Nove em dez técnicos fracassados gostam de oferecer a desculpa de que não tiveram tempo de implantar seus métodos de trabalho. Não se pode dizer que Ney Franco não teve tempo de impor o seu. O problema na verdade é que o seu método de trabalho está quase funcionando. Desde os tempos de Cláudio Coutinho que um treinador não ficava tanto tempo no comando do Flamengo. Ontem ele fez seu 72º jogo e o time soma 32 vitórias, 17 empates e 23 derrotas, com 103 gols a favor e 98 contra.
A mais evidente constatação que os números nos trazem é que a cada dia que passa Ney Franco desaprende mais. Tentar diminuir o que é irredutível não é prova de modernidade tática ou confiança no planejamento, é apenas comprovação de burrice. O Flamengo jamais será um timinho e a sua insistência maluca nessa impossibilidade física é o motivo da sua ruína. Ainda que seja doloroso temos que admitir que há muito tempo que o Flamengo de Ney Franco só dá alegrias à xexelenta e analfabeta torcida arco-íris.
Como os rubro-negros são seres humanos em um estágio mais avançado de desenvolvimento espiritual temos a obrigação de aprender até com as mais desagradáveis experiências. Para os rubro-negros verdadeiramente religiosos até o Ney Franco tem sua utilidade. Para impedir que o réprobo treinador continue a solapar as tradições guerreiras do Flamengo com suas táticas covardes originárias de mini-times rurais, os fundamentalistas, os xiitas, os liberais, os constitucionalistas e os privatistas do Flamengo, entre outras cepas menos numerosas de facções flamengas resolveram se unir temporariamente sob o grande guarda-chuva ideológico batizado de Resistência Rubro Negra. Inspirados pelo belos exemplos das Resistências Espanhola e Francesa na luta contra o fascismo e o nazismo, os maquis da Resistência Rubro Negra acreditam no valor do auto-sacrifício e usam como método de luta os atentados terroristas. Colocando a grandeza do Flamengo acima de todas as coisas, a Resistência Rubro Negra não vai desistir enquanto não derrubar esse espúrio regime Franquista.
O jogo de ontem no Olímpico foi o local escolhido para a primeira ação pública da Resistência Rubro Negra. Para quem acompanhou a transmissão pela Globo será muito fácil lembrar o momento exato em que eclodiu esse revolucionário movimento político esportivo. Foi ali pelos 15 minutos do segundo tempo quando o comentarista Casagrande iniciou uma discreta diatribe contra o popularíssimo Ney Franco.
É notória a simpatia de Walter Casagrande pelo Flamengo e em seu comentário mais longo durante a transmissão da tarde de ontem ele deixou transbordar o seu rubro-negrismo, visivelmente contrariado com a covardia de Ney Franco. Investido de toda a sabedoria que um microfone concede aos que o empunham, o dialético Casão constatou a flagrante indigência técnica e tática do alegre vice das Américas e incitou o treinador do Flamengo a ousar mais, a buscar a vitória ao invés de submeter a equipe à inevitável pressão de um adversário que apesar de contar com um jogador a mais era até então facilmente neutralizado em suas débeis pretensões ofensivas.
Poucos segundos depois desse clarividente comentário o Brasil e o mundo conheceram a força da Resistência Rubro Negra. Mesmo que Casagrande não houvesse chamado à atenção de milhões de telespectadores era evidente que mesmo com um jogador a mais o grêmio jamais faria gol no Flamengo. E pensando muito além dos reles pontos que poderiam ser conquistados a Resistência Rubro Negra acertadamente concluiu que mais um empate significaria mais 7 dias de oxigênio para o politicamente moribundo Ney Franco. Para marcar a diferença filosófica com o plantador de pão de queijo o Alto Comando da Resistência pensou no curto prazo e não planejou nem um pouquinho para decidir que era chegada a hora do supremo sacrifício. Atendendo a um sinal previamente combinado, o mártir Irineu apresentou-se para desempenhar o decisivo papel de homem-bomba mandando a bola para as próprias redes com requintes de perebagem.
Nesse momento de tragédia, ocupando temporariamente a vergonhosa lanterna de um campeonato brasileiro disputado por times de segunda, sublimar a dor e erguer a cabeça é um imperativo para o flamenguista. O que não nos mata nos fortalece. Ney Franco pode até ser o pior treinador da história do Flamengo (há controvérsias), mas não podemos negar que ele tem o poder de despertar o que de melhor existe em alguns verdadeiros rubro-negros. É desses grandes, heróicos e desinteressados sacrifícios como o de Irineu na tarde de ontem que se constitui a matéria dos grandes clubes. A Resistência Rubro Negra chega em boa hora, para provar que nada nem ninguém podem ser maior que o Flamengo. E que ninguém nos diminuirá.
Mengão Sempre
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