quinta-feira, 2 de junho de 2011

O SIMPLES É BELO
Que um clube de futebol não é uma empresa, eu sei. Que um clube tanto de futebol como social tampouco é uma empresa, eu também sei. Mas, considerando o atual estágio de competitividade e sofisticação em que o futebol de ponta no mundo se encontra, é absolutamente imprescindível que os clubes cujo carro-chefe é o futebol, sigam o mais perto possível a estrutura funcional e operacional de uma empresa de alta performance.
Alguém, em sã consciência, concebe que a mudança da presidência ( ou do CEO ) de uma empresa como a Coca-Cola, a IBM, a Vale, a Apple ou a Telefônica, provoque uma reformulação completa em seus quadros profissionais operacionais? Por exemplo, sai o Roger Agnelli ou o Antonio Carlos Valente e os diretores de marketing, de finanças, o jurídico, o comercial e os demais são todos trocados? Isso não acontece, pelo menos não no mundo das grandes corporações. Há um senso de continuidade, que pode sofrer alguns ajustes pontuais para se adaptarem ao perfil do novo “comandante”, ou para corrigir algum problema específico em um determinado departamento, em função de novas prioridades que ele traz da sua nomeação pelo Conselho ou board de acionistas. Mas a absoluta maioria da equipe permanece, até para que o trabalho tenha continuidade, ainda mais se considerarmos que todos trabalham com planejamento estratégico de médio e longo prazos.
Por que, então, não se faz o mesmo num clube com a estrutura do Flamengo? Vejam bem que estamos falando de uma “corporação”, com um orçamento de mais de R$ 100 milhões anuais, e que caminha a passos rápidos e largos para algo em torno do dobro ou até o triplo desse valor. Não é possível administrar isso de forma personalista, ao sabor dos interesses de grupos que se revezam no comando, sem um mínimo de continuidade. Sob pena de termos um resultado desastroso.
Por que de toda essa introdução?
Porque, por incrível que possa parecer, é assim que o Flamengo funciona. Vamos para um ano e meio de administração da atual presidente, e o departamento de marketing, por exemplo, resolveu re-inventar a roda. Tudo que estava em andamento, foi alterado. O que começou, foi suspenso. E o pior é que, naquilo que é fundamental, de que o clube depende para crescer e se consolidar, parou tudo.
Não me venham com a conversa de que essa administração conseguiu multiplicar as receitas por conta da nova negociação da TV: essa administração não começou essa revolução. Foi o conjunto dos clubes que se aproveitou de uma oportunidade única e impôs um salto nos valores dos contratos. A administração do Flamengo foi no vácuo e acompanhou a maioria. Ninguém vai me convencer que o Flamengo liderou esse processo, porque eu não acredito nisso. O Flamengo está no topo desse ranking, em termos de valor, por inércia. Se não houvesse ninguém comandando o Flamengo, os valores seriam os mesmos, iguais aos do MSI.
Na verdade, acho até que estamos na “rabeira” desse processo: vejo o Andrés muito mais eficiente em fazer o time dele se destacar na exposição da mídia aberta e nas ações de marketing, o que pode acabar fazendo que eles acabem nos alcançando em número de torcedores. Não simplesmente por competência deles mas, principalmente, por incompetência nossa. Não é à toa que eles já tem um número 30% maior de veiculações em TV aberta. Se não acordarmos vamos perder esse trem.
Mas o que este texto procura alertar não é nem isso: o objetivo aqui é gritar contra esse aparelhamento dos setores críticos da administração do clube. Cada um que entra, traz sua patota e isso é inaceitável, estamos contratando o caos e o abismo para o futuro. Não se trata das pessoas, trata-se da filosofia. Diríamos que se trata da cultura da empresa, se fôssemos uma.
A atual administração, ao que tudo indica, se propõe a ser um divisor de águas, uma revolução na gestão do Flamengo. Sinto muito, presidente, se a senhora não conseguir enxergar o óbvio, não vai rolar. Há muitos empresários trabalhando pelo Flamengo, não há? Pois aconselhe-se com eles. E faça o feijão-com-arroz. Isso pode ser muito mais revolucionário, em temos de resultado para o clube, que qualquer outra coisa que a senhora possa fazer. Para uma ex-atleta, que escolheu a política como carreira subseqüente, a inexperiência administrativa não pode ser uma desculpa para não fazer o certo. E o certo é o simples: definir a estrutura, consolida-la nas posições chave, remunera-la de forma profissional, estabelecer um planejamento básico de curto, médio e longo prazo e deixar essa gente trabalhar. Por vário anos, e mandatos. Só muda se não houver produtividade e resultados. O capitalismo funciona assim e ninguém inventou nada mais eficiente e produtivo.

Flamengo Net

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