Saudações
flamengas a todos. Ultimamente, em algumas pesquisas que ando
fazendo, tenho me deparado com uma série de bobagens, que a
facilidade de acesso aos meios digitais ajuda a disseminar como
praga. Os argumentos subjetivos não me incomodam, mas a forma como a
realidade dos fatos é espancada merece, sim, algum tipo de réplica.
Isso me motivou a criar uma série, onde alguns mitos serão
analisados e devolvidos a essa condição. Sei que a maioria já
conhece as histórias, mas é sempre bom deixar registrado. Boa
leitura.
CAÇANDO
MITOS – PARTE 1
CAMPEONATO
MUNDIAL INTERCLUBES 1981
LENDA
1
O Flamengo enfrentou uma galinha morta na Final. Além disso, o
Liverpool jogou com um time misto.
OS
FATOS
O Liverpool era o mais temido, mais respeitado e melhor equipe da
Europa, tendo construído uma hegemonia continental que dificilmente
será igualada. Foi Campeão inglês em 1976, 77, 79 e 80, Campeão
da UEFA em 1976 e Campeão Europeu em 1977, 1978 e 1981 (ganharia de
novo em 1984) Conhecido como Red Army, foi um dos maiores esquadrões
europeus da história, como o Real Madrid dos anos 50, o Ajax da
década de 70, a Juventus dos 80's e o Barcelona dos tempos mais
recentes. E nas finais daquele Europeu de 1981, passou pelo Real
Madrid e pelo badalado Bayern Munique de Breitner e Rummenigge, base
da seleção alemã campeã européia. Mais
detalhes, nesse post AQUI.
Ou
seja, a galinha estava longe de ser morta. Era bem viva. Vamos ao
ponto seguinte, a escalação.
Essa
é fácil. É só comparar a formação do Liverpool na final da Copa
dos Campeões da Europa (hoje Champions League) com a usada no
Mundial.
Escalação
Liverpool 1-0 Real Madrid (Final Copa Campeões Europa): Clemence;
Neal, Thompson, Hansen, A.Kennedy; Lee, McDermott, Souness,
R.Kennedy; Dalglish, Johnson
Escalação
Flamengo 3-0 Liverpool (Mundial): Grobbelaar; Neal, Thompson, Hansen,
Lawrenson; Lee, McDermott, Souness, R. Kennedy; Dalglish, Johnson
Há
apenas duas mudanças. O lateral-esquerdo Alan Kennedy estava
contundido e não foi ao Japão. E o goleiro Clemence não atuava
mais no clube, havia se transferido para o Tottenham no meio do ano.
Ou seja, o Liverpool atuou com todas as estrelas (Souness, Dalglish,
McDermott) em campo. Só um desfalque. Ou seja, nada de cascata de
time misto. Lamento, não procede.
Esclarecido
que o Flamengo passou o carro em um dos melhores times europeus da
história, e que esse time atuou completo, vamos à próxima falácia.
LENDA
2
O goleiro do Liverpool deu entrevista dizendo que entregou o
jogo. A Toyota, inclusive, cogitou declarar o título de 1981 vago.
Ou seja, campeonato roubado.
OS
FATOS
A
origem dessa presepada está em uma denúncia feita pelo tablóide
The Sun, onde o goleiro Grobbelaar é acusado de ser subornado para
facilitar alguns resultados no Campeonato Inglês (casas de apostas).
O goleiro foi denunciado e absolvido, mas ao tentar processar o
jornal não conseguiu provar que a reportagem era uma fraude, o que
manteve sua reputação, digamos, manchada.
E
o Flamengo com isso?
É
que o site de humor cocadaboa viu nessa história um bom mote para
uma brincadeira e criou essa reportagem AQUI,
legal pra dar risada e descontrair.
Só
que é aquilo. Falou mal do Flamengo, virou verdade. As irisetes
ensandecidas se crisparam e se arrepiaram, e logo os blogs de
“flamídia”, “dossiê flamengo”, “fla globo” começaram a
pipocar suas verdades. Até um jornal de Pernambuco (de onde? Ah, tá)
repercutiu a nota como real (esses estagiários...) Enfim, a piada
virou verdade e até hoje aparece gente enchendo a boca pra requentar
a história.
O
FATO é que o mitológico time do Liverpool esteve muito perto da
glória suprema. Mas em seu caminho estava o Flamengo.
