terça-feira, 14 de agosto de 2012

Alfarrábios do Melo


Saudações flamengas a todos. Ultimamente, em algumas pesquisas que ando fazendo, tenho me deparado com uma série de bobagens, que a facilidade de acesso aos meios digitais ajuda a disseminar como praga. Os argumentos subjetivos não me incomodam, mas a forma como a realidade dos fatos é espancada merece, sim, algum tipo de réplica. Isso me motivou a criar uma série, onde alguns mitos serão analisados e devolvidos a essa condição. Sei que a maioria já conhece as histórias, mas é sempre bom deixar registrado. Boa leitura.

CAÇANDO MITOS – PARTE 1

CAMPEONATO MUNDIAL INTERCLUBES 1981

LENDA 1
O Flamengo enfrentou uma galinha morta na Final. Além disso, o Liverpool jogou com um time misto.

OS FATOS
O Liverpool era o mais temido, mais respeitado e melhor equipe da Europa, tendo construído uma hegemonia continental que dificilmente será igualada. Foi Campeão inglês em 1976, 77, 79 e 80, Campeão da UEFA em 1976 e Campeão Europeu em 1977, 1978 e 1981 (ganharia de novo em 1984) Conhecido como Red Army, foi um dos maiores esquadrões europeus da história, como o Real Madrid dos anos 50, o Ajax da década de 70, a Juventus dos 80's e o Barcelona dos tempos mais recentes. E nas finais daquele Europeu de 1981, passou pelo Real Madrid e pelo badalado Bayern Munique de Breitner e Rummenigge, base da seleção alemã campeã européia. Mais detalhes, nesse post AQUI. 

Ou seja, a galinha estava longe de ser morta. Era bem viva. Vamos ao ponto seguinte, a escalação.

Essa é fácil. É só comparar a formação do Liverpool na final da Copa dos Campeões da Europa (hoje Champions League) com a usada no Mundial.

Escalação Liverpool 1-0 Real Madrid (Final Copa Campeões Europa): Clemence; Neal, Thompson, Hansen, A.Kennedy; Lee, McDermott, Souness, R.Kennedy; Dalglish, Johnson

Escalação Flamengo 3-0 Liverpool (Mundial): Grobbelaar; Neal, Thompson, Hansen, Lawrenson; Lee, McDermott, Souness, R. Kennedy; Dalglish, Johnson

Há apenas duas mudanças. O lateral-esquerdo Alan Kennedy estava contundido e não foi ao Japão. E o goleiro Clemence não atuava mais no clube, havia se transferido para o Tottenham no meio do ano. Ou seja, o Liverpool atuou com todas as estrelas (Souness, Dalglish, McDermott) em campo. Só um desfalque. Ou seja, nada de cascata de time misto. Lamento, não procede.

Esclarecido que o Flamengo passou o carro em um dos melhores times europeus da história, e que esse time atuou completo, vamos à próxima falácia.

LENDA 2
O goleiro do Liverpool deu entrevista dizendo que entregou o jogo. A Toyota, inclusive, cogitou declarar o título de 1981 vago. Ou seja, campeonato roubado.

OS FATOS
A origem dessa presepada está em uma denúncia feita pelo tablóide The Sun, onde o goleiro Grobbelaar é acusado de ser subornado para facilitar alguns resultados no Campeonato Inglês (casas de apostas). O goleiro foi denunciado e absolvido, mas ao tentar processar o jornal não conseguiu provar que a reportagem era uma fraude, o que manteve sua reputação, digamos, manchada.

E o Flamengo com isso?

É que o site de humor cocadaboa viu nessa história um bom mote para uma brincadeira e criou essa reportagem AQUI, legal pra dar risada e descontrair.

Só que é aquilo. Falou mal do Flamengo, virou verdade. As irisetes ensandecidas se crisparam e se arrepiaram, e logo os blogs de “flamídia”, “dossiê flamengo”, “fla globo” começaram a pipocar suas verdades. Até um jornal de Pernambuco (de onde? Ah, tá) repercutiu a nota como real (esses estagiários...) Enfim, a piada virou verdade e até hoje aparece gente enchendo a boca pra requentar a história.

