domingo, 3 de abril de 2005

Ainda da Seletiva

O Engenheiro Márcio Simas, carioca, 33 anos, enviou seu texto com algumas horas de atraso e não pode entrar na Seletiva. No entanto, a Comissão considerou o melhor texto enviado, segundo os critérios adotados.

Por isso, resolvemos convidá-lo a fazer parte do nosso time. Eis o texto dele:

Talvez venha do meu avô, certamente o maior rubro-negro que conheci, mas o Fla-Flu sempre trouxe para mim emoções diferentes. Para ele, o Fla-Flu era imprescindível, fundamental, e derrotar os pós-de-arroz era questão de vida ou morte.

Ele casou com a minha avó, rica, de família importante, tendo vindo do Nordeste tentar a vida como dentista humilde no Rio. E, nas suas próprias palavras, a única coisa que poderia estragar aquele casamento (que durou mais de 50 anos) era o Flamengo. Sim, porque toda a família dela era pó-de-arroz, e os almoços de domingo, tradicionais, com lugares reservados à mesa, tinham sempre um lugar vazio: o do meu avô, que sempre dava um jeito de comer antes na cozinha, fugir do protocolo, e se mandar pro estádio ver o seu Querido Mengão jogar.

E só mesmo a lembrança dele contando as vitórias sobre o arqui-rival-familiar já me enche os olhos de lágrimas.

Como a famosa virada de 5 a 2 que celebrizou Caio-Cambalhota. Nessa, ele havia levado uns ingleses para ver o maior espetáculo da Terra, passou antes na Igreja de São Judas Tadeu, "Mengo´s Church", e mostrou para eles porque ele considerava aquele time que possuía o "goal-keeper" da seleção um bando de "dead-chicken". Parece que eles saíram do Maraca com camisa e bandeira do Mengão e jurando amor eterno ao Mais Querido do Brasil.

Eu venho de outra geração. O meu arqui-rival é o Vasco, como não podia deixar de ser, desde aquele gol de Rondinelli, meu 1º título ali nas arquibancadas do Maraca, então com 7 anos.

Mas o Fluminense teve sempre um sabor diferente. Foi sempre inusitado, sempre curioso.

Passei meus primeiros dois anos de arquibancada virgem, sem uma derrota sequer no currículo, e essa veio justamente contra o tricolor, num acachapante 3 a 0, no final de 79. Voltei pra casa chorando, atordoado.

Tiveram também empates maravilhosos, verdadeiras vitórias virtuais, como a daquele golaço do Leandro, no qual a torcida inteira já estava de pé há mais de 30 minutos antecipando o destino inexorável.

Houve vitórias certas, absolutas, inquestionáveis, como a final de 91, com Júnior e Zinho no esplendor da forma. E houve, claro, a magia, o imponderável... O meu Caio-Cambalhota foi Roger, que num domingo iluminado de um jogo inesquecível, calou a boca daqueles que já comemoravam a vitória saudando João-de-Deus e entrando pro hall dos heróis (de um dia) de uma Nação.

Por que eu gosto do Fla-Flu ? Por causa do meu avô, ora....

Abenção vô....


Parabéns, Márcio, seja bem-vindo.

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