TAÇA
LIBERTADORES 1981
LENDA
1
Os times argentinos e uruguaios não disputaram a competição.
A Argentina estava na Guerra das Malvinas e boicotou a Libertadores,
e teve o apoio do Uruguai, em solidariedade. O Flamengo ganhou uma
Libertadores jogando só com galinha morta.
OS
FATOS
Esse
é um dos argumentos mais criativos e risíveis. A realidade é
distorcida com uma desfaçatez tão requintada que chega a suscitar
arroubos de condescendência. Vamos lá.
Os
representantes argentinos na Taça Libertadores de 1981 foram o River
Plate e o Rosario Central, que alinharam no Grupo 1, junto com os
colombianos Deportivo Cali e Atletico Junior, de Barranquilla. Na
época, somente passava uma das equipes, e o Deportivo Cali foi quem
avançou, ao derrotar o River Plate por 2-1 (VIDEO) em partida histórica no
Monumental de Nuñez.
Já
os uruguaios Peñarol e Bella Vista formaram no Grupo 5, com os
venezuelanos. O Peñarol passou com facilidade, e na Semifinal ficou
na Chave 2, com Cobreloa-CHI e o campeão do ano anterior, o Nacional
do... Uruguai. Após partidas duríssimas e sensacionais, o Cobreloa
(que ganhou as duas em Montevideo) sagrou-se vencedor da chave,
qualificando-se assim para enfrentar o Flamengo na Final.
Ou
seja, nada dessa balela de que não tinha argentino e uruguaio.
Aliás, tinha até uruguaio de sobra. Foram três. Tá bom assim?
Ah,
aos desavisados, a Guerra das Malvinas aconteceu em 1982.
LENDA
2
Tudo bem, os argentinos e uruguaios atuaram. Mas os argentinos
estavam com times mistos, em protesto contra a Conmebol.
OS
FATOS
Teve
protesto nenhum. O fato é que o futebol argentino estava em crise, o
último time de lá a ganhar Libertadores havia sido o Boca Juniors,
em 1978 (e só voltariam a ganhar em 1984). A seleção deles, apesar
de campeã mundial, não ganhava do Brasil desde 1970, e boa parte da
torcida já imaginava um fracasso no Mundial do ano seguinte. Cada
clássico era uma carnificina (torcidas organizadas, os “barras
bravas”, incontroláveis), as TV's e os clubes não se entendiam, o
país vivia sérios problemas financeiros, clubes perto de quebrar,
enfim, um caos. Isso explica as campanha fraca dos times argentinos
na competição, não esse papo de equipe mista. Mesmo assim, vamos
olhar o time que o River Plate colocou em campo na partida decisiva
contra os colombianos do Deportivo Cali:
Fillol,
Saporitti, Pavoni, Daniel Passarella, Tarantini; López, Merlo,
Comisso (Ramón Díaz), Husemann; Heredia, Mario Kempes
Os
jogadores Fillol, Passarella, Tarantini, Ramón Dias e Kempes eram
TITULARES da seleção argentina e atuariam no Mundial do ano
seguinte. Kempes havia acabado de retornar da Europa, em uma
contratação recebida com grande estardalhaço. Além do time
titular, o River lotou o estádio, mas o Cali soube aproveitar os
pontos fracos dos argentinos e venceu a partida. Até hoje é um jogo
lembrado como um dos maiores da história do time colombiano.
Finalizada
essa conversa mole de times argentinos e uruguaios, vamos ao último ponto de hoje.
LENDA
3
O Cobreloa era um time fraquíssimo, uma baba.
É que contra o Flamengo qualquer um virava baba...
Serei
breve. Os melhores da América na época eram Flamengo, Nacional-URU,
Peñarol e Cobreloa.
O
Cobreloa era o melhor time do Chile, e tinha três jogadores na
Seleção Chilena (Wirth, Mario Soto, Escobar) que foi à Copa em
1982. Disputou DUAS finais seguidas da Libertadores, em 1981 e 1982.
Nenhum time disputa duas finais da Libertadores à toa. Ah, é porque
era do Chile? E a La U, de sucesso recente, não era de lá?
Então,
o Cobreloa não pode? E o Barcelona de Guayaquil pode?
(A série continua)
Boa semana a todos.
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