Conspirações e realidade
Caros, estava eu me divertindo com a Silvia Saint, mas achei por bem dedicar alguns minutos do meu tempo à "mais nova polêmica".
Nós sabemos, nós sabemos. Elvis não morreu. Ele fez diversas cirurgias plásticas e anda tocando covers de si mesmo em algum puteiro de Graceland. It´s all true, Lady Di foi assassinada. Insatisfeita com o excessivo destaque midiático da ex-nora, a Rainha Elizabeth engendrou um plano. Maquiavélico ao ponto de parecer um inevitável acidente-fuga-de-paparazzis aquilo que não passou de um minucioso trabalho de serviço secreto.
E o que dizer da tragédia do World Trade Center? Coisa de Osama Bin Laden? Não, categoricamente não! Fontes seguras garantem que tudo foi tramado pela CIA, dando a George W. Bush as condições que lhe faltavam para dominar completamente o planeta.
A última que ouvi é que está em curso uma grande conspiração. Ela se destina a transformar aquele estranho time de São Paulo no mais popular do país. E tudo para tirar de nós, demonizados rubro-negros, o que nos é mais caro: o orgulho de ser a maior torcida do país.
Teorias conspiratórias como essas têm sua razão de ser - Watergate e o caso Proconsult estão nos anais para escaldar qualquer pessoa razoavelmente informada. Quem viu o documentário The Corporation percebe o quanto é pesado o jogo das grandes corporações, que visam o lucro a qualquer custo. Convenhamos: num país em que Bruna Surfistinha ganha status de escritora, qualquer sacanagem é possível.
Porém, uma análise tranquila da pesquisa - a publicada pela revista Época - sugere outra leitura que não uma repulsiva artimanha de poderosos encastelados nos andares mais altos da Berrini.
O estudo contratado pelo Sportv não me parece ter o papel de avaliar qual o clube de maior torcida. Simplesmente aponta qual deles tem maior valor de mercado para o canal de TV assinatura. Não por acaso foi feito em apenas 9 capitais e apenas uma delas na região Nordeste, onde é mais fácil encontrar um camisa do Flamengo do que um coqueiro ou uma palmeira.
É fato que o Flamengo, por inúmeros fatores, mas também por negligência, tem perdido espaço na partilha do bolo. Nossos torcedores off-Rio predominam no Nordeste e Norte. São regiões que, juntas, talvez tenham menor valor de mercado do que o rico interior de São Paulo. Um levantamento recente da Young & Rubican apontou que o Flamengo é o top of the mind no Brasil, ou seja, é o clube mais lembrado, mas não o de marca mais valiosa.
Valor da marca tem a ver com fatores quantitativos e qualitativos. É preciso observar o perfil de público e seu poder aquisitivo. A Gucci - sei bem disso porque minha mulher me espolia mês a mês com visitas a Paris e Milão - não vende seus produtos para milhões de pessoas. Faturou 508,3 milhões de euros no primeiro trimestre de 2006, vendendo para poucos endinheirados.
O desafio do marketing do Flamengo é este. Reverter a tendência. Conservar os torcedores. Valorizar sua marca. Seduzir a garotada que está nascendo e crescendo, a mesma que diariamente passa horas batendo papo no MSN, fuçando os scrapbooks alheios no Orkut, trocando SMSs e fotos via celular, divertindo-se no You Tube, circulando pelas ruas com Ipods e pendrives. É o público que consome, que frequenta shoppings e influencia diretamente as opções de compra dos pais. É o consumidor que daqui a 10, 15, 20 anos, estará ocupando posições importantes nos mercado de trabalho.
Pensar nisso é bem mais produtivo do que acreditar em conspirações. Não que elas não existam. Não podemos, entretanto, tão-somente iludir-se em ser o maior. Queremos ser o maior e melhor. O que mais vende, o que dá mais audiência na TV a cabo, o que mais atrai investidores e patrocinadores. O que mais renova sua torcida!
A ameaça é real. E não só corintiana - mas também do São Paulo ou de qualquer clube que pulverize de grão em grão a ampla maioria do Flamengo. Fico pensando como deve ser difícil para um pai radicado em Curitiba, diante dos resultados ruins do Flamengo no Sul do país, convencer seu garoto a ser o ovelha negra da turma do colégio que torce pelo Atlético-PR. Só na base da porrada - profilática, aliás.
Se não abrirmos os olhos, corre-se o risco de que nossos descendentes não mais vejam no Maraca a faixa de "Mais Querido do Brasil". O tempo não pára.
E deixa eu correr para as urnas. Por falar nisso, e o que dizer daquele acidente com o Boeing da Gol? Sei não, muito estranho ... Deve ser estratégia de diversionismo da turma do Lula...
domingo, 1 de outubro de 2006
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