segunda-feira, 20 de março de 2006

Domingo, Dia Sagrado

Domingo pela manhã. Dia lindo. O sol maravilhoso lá fora é um convite irrecusável à praia. Mas para um rubro-negro que se preza, a praia hoje acaba mais cedo. É dia de Maraca. Mais que isso, é dia de Flamengo e Vasco. Dia de uma batalha campal marcada por uma rivalidade sem precedentes no cenário nacional. Jogo de vida ou morte que mexe com os corações dos porteiros dos prédios da rua, do seu Manoel do bar da esquina e do seu Joaquim da banca de jornal. Vascaínos os pobres coitados. Abro o jornal direto na páginas de esportes. Quem joga? Alguma novidade de última hora? Mesmo com todos os problemas, sou mais o Mengão, penso cá com os meus botões. Na praia os rubro-negros são maioria esmagadora. "Hoje tamos lá!"; "Vamos acabar com eles mais uma vez!";" Deixaram o Mengão chegar, agora vamos com tudo." - são os comentários corriqueiros nas rodas de bate-papo. A hora de sair vai se aproximando, o telefone toca algumas vezes. "E ai, quem vai de carro hoje?" ; "A gente se encontra lá em casa e vai..."; "Já comprei os ingressos ontem. Beleza..." A adrenalina aumenta a medida que a hora vai chegando. Deixo os amigos tricolores, (coitados), na praia e volto pra casa pro banho rápido e pra pôr o Manto. Agora é seriedade. Nosso destino está em jogo. Nosso destino está nas mãos daqueles onze homens que ali nos representam. Mais que isso, nosso destino está nas mãos daquele técnico, daquela comissão técnica, daquela diretoria.

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O jogo está para começar. A torcida do Flamengo, como de hábito e como esperado, está em muito maior número que a do adversário. O que se vê em campo é um espetáculo de baixíssimo nível técnico, de pouquíssima vontade, de nenhum amor à camisa. Juan nem se dá ao trabalho de dar dois passos para o lado para buscar uma bola que era totalmente sua, e ela sai mansamente e sem dono pela linha lateral. Os 4 (sim 4!!!) volantes nem se dão ao trabalho de acompanhar Morais que vai levando, levando até estar cara a cara com Diego. Waldemar tira Leonardo Moura e..... ninguém sabe o que ele quis fazer. Eles são culpados? Claro que sim. Mas não estão sozinhos nessa culpa, e nem sequer tem a maior parcela dela. Já a algum tempo sabemos que nossos problemas estão inseridos num contexto maior que assola o clube (e principalmente o futebol carioca): o Caixa D`Água, a Lei Pelé, a dívida monstruosa contraída pelos nossos dirigentes com o passar dos anos, o balcão de negócios que se tornou a Gávea já desde outros tempos, o descuido com o clube e os seus funcionários, a falta de identificação com a torcida de dirigentes, técnicos e jogadores, os empresários impiedosos e oportunistas que andam a solta e tem uma autoridade no nosso clube que muitos dirigentes invejam, a falta de novos talentos, técnicos que se alternam sem o menor planejamento e cada vez que entram uns e saem outros muda-se completamente o preparador físico e o restante da comissão técnica impossibilitando a continuidade do trabalho físico, salários astronômicos totalmente fora da realidade cotidiana pagos sem critério para jogadores fora de forma, sem talento, sem interesse, e sem o menor amor a camisa, um presidente alienado, que mal sabe o que acontece em seu próprio clube, contratações estapafúrdias, sem necessidade e sem sentido, a manutenção no elenco de jogadores caros, que não jogam, e portanto sem utilidade para o clube, a péssima gestão administrativa, financeira, a falta total de um planejamento sério, feito por profissionais competentes, a ausência inexplicável de um projeto de marketing ambicioso para explorar o que nós ainda temos de melhor, a nossa torcida e a nossa marca, enfim, o total desrespeito às nossas tradições e ao nosso nome.
Não dá mais para se pensar em Flamengo e se pensar só em futebol. Há muita coisa que se fazer nos bastidores para que nós possamos culpar esse ou aquele jogador apenas, discutir exclusivamente a tática empregada por tal treinador, reclamar do centroavante que perdeu um gol feito, ou do juiz que não marcou aquele pênalti claro. Tornou-se inevitável não pensarmos em todos os fatores citados acima, e não somente no jogo em si, como antigamente.

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Domingo é sagrado. Domingo é dia de Maraca. E se é Flamengo e Vasco então, é dia de gala. Foi assim que eu aprendi com o meu pai e com o meu avô.
Volto pra casa extasiado. Minha primeira "final" no Maraca e o Rondinelli decide a parada faltando 2 minutos pro final deixando o Leão sem pai nem mãe, depois do córner batido pelo Galinho. Festa nas ruas, o Rio é rubro-negro.

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Dali a gente partiu pra conquistar o Brasil, as Américas e o mundo.
Hoje, já não existem mais o seu Manoel, nem o seu Joaquim, nem tampouco temos aquele time dos sonhos. Nosso clube já não é mais aquele modelo de incentivo a geração de craques fabricados em casa, de inovações táticas e de planejamento.
E mais do que isso, hoje nós não conseguimos mais pensar só em futebol, tem a dívida monstruosa, o balcão de negócios, o presidente alienado, a Lei Pelé.....
Mas o domingo ainda é um dia sagrado. E eu me pergunto: até quando....?

Flamengo Net

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