Junior, 1000 jogos - Último Texto - Obrigado, Júnior - Por Lucas Dantas Loureiro*
- Ei Juan, vamos fazer uma homenagem ao Júnior, no blog? - perguntei.
- Claro. O que você sugere?
- Sei lá. Qualquer coisa, mas que chame a atenção.
- Que tal juntar uns nomes e pedir uns depoimentos de ex-jogadores e jornalistas e colocamos no blog.
- Demorô. Manda pra nossa lista e vamos ver o que o pessoal acha.
E foi assim que começou. Mandei o e-mail pra lista que temos e logo as sugestões pipocaram. Começamos a pensar nos nomes que tinham jogado com o Júnior e jornalistas que poderiam ter causos interessantes para contar.
Fiquei martelando isso na minha cabeça e a cada dificuldade, mais eu me empolgava. Como faria para entrar em contato com os jogadores? Como arrumar os e-mails, telefones, sinais de fumaça? E o mais difícil: como convencê-los a participar? Foi um exercício gostoso de memória. "Esse jogou com o Júnior?", "e aquele, jogou também?". Horas e horas durante a tarde para montar esse projeto, até chegarmos nos nomes considerados ideais.
Lógico que a prioridade seria do pessoal da "excursão" que o Flamengo fez para Tóquio em 1981, então corremos atrás. Alex me manda o MSN no meio da tarde dizendo "vou conversar com o Raul na quarta feira. Eu falei com um campeão do mundo no telefone!". Já comecei a sentir ali que esse negócio não seria qualquer coisa.
Mestre Arthur, entulhado de afazeres, ficava na torcida e se lamentava por não poder participar tanto. O Instituto de Datas e Estatísticas Data-Mau funcionava a todo vapor. Eu, Juan, Alex, Mauricio e Kleber parecíamos executivos em diferentes cidades, decidindo quem entra e quem sai em conferências no messenger. Disparamos os convites. Desnecessário dizer, que o depoimento que mais aguardávamos era o Dele.
Mas esse foi difícil. Como chegar ao Galinho? A qual Igreja recorrer para ter uma conversa com Deus e pedir que Ele discorresse sobre um de seus mais fiéis apóstolos? Pensa daqui, racha a cabeça dali e Eureca!
- Alô, Carol?
- Oi (saco). Que que você quer agora?
- Você por acaso tem o telefone ou o e-mail do Zico?
- Tenho.
- Será que você.....
Pronto. Espalhei para o pessoal e pedi aquela oração. Ele tinha que escrever também. E voltamos à nossa luta.
Chega o primeiro texto. Zé Mario manda seu depoimento. Logo em seguida, o sempre prestativo Roberto Assaf (a quem muito jornalista poderia pedir conselhos) nos brinda com o espetacular "O negro Humberto, enfim, aceitou a barracão". Genial. Fantástico. Imagino que ele deva ter se divertido também, já que usar a memória é o que o Assaf mais gosta de fazer. E veio logo em seguida, o primeiro texto de um blogueiro. Gustavo de Almeida não economiza nas palavras e na emoção com o "Como perde um vencedor". Pelo teor do texto, parecia até que o próprio Gustavo estava em campo quando Junior isolou a bola.
Muito legal, o projeto estava andando, mas faltavam os depoimentos de jogadores. Cadê? Como fazer uma homenagem, sem o pessoal que realmente participou da carreira do Júnior? E chegou a quarta feira.
Alex e Juan me falam "pegamos o Raul e o Baresi". Mauricio, extasiado, me manda o de Lico. Gilmar Rinaldi envia o texto por e-mail. A essa altura, eu já tinha ligado para Rondinelli, mas o cara não parava num canto, então, para mandar o texto seria muito difícil. Mas ele mandou. E, de repente, não mais que de repente, chega um e-mail importante, que mudaria tudo.
"Lucas, o Zico DEVERÁ mandar só depois do dia 15, já que ele está com a Seleção do Japão.
Beijos,
Carol."
Deverá??? Ai meu Deus, e se Ele não mandar? Carol tentava me tranqüilizar com a convicção de uma flanática, que Ele mandaria sim, sem problemas. Enquanto isso, ela cobrava o Roger Garcia, seu editor, que não mandava o dele.
Já no blog, Pablo faz todo mundo chorar com o "Lance que marcou uma geração". Quem chorou também foi meu amigão Adriano, que dia sim, dia também, reclama via e-mail, que o texto do Gustavo o fez chorar copiosamente, deixando preocupados, todos no seu trabalho.
Claro que teve gente que não respondeu, ou respondeu e sumiu, mas isso é compreensível. Entre uma busca e outra, Mauricio revisava seu "Tapa na bola" a ponto de deixá-lo o mais próximo possível da versão definitiva. Acredito que ele ainda vá mudar seu texto mais uma vez no futuro, embora, por mais que tente, melhorar o perfeito é impossível. Mas como me divirto com a neurose dele, não falo nada e deixo ele tentar.
"Lucas, já disse que Ele vai mandar, mas Ele está com a Seleção do Japão. Só no dia 15. Vá arrumar o que fazer e me deixa em paz!
Beijos,
Carol."
Eu perturbava a coitada. Já tinha passado para ela vários outros nomes, mas era tudo desculpa para perguntar se Ele já tinha enviado o texto, a frase, o parágrafo, um ponto final que fosse. PC Vasconcellos mandou sua homenagem. Areosa também. Continuávamos pensando em nomes e preparando a placa para entregar para o homenageado. O pessoal do Flamengo combinou que seria no sábado de manhã, mas quase foi marcado para o Maracanã, antes do jogo. Mas ficou ótimo e vai ser na Gávea mesmo.
Ligo para orçar a placa, vejo com o Juan como vai ser o pagamento e começamos a fazer o lay-out. Um parceiro meu do trabalho engana o chefe por uns minutos e faz o trabalho na surdina. A placa está pronta para ser enviada. A homenagem vai ganhando mais força.
"Lucas, recebi a palavra de Deus
Beijos,
Carol".
Pára tudo! Agora fudeu de vez! Ele escreveu! Avisei a todos na lista, mas é lógico que só veriam o 11º Mandamento, quando acessassem o blog. As reações de Juan, Gustavo, Arthur, Kleber, Alex e Mauricio foram idênticas, embora não creio que tenham combinado.
"Caralho!"
Esperei a calada da noite para colocar o texto. E quando acordei, corri para o blog. Pela reação do pessoal, eu poderia dizer "chega, o trabalho foi bem feito". E depois que vi a menção no Lance!, fiquei com o sorriso igual ao do gato da Alice no País das Maravilhas. Juan ainda me fala que o site oficial do Flamengo estava colocando os textos e que o Júnior já estava sabendo dessa inédita reunião de memórias flamengas. Não cabia dentro de mim.
Mas os textos não paravam de chegar e o trabalho continuava. Carolina mandou a sua obra-prima. Juan enviou o texto que parecia estar esperando 1000 jogos para ser publicado. Roger Garcia manda um conto mágico. Eu era o único lesado do blog/lista que ainda não havia escrito nada. Quer dizer, eu já tinha escrito sim, já estava guardado desde o primeiro dia.
O texto remetia à final estadual de 1991 quando goleamos os tricolores. Mas, ao ver o trabalho sendo feito, pensei comigo mesmo: "Por que escrever sobre memórias passadas, quando o pessoal já o fez com maestria ímpar? Por que tentar fazer todos chorarem com os bons tempos que não voltam mais? Minha memória é a mesma de muita gente aqui. Minha alegria e orgulho de fã do Júnior idem. Mas eu esqueceria de uma alegria mais recente. A de fazer esse projeto. Até isso, o Júnior fez por mim. Foi um puta jogador e me deu essa vontade de poder agradecer a tudo o que ele fez pelo Flamengo e sua torcida. Eu sempre quis fazer isso e agora estou tendo uma chance única".
Então preferi escrever as linhas acima para contar a vocês como tudo aconteceu. As críticas poderão continuar no futuro, mas agora é o momento de cantar parabéns ao Maestro verdadeiro. Ao jogador que mais apareceu nas fotos antes dos jogos. Ao meu ídolo, Júnior.
Obrigado mesmo. Aceite essa singela homenagem, como um obrigado de 35 milhões de brasileiros que hoje são mais felizes, muito por sua causa.
* Lucas Dantas, 26 anos, estudante de jornalismo, agradece a ajuda de todos nesse projeto e pede desculpas pelo tamanho do texto. Mas a vontade de desabafar falou mais alto.
sexta-feira, 22 de outubro de 2004
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