EDITORIAL: O risco da bravata
É legítimo o protesto registrado pelo Flamengo em relação aos problemas de atuar numa altitude como a de Potosí. De fato, como todos testemunhamos, a falta de tempo para uma adaptação cria uma desporporção em relação às condições físicas dos donos da casa. Portanto, soa absurda a alegação dos dirigentes de Potosí, que declararam que também é nocivo jogar no Rio, em função da umidade e dos mosquitos (?!?!?!? ) . Afinal, clima por clima, o Flamengo também se defrontou com o frio andino e, mosquito por mosquito, não se requer vacinas aos visitantes da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Enfim, ponto pacífico quanto à necessidade de discutir o assunto - embora nós tenhamos certeza de que a CBF não vá mover uma palha nessa questão, até mesmo por conveniência política: Ricardo Teixeira conta com o apoio de bolivianos e equatorianos na campanha para sediar a Copa de 2014 e sabe que esse assunto tem pouca importância para os europeus da Fifa.
O que realmente causa espanto é que o Flamengo tenha ameaçado ausentar-se de novos confrontos em cidades nos altiplanos andinos. Em sua nota oficial, fala que não vai atuar em "altitudes acima dos níveis recomendados pela Medicina Desportiva" - sem citar explicitamente quais seriam esses limites.
Ora, nesta Libertadores há diversos clubes sediados em cidades encrustradas no sopé da longa cordilheira que se estende da Patagônia ao México. Além do próprio Potosí, temos o Bolivar (La Paz, Bolivia, 3600 m), Liga Deportiva Universitaria (Quito, Equador, 2850 m), Cienciano (Cuzco, Peru, 3400 m), Deportivo Pasto (Pasto, Colombia, 2527 m) e Toluca (Toluca, Mexico, 2.680 m). Isso sem falar do Clube América do Mexico, que joga no famoso Estádio Azteca, palco de duas finais de Copa do Mundo, a 2300 m de altitude, sobre o qual o norte-americano Wynalda disse: "Azteca is like a bad dream where you forget how to run".
É muito provável que alguns desses clubes passem para a fase de mata-mata. E qualquer um - inclusive o Real Potosí - poderá ser o adversário do Flamengo numa das fases finais. Afinal, de acordo com o regulamento, o cruzamento das oitavas-de-final é definido com base na ordem de classificação na fase de grupos.
E então? Uma vez classificado, o Flamengo mantém a ameaça de WO? E se tiver que embarcar para Quito, por exemplo? Vai deixar de avançar numa competição de prestígio, cujo charme está diretamente relacionado ao pacote de adversidades em terras de habla hispânica?
O protesto é válido. É importante pressionar, gerar discussão, colocar o assunto em pauta. Mas é preciso bom senso ao manifestar posições oficiais.
Do contrário, a indignação poderá ser encarada como mera bravata.
sábado, 17 de fevereiro de 2007
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