terça-feira, 5 de abril de 2011

Alfarrábios do Melo

Saudações flamengas a todos. Essa semana quero começar a relembrar mais uma conquista recente, um título que simbolizou o fim de uma era de caos. Essa é a primeira parte. Em negrito, links para vídeos. Boa leitura.

A Copa do Brasil de 2006 – Parte I


2006. Vivendo um dos piores períodos da sua história, os chamados “anos de chumbo”, um inferno astral iniciado no segundo semestre de 2001 e que por quatro vezes quase culminou no rebaixamento à Segunda Divisão, o Flamengo busca, enfim, esboçar alguma reestruturação no seu caótico Departamento de Futebol. Com a pacificação das suas mais atuantes correntes políticas, o clube conseguiu forças para escapar de forma sobrenatural de um descenso já tido como certo. Agora, é olhar para a frente e tentar montar um conjunto mais competitivo.

A base do ano anterior é mantida, saindo apenas o veterano meia Souza. Os pilares são o habilidoso lateral Leonardo Moura, os volantes Jônatas e Diego Souza e o meia Renato Abreu, coadjuvados pelo razoável zagueiro Renato Silva, o voluntarioso atacante Ramirez e o irregular goleiro Diego. Além deles, os contestados Fernando, Fellype Gabriel e Júnior completam a estrutura de um time que Joel Santana, tido como acabado para o futebol, conseguiu ligar e tornar vencedor nas últimas rodadas do Brasileiro. Agradecido pela oportunidade, Joel aceita uma proposta do Vissel Kobe, time japonês da Segunda Divisão.

Para o lugar de Joel, o Flamengo aposta em outro treinador em baixa, o experiente Valdir Espinoza. Também chegam o irrequieto lateral Juan (destaque no Fluminense), os volantes Marabá e Rodrigo (expoentes do rebaixado Paysandu), o zagueiro Ronaldo Angelim (eleito melhor zagueiro do Brasileiro-05, pelo Fortaleza), o meia uruguaio Peralta, o meia Toró (outro ex-tricolor) e a principal atração da temporada, o rodado atacante Luizão. Com a promoção de vários juniores, dos quais os maiores destaques são Vinícius Pacheco, Fabiano Oliveira, Egídio e o volante Rômulo, acredita-se que o elenco está mais bem servido que no fatídico ano anterior.

Mas um grave erro de planejamento quase põe o primeiro semestre a perder. O Flamengo resolve disputar a Taça Guanabara com uma equipe de juniores, enquanto o elenco principal realiza uma pré-temporada completa. Os garotos afundam em derrotas contra times inexpressivos, e às pressas os titulares são escalados para os jogos restantes do primeiro turno. A eliminação precoce torna bastante instável a situação de Valdir Espinoza, cada vez mais contestado pela imprensa, pela torcida e por setores da diretoria. Nesse contexto, o clube estréia na Copa do Brasil contra o perigoso ASA, de Arapiraca-AL.

A despeito de sua pouca expressão, o ASA já eliminara o poderoso Palmeiras alguns anos antes. Ousada, sua diretoria apregoa que irá repetir a dose contra um Flamengo fragilizado. A primeira partida é no acanhado estádio Coaracy da Mata. Confuso e inseguro, o Flamengo é amplamente dominado pelo time local, que logo no início abre a contagem e desperdiça várias oportunidades. Na segunda etapa, o rubro-negro consegue equilibrar, e aproveitando-se do recuo alagoano, chega ao empate meio no abafa, num escanteio em que a bola é escorada por Luizão e sobra para Ronaldo Angelim (que entrara no lugar de Fernando) emendar desajeitado. A duras penas, o Flamengo sai de Arapiraca com um suado 1-1.

Espinoza ganha uma sobrevida, e parece finalmente encontrar seu rumo quando o Flamengo, em grande atuação, vence o badalado Botafogo de virada (3-2). Mas, no jogo seguinte, uma derrota para o Madureira (2-3), numa noite infeliz do goleiro Diego, sela o destino do treinador. Para seu lugar, chega Waldemar Lemos, velho conhecido do elenco.

O nome de Waldemar agrada à torcida, em função do bom trabalho no final do Brasileiro-03, quando conduziu uma equipe bastante limitada, desestruturada e desunida a um relativamente honroso 8º lugar. Mas o irmão de Oswaldo de Oliveira terá alguns problemas a resolver. Diego tem falhado mais do que o aceitável. Juan ainda não emplacou, já começa a ser perseguido pela torcida e chega a ser barrado pelo limitadíssimo ex-júnior André. Jônatas e Júnior tentam impor na marra uma liderança, chocando-se com Renato. Diego Souza está gordo, desmotivado e em péssima fase. E até o Tigre Ramirez já anda às turras com parte do elenco. Além disso, o time não encaixa, há poucos titulares definidos e o esquema muda a cada partida. Enfim, uma verdadeira zona.

Evidentemente, são problemas que não serão resolvidos em apenas uma semana, tempo de que Waldemar dispõe para o jogo de volta contra o ASA. Mesmo assim, o treinador, fiel a suas características, escala uma equipe bastante ofensiva, com apenas Jônatas como volante, Renato na ligação e dois meias (Fellype Gabriel e Peralta). O resultado inicial é desastroso. O ASA ignora o Maracanã, encara o Flamengo de igual para igual e sai na frente, gol do exótico atacante Cascata. Com a perspectiva do vexame, o time mostra vergonha na cara, supera a bagunça e parte pra dentro do adversário na raça. Começa a perder um gol atrás do outro, até que Renato vai bater uma falta, chuta forte e torto, mas a bola desvia na cabeça de Renato Silva e entra. É o empate. Embalado, o Flamengo segue em cima, acua o ASA e tem seu esforço recompensado, quando Peralta recebe na entrada da área, vem na corrida e fuzila sem chances para o goleiro alagoano. Flamengo 2-1. No segundo tempo, o ASA se descontrola e tem dois jogadores expulsos, facilitando o trabalho flamengo. A vaