Bons tempos...
Futebol já foi uma coisa bonita, emocionante, boa de se ver! Os times jogavam com dois pontas abertos, Joel pegava na direita, puxava a marcação e, de repente, invertia o jogo para a esquerda, bola redonda no pé do Esquerdinha, do Zagalo, do Babá...
Muitos gols o Flamengo fez desta forma, os adversários concentrados de um lado e, como num passe de mágica, a bola virava para o outro, defesa toda torta, cruzamento perfeito... Gol do Flamengo, Índio, Benitez, Evaristo, Paulinho...
Cansamos de ganhar jogos assim, o Flamengo era um time respeitado, o Rolo Compressor, meter quatro ou cinco não era nada do outro mundo! Como?... Você está dizendo que era mole jogar, ninguém marcava ninguém, a turma daquele tempo não teria vaga hoje?... É, está se vendo que você não viu jogar o Pavão, o Eli do Amparo, o Pinheiro, tudo beque da roça, uma enxadada, três minhocas... Pau puro!
Aí ... Bem ... O futebol foi evoluindo, apareceram os preparadores físicos criados em apartamento, bola só no play-ground, esse negócio de drible atrasa o jogo, é preciso correr sem bola... O "Canhotinha" Gerson detestava os puxados exercícios físicos, ficava no fim da fila, não pulava a barreira móvel, passava ao lado, olho no preparador físico, pular aquela altura toda, pra que?
Na hora do jogo o atleta perfeito que fazia trezentas abdominais produzia pouco, o Garrincha, o Dequinha, o Jair Rosa Pinto, esses ?matavam a pau?, bola no pé esquerdo do Canhoteiro era um ?Deus nos acuda!?
Mas a evolução ganhou corpo, agora era necessário correr cem metros em dez segundos! O que?... Ah, a bola! É, esse negócio de correr e ainda ter que conduzir a bola precisava ser resolvido... Um chutão pra frente ... Pronto! Defesa sólida, meio-campo marcador, melhor recuar um dos pontas, esse história de atacar com quatro é puro luxo, um exagero!
Na Copa de 58 Zagalo barrou o Pepe e o Canhoteiro, pontas de ir na linha de fundo, cruzamento perfeito na cabeça do centro-avante. Com Zagalo a morte do ponta esquerda ofensivo estava decretada, todo mundo passou a jogar com três atacantes, as vezes dois, voltava também o ponta direita, Garrincha era a exceção, volta Mané! Leve e solto, sem as amarras dos esquemas táticos, Garrincha enfileirava a defesa inteira, às vezes voltava driblando todo mundo outra vez, por que você não cruzou? Simplicidade de passarinho, tentava explicar, mas seu Zezé, o joão custou a abrir as pernas...
Bons tempos... Futebol de bola rolando noventa minutos, torcida na ponta do pé, ai meu Deus, como é que a defesa do Vasco vai segurar o Mané? E tome cacetada, Paulinho, Beline, Orlando e Coronel, até o pescoço é canela, Garrincha pulava, bola no meio das pernas, marcador no chão, que beleza! O estádio vinha abaixo! Na maioria das vezes cento e cinqüenta mil expectadores! Eu não entendo... A população aumentou, triplicou, sei lá, mas os torcedores diminuíram, parece que preferem ficar em casa!...Futebol agora só pela televisão e depois da novela, coisa de vinte e duas, vinte e três horas... Cada horário esquisito...
Não sei o que vou fazer... O futebol sempre foi parte importante na minha vida, nada de compromisso domingo, dia de Maracanã, aniversário e casamento nem pensar!... É... chato este negócio de saudades! Queria dizer que o Ronaldinho é craque consagrado, vai entrar para a história, arrebenta com o jogo, mas de repente lembro do Pagão, antigo centro-avante do Santos, corpo magro e canelas finas, tabelinha com Pelé, Pepe ou Dorval, craque como poucos, quase não jogou na Seleção...Mas é claro! Tinha gente muito melhor... Desculpe a irreverência, mas o Fenômeno nem chegaria a ter chance de engraxar as chuteiras do Pagão... É... Bons tempos!
segunda-feira, 15 de novembro de 2004
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