É repetir a receita
Ao contrário do que disse o João em seu último post, e da maioria dos que aqui comentam, eu posso dizer que já tive sim orgulho do time do Flamengo em um momento nesta temporada. Já sei que muitos vão torcer o nariz pelos comentários que li por aqui após aquele jogo. Mas foi no primeiro tempo - só no primeiro tempo - da partida contra o Maracaibo.
Ok, era um adversário ridículo. E ok, o segundo tempo (quando o jogo já estava ganho e o time puxou o freio de mão) foi patético. Mas eu achei aqueles 45 minutos realmente muito bons - o PVC escreveu no Lance, por exemplo, que o Flamengo foi "quase perfeito". E acho que Ney Franco e seus comandados podem rever o VT daquele jogo, e relembrar o que se conversou antes da partida, pra pensar no que devem fazer nesta quarta contra o Madureira.
A primeira coisa a ser repetida: entrar em campo tendo em mente que é jogo de Libertadores e tem que entrar pra valer. Como o Arthur já repetiu aqui, essa Taça GB não está valendo só uma vaga na final do Estadual, mas também a tranqüilidade pra jogar a Libertadores. Se perdermos, não só teremos um segundo turno pela frente, com obrigação de ganhar, como o time ainda vai ter que enfrentar a desconfiança generalizada da torcida, da imprensa e até da diretoria. Foi claro que os jogadores não entraram em campo com este espírito ontem.
E a segunda é quanto à movimentação tática do time em campo. Novamente jogaremos contra uma equipe fechadinha em sua defesa, que não vai fazer nem muita questão do contra-ataque. Como furar esse bloqueio? Não acho que a solução esteja na simples mudança da escalação, mas sim na maneira de jogar e na disposição de se movimentar.
O segredo é abrir o jogo e saber girar a bola rápido de um lado pro outro, como foi feito contra os venezuelanos. Repito, assistam o VT e observem. A bola vinha para o Léo Moura na direita; na mesma hora, o Renato Augusto se movimentava encostando pra dar opção na ponta, o Obina saía pra cabeça da área pra puxar a marcação e ser alternativa no meio. Com as trocas de passes rápidas ali, a bola chegava constantemente à linha de fundo. O Léo Moura só tentava o drible na boa, com a bola em movimento e o lateral correndo atrás dele, nunca com o cara parado à sua frente, quando tudo é mais difícil.
Mas, se a marcação apertasse e não desse jeito, estava o Claiton atrás. A bola voltava e imediamente ele se virava e mandava pra esquerda. Lá estava o Juan, o Renato encostava, o Obina se mexia, o Paulinho ficava atrás como opção pra girar o jogo novamente se fosse preciso. É nesse movimento rápido da bola de uma extrema a outra que a defesa adversária precisa se mexer e os espaços podem aparecer. Se, ao contrário, o time ficar insistindo lentamente na mesma jogada no mesmo lado já marcado, a defesa fica ali plantada e é difícil mesmo conseguir entrar, seja pela ponta ou pelo meio. De novo: o adversário, claro, era mais fraco, mas a movimentação que precisamos fazer em um jogo como esse é aquela. Não tem mistério.
Reparem, agora vendo o VT de domingo mesmo: fizemos isso apenas uma vez no jogo, no fim do primeiro tempo. A bola passou da esquerda pra direita rápido, de pé em pé, encontrou o Léo Moura livre na área, ele deu de calcanhar pra quem vinha de trás. Foi a jogada mais bonita do jogo, nossa melhor chance. Só aconteceu porque houve esse movimento, a defesa precisou se mexer pra trocar de lado e nessa o espaço apareceu.
Fora isso, contra o Maracaibo o Souza ficava sempre na área, esperando os cruzamentos pelo alto, que são os únicos momentos em que pode ser útil (vamos ser sinceros: o cara é grosso e lento de pensamento. Sempre foi, tanto no Vasco quanto no Goiás. Não vai mudar agora). Contra o Madureira, saiu o tempo todo pra fazer o pivô no meio de toda a defesa adversária, trabalho que naquela partida foi do Obina. Como disse o Alex, isso é pedir pra consagrar o zagueiro adversário - vai dar errado sempre. Se alguém deve se mexer ali na cabeça de área, não é ele, que leva cinco minutos pra matar cada bola e depois mais cinco minutos pra resolver o que vai fazer com ela. Já vi o Roni fazer bem isso no Fluminense; o Romário fez muito gol na aba dele (embora naquela época o Roni já perdesse tanto gol quanto perde agora). Mandem ele entrar em campo, como não entrou contra o Madureira, e fazer este papel. Ou que passe a vez pra outro, se preferir continuar se escondendo.
Aliás: o que é preciso acontecer pro Leonardo ter a sua chance? Não consigo imaginar um jogo em que fosse mais óbvia a necessidade de mexer no ataque do que este de ontem, e mesmo asim ficou ele sentadinho no banco - e isso porque o Ney Franco ainda podia fazer mais uma substituição. Na boa, se não entrou ontem, acho que não entra nunca mais. Gosto do nosso técnico, mas ontem esteve num dia muito ruim.
segunda-feira, 5 de março de 2007
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