segunda-feira, 18 de junho de 2007

Das Razões espirituais - Parte I

São pelos menos três as razões objetivas que nos conduzem a mais uma campanha degradante no Brasileiro: elenco, técnico e estrutura financeira. Inúmeros posts já foram escritos para dar conta dos problemas do elenco, do desarranjo tático do time e da precariedade na nossa gestão de recursos. Mas tenho cá para mim que existem outras razões, mais sutis e menos objetivas, que também explicam a merda em que estamos. São as chamadas razões espirituais, que não são poucas: o ambiente preguiçoso e festivo que cerca a Gávea, a ausência de cultura tática, o gosto pela grandiosidade, o desapego ao mundo miúdo do dia-a-dia da gestão etc. Podemos até iniciar aqui uma série sobre essas razões, abrindo-a com um dos maiores males que assolam o Flamengo contemporâneo: a síndrome das grandes decisões.

Desde o final dos anos 90, o gosto do Flamengo por grandes finais perdeu seu aspecto de "demonstração de força" para virar uma espécie de último recurso a que todos se apegam. Nunca isso ficou tão evidente quanto no Estadual deste ano, em que fizemos uma campanha medíocre que foi "salva" de forma milagrosa na final. Não tem problema tomar de 4 do Madureira, pois sempre tem algum jogo decisivo no Maracanã lotado que há de redimir todos nós. Qual o problema disso, poderiam perguntar alguns? O problema é que o Brasileiro é torneio longo, de pontos corridos. E o Flamengo contemporâneo joga cada partida como se sempre houvesse a possibilidade de resolver as coisas num domingo sagrado, diante de uma torcida numerosa e apaixonada que vai levantar o Lázaro. Assim, não há problema em tomar de 4 do Figueirense, perder de 3 pro Pindamonhangaba e empatar 56 partidas seguidas. Em algum lugar do futuro uma grande final épica parece nos esperar. É a escatologia dos medíocres.

É preciso combater esse estado de espírito. Não há possibilidade de jogar um bom campeonato Brasileiro com jogadores que descuidam do dia-a-dia do torneio e das vitórias suadas num rincão qualquer do país. A glória no nacional não é coroada por jogos decisivos num estádio engalando em preto e vermelho, mas é constituída em regulares e monótonos embates contra times médios. Ou isso entra na cabeça de torcedores e jogadores, ou continuaremos vendo a equipe se entregar a mediocridade, sem que haja alguma gloriosa tarde de domingo que resolva tudo.

Flamengo Net

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