O FATO é que o mitológico time do Liverpool esteve muito perto da glória suprema. Mas em seu caminho estava o Flamengo.

TAÇA LIBERTADORES 1981

LENDA 1
Os times argentinos e uruguaios não disputaram a competição. A Argentina estava na Guerra das Malvinas e boicotou a Libertadores, e teve o apoio do Uruguai, em solidariedade. O Flamengo ganhou uma Libertadores jogando só com galinha morta.

OS FATOS
Esse é um dos argumentos mais criativos e risíveis. A realidade é distorcida com uma desfaçatez tão requintada que chega a suscitar arroubos de condescendência. Vamos lá.

Os representantes argentinos na Taça Libertadores de 1981 foram o River Plate e o Rosario Central, que alinharam no Grupo 1, junto com os colombianos Deportivo Cali e Atletico Junior, de Barranquilla. Na época, somente passava uma das equipes, e o Deportivo Cali foi quem avançou, ao derrotar o River Plate por 2-1 (VIDEO) em partida histórica no Monumental de Nuñez.

Já os uruguaios Peñarol e Bella Vista formaram no Grupo 5, com os venezuelanos. O Peñarol passou com facilidade, e na Semifinal ficou na Chave 2, com Cobreloa-CHI e o campeão do ano anterior, o Nacional do... Uruguai. Após partidas duríssimas e sensacionais, o Cobreloa (que ganhou as duas em Montevideo) sagrou-se vencedor da chave, qualificando-se assim para enfrentar o Flamengo na Final.

Ou seja, nada dessa balela de que não tinha argentino e uruguaio. Aliás, tinha até uruguaio de sobra. Foram três. Tá bom assim?

Ah, aos desavisados, a Guerra das Malvinas aconteceu em 1982.

LENDA 2
Tudo bem, os argentinos e uruguaios atuaram. Mas os argentinos estavam com times mistos, em protesto contra a Conmebol.

OS FATOS
Teve protesto nenhum. O fato é que o futebol argentino estava em crise, o último time de lá a ganhar Libertadores havia sido o Boca Juniors, em 1978 (e só voltariam a ganhar em 1984). A seleção deles, apesar de campeã mundial, não ganhava do Brasil desde 1970, e boa parte da torcida já imaginava um fracasso no Mundial do ano seguinte. Cada clássico era uma carnificina (torcidas organizadas, os “barras bravas”, incontroláveis), as TV's e os clubes não se entendiam, o país vivia sérios problemas financeiros, clubes perto de quebrar, enfim, um caos. Isso explica as campanha fraca dos times argentinos na competição, não esse papo de equipe mista. Mesmo assim, vamos olhar o time que o River Plate colocou em campo na partida decisiva contra os colombianos do Deportivo Cali:

Fillol, Saporitti, Pavoni, Daniel Passarella, Tarantini; López, Merlo, Comisso (Ramón Díaz), Husemann; Heredia, Mario Kempes

Os jogadores Fillol, Passarella, Tarantini, Ramón Dias e Kempes eram TITULARES da seleção argentina e atuariam no Mundial do ano seguinte. Kempes havia acabado de retornar da Europa, em uma contratação recebida com grande estardalhaço. Além do time titular, o River lotou o estádio, mas o Cali soube aproveitar os pontos fracos dos argentinos e venceu a partida. Até hoje é um jogo lembrado como um dos maiores da história do time colombiano.

Finalizada essa conversa mole de times argentinos e uruguaios, vamos ao último ponto de hoje.

LENDA 3
O Cobreloa era um time fraquíssimo, uma baba.

É que contra o Flamengo qualquer um virava baba...
 
Serei breve. Os melhores da América na época eram Flamengo, Nacional-URU, Peñarol e Cobreloa.

O Cobreloa era o melhor time do Chile, e tinha três jogadores na Seleção Chilena (Wirth, Mario Soto, Escobar) que foi à Copa em 1982. Disputou DUAS finais seguidas da Libertadores, em 1981 e 1982. Nenhum time disputa duas finais da Libertadores à toa. Ah, é porque era do Chile? E a La U, de sucesso recente, não era de lá?

Então, o Cobreloa não pode? E o Barcelona de Guayaquil pode?

(A série continua)

Boa semana a todos.

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