quarta-feira, 23 de maio de 2007

Partidas, Peladas e Panelas


Mesmo num dia em que o Flamengo não joga é difícil não ocupar a cabeça com ele. Nessa tarde de quarta feira enquanto fazia hora pra esperar começar a decisão da Champions League fui tirar o pó da estante e reencontrei um livrinho sensacional chamado Cuentos del Fútbol Argentino, da Coleção Alfaguara Bolsillo, organizada pelo jornalista, cartunista, humorista e louco por futebol Roberto Fontanarossa. Em menos de 200 páginas, das de bolso, Fontanarrosa consegue reunir alguns monstros da literatura como Jorge Luís Borges e Adolfo Bioy Casares com alguns dos mais importantes cronistas esportivos da Argentina como Diego Lucero e o próprio Fontanarossa.

Nesse livrinho tem um conto de Alejandro Dolina chamado Apuntes del fútbol en Flores, nesse conto tem um trecho que tem tudo a ver com esse dia em que a barca sinistra das dispensas está zarpando lá da Gávea. Mais do que isso, esse trecho tem o poder de encantar a todos que já tiveram a sorte de jogar uma pelada e a quase todos que não a tiveram. E de uma maneira meio torta explica a existência das eternas panelinhas na Gávea e no mundo. Vou reproduzi-lo aqui numa tradução livre e aí você mesmo chega a uma conclusão.

Instruções para bater time em uma pelada

"Quando um grupo de amigos que não estão envolvidos em nenhum time se dispõe a jogar tem lugar uma emocionante cerimônia destinada a estabelecer quem integrará os dois times. Geralmente dois jogadores se enfrentam em um sorteio ou par ou ímpar e logo cada um deles escolhe alternadamente aos seus futuros companheiros. Se supõe que os mais hábeis são escolhidos primeiro, ficando os pernas-de-pau pro final. Poucos tem reparado no conteúdo dramático desses lances. O homem que está esperando ser escolhido vive uma situação que raras vezes se dá na vida. Saberá de modo brutal e exato em que medida o aceitam ou rejeitam. Sem eufemismos, conhecerá sua verdadeira posição no grupo. Com o passar dos anos, muitos peladeiros preverão sua decadência conforme sua eleição seja cada vez mais demorada.

Manuel Mandeb, que quase sempre oficiava as escolhas, observou que as decisões nem sempre recaíam sobre os mais hábeis. No começo acreditou possuir sabe-se lá que sutilezas de ordem técnica que lhe faziam preferir companheiros que reuniam certas qualidades.

Mas um dia compreendeu que o que desejava de verdade era jogar com seus amigos mais queridos. Por isso escolhia os que estavam mais perto do seu coração, ainda que não fossem tão capazes.

O critério de Mandeb parece apenas sentimental, mas é também estratégico. Um cara joga melhor com seus amigos. Eles serão generosos, o ajudarão, o compreenderão, o consolarão e o perdoarão. Um time de homens que se respeita e se quer bem é invencível. E se não é, mais vale compartilhar a derrota com os amigos que a vitória com estranhos ou indesejáveis."

O Flamengo só volta a jogar no domingo, até lá vou ficar pensando no que o Alejandro Dolina disse: Um time de homens que se respeita e se quer bem é invencível. É um grupo assim que eu quero ver honrando o Manto.


Mengão Sempre

Flamengo Net

Comentários