terça-feira, 28 de novembro de 2006

CONSTRUIR CATEDRAIS
Correio Brasiliense
Brasília, Quarta feira, 17 de Abril de 2002
100 anos de JK
A invenção da utopiaTT CatalãoDa equipe do Correio Brasiliense
Ele repetia uma história colhida em uma das suas inúmeras incursões noturnas pelos canteiros de obras: ao perguntar a um candango o que fazia, recebeu como resposta ??estou assentando tijolos??. Escolhe outros e faz a mesma pergunta. Recebe sempre como resposta a atividade imediata que o trabalhador está cumprindo: ??viro a massa??, ??aparo madeira para encher de concreto?? etc. Até que JK encontra um, de origem espanhola, que lhe diz: ??Presidente, construo uma catedral...??. JK fica comovido e passa a contar o encontro como símbolo da atitude necessária para se trilhar utopias
.
É véspera de eleição na Gávea. Como aconteceu em outubro passado, para alguns significa apenas mais uma data. Para outros, como eu, é mais que isso. É a oportunidade de sonhar com a utopia. Qual a minha, vocês poderiam perguntar? Na verdade, não almejo utopias, meu sonho é mais chão, mais "sangue, suor e lágrimas", como diria Churchill.
O pronunciamento mais famoso do pastor e ativista Martin Luther King começava com uma frase simples: "I have a dream..." ? Eu tenho um sonho.
Sobre essa sentença simples ele construiu uma peça de oratória que é repetida no mundo inteiro e que transformou de forma definitiva a política dos direitos dos negros e de outras minorias na sociedade americana.
Nossos patrícios brasileiros que, aos milhões, se jogam na aventura do sonho americano, se beneficiam desse sonho, sonhado por uma pessoa que tinha grandes ideais, enorme força de espírito e disposição para lutar até a morte em sua busca.
Quantos desses brasileiros que vivem na América não sonham com seu Flamengo? Mas com aquele Flamengo coberto de glórias, vitorioso, imponente, aquele que se aplaudiu de pé, e não faz tanto tempo assim.
Há um mote repetido incontáveis vezes no BLOG ? Eu quero o meu Flamengo de volta. Eu também quero. E faço qualquer sacrifício para tê-lo. Abro mão de coisas que são minhas, que são nossas, que são incontestáveis.
Abro mão do título de 1987. Abro mão do penta. Abro mão da Copa do Brasil de 2006. Abro mão do tricampeonato carioca, deles todos se necessário.
Se em troca disso eu tiver um clube organizado, com diretores desinteressados de sua própria conquista pessoal, daqueles que desaparecem nas sombras do anonimato quando o clube alcança suas glórias, mas que estão à frente de todo e qualquer desafio ou dificuldade, assumindo a sua responsabilidade quando a tempestade se avizinha e se abate sobre o rubro-negro.
Abro mão de tudo se o planejamento visar a grandeza do clube no médio e no longo prazos, quando seus nomes não mais estiverem nas notícias diárias da imprensa. Se o Flamengo estiver pensando em se aliar à sua torcida e não em se fechar no seu feudo de poucos sócios, conselheiros e beneméritos.
Abro mão de minhas camisas, de meus vídeos, das revistas. Da imagem de S.Judas Tadeu.
Peço em troca apenas a utopia do possível, aquela que junta organização, bom senso, muito trabalho, inexistência de qualquer resquício de vaidade pessoal, doação física e emocional, honestidade, justiça e a paixão avassaladora das cores rubro-negras. Como estamos hoje, somos muitos, mas enfraquecidos pelas discórdias, pelas desunião e pelo desencanto. Quem será o líder dessa revolução? Se estiver imbuído do ideais mínimos necessários, se estiver vestido "com as armas de Jorge", pronto para a guerra e para morrer nela, se preciso for, e assim levantar a bandeira do Flamengo e nos convocar, podemos e haveremos de ser Legião.
Porque àquele que se diz Flamengo, não é permitido apenas assentar tijolos, ou erguer paredes. Nós estamos obrigados e destinados a construir catedrais!

Flamengo Net

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