileiro, mas não se esqueçam que é fim de mês, é o primeiro sábado da primavera, o jogo é num horário esquisito e contra um time recém chegado da Segundona. E mesmo assim vai bombar. Rubro-negro, pode se orgulhar, nossa torcida simplesmente não tem comparação no planeta.
A torcida do Flamengo, além do dom da ubiqüidade, possui faro apurado e pressente ao longe quando o Flamengo começa a se agigantar e a ensaiar os passos colossais que lhe são naturais. O empate safado lá na gaucholândia foi ridículo, mas brigamos, fizemos gols e não nos deixamos intimidar pelo anti-jogo castellano, lutamos até o fim (como é que o Leonardo perde aquele gol feito?). Ainda que pelo nosso volume de jogo o empate tenha sido um resultado madrasto, a ascensão do time é visível a olho nu. Só faltou um pouco de sorte no domingo.
Então o quê poderia ser melhor para o Flamengo em curva ascendente, precisando de uma vitória para saciar a torcida, do que pegar um velho e tradicional freguês que vem descendo a ladeira num Maraca lotado? Melhor do que isso só se o outro time fosse treinado por um daqueles dinossauros da escola "eu ganhei, nós empatamos, eles perderam" e que por uma dessas coincidências da vida fosse também o nosso maior cliente na pessoa física. Preciso checar o extrato do senhor Emerson Leão, mas tenho a impressão de que é um dos nossos melhores clientes, o nome não me é estranho.
Mas sejamos modestos, ainda que a tradicional máquina de moer galinha esteja armada temos que ter a humildade de admitir que a torcida não é tudo. Agora temos que esperar o time fazer a sua parte. Temos fé que a sorte que faltou no domingo vai fazer dois turnos no sábado. Pelo menos temos tido sorte contra os mineiros desde tempos imemoriais. Nunes, Zico e Renight são nomes que causam mais medo na mineirada do que o Chupa-Cabra, mas nem precisamos ir tão longe. Quase todo ano temos a oportunidade de dar uma tunda nesse cacarejante freguês. Como esquecer o Olé no 4 x 1 da Copa do Brasil no ano passado?
Como a história monotamente nos ensina no livro de ouro do futebol nacional, quando o Urubu parte pra cima quem paga o pato é a galinha.
Mengão Sempre
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