Jovens Homens de Visão
Nas últimas semanas falar sobre o Mais Querido do Brasil tem sido um doloroso exercício de auto-flagelamento para a Nação. Se falar já é ruim, escrever sobre esse desagradável assunto pode ser classificado seguramente como sado-masoquismo em último grau já que ler dói tanto quanto escrever.
Por isso mesmo não estranhei o reduzido numero de comentários ao espetacular e sensato texto que o João Marcelo Ehlert publicou aqui ontem. Tenho certeza que para a absoluta maioria dos freqüentadores da casa a leitura daquelas três precisos parágrafos foi dolorosa. Doeu porque falou uma verdade e as verdades quando nos são ditas sem subterfúgios costumam doer.
O mais importante do texto do João é que ele propõe um processo de purga e purificação através da autocrítica. Admito que esse negócio de autocrítica seja coisa de comunista e que pode descambar facilmente para uma reles lavagem pública de roupa suja, o que não nos traria qualquer benefício. Mas tenho que admitir também que a postura de parte da torcida que tende ignorar a existência dos problemas não nos ajudou em nada e possivelmente contribuiu para que o Flamengo se encontre nessa merda atual.
Sou dos primeiros a me levantar em defesa da torcida quando algum desmiolado ousa colocar a culpa pelos vexames mulambáticos nos abnegados guerreiros que ainda encontram disposição pra ir aos estádios. Mas como também sou incongruente e contraditório penso que no longo, desgastante e insuportável processo de deterioração pelo qual o Flamengo vem passando uma boa parte da torcida tem responsabilidade, sim.
Provavelmente serei execrado pelos que se sentirem elipticamente citados, mas a maioria dos caras que vai aos estádios, compra o Lance, vem ao blog e acompanha o Flamengo é uma mulambada tão sem vergonha e com complexo de vira-lata tão grande quanto o do time atual. Lamentavelmente essa parece ser uma questão cronológica incontornável já que esses rubro-negros jamais tiveram a oportunidade de ver o Flamengo em sua real dimensão. A globalização, a Lei Bosman, o Plano Bresser e o Kleber Leite não permitiram que uma geração inteira soubesse o que o Flamengo realmente é. O Flamengo que vence, simples assim.
Ô geraçãozinha azarada. Por não terem um referencial moral sólido à exemplo de gerações rubro-negras predecessoras que acompanharam Domingos, Leônidas, Zizinho, Dida, Zico e Júnior (para citar apenas os já beatificados), tiveram Bebetos, Renights e Romários enfiados goelas abaixo como se ídolos fossem. Com esse tenebroso background não causa espanto que alguns torcedores tentem proibir vaias, prestigiem vagabundos superestimados e protejam os ladrões que estão depenando o templo Flamengo.
O marketing é indissociável do futebol moderno, vender camisas de 120 paus é bom pro clube e pra Nike, mas não é assim que se forjam gerações vencedoras, seja no campo ou na arquibancada. O Flamengo sempre formou homens antes de atletas. Faz tempo que isso não acontece no Flamengo, a não ser por acaso. O preço desses descalabros com a nossa tradição é alto e vem sendo pago por todos os rubro-negros a cada vexame da mulambada no Brasileiro. Tá mais do que na hora de acabar com essa presepada e honrar o Manto Sagrado. E isso vale pra torcida também.
Mengão Sempre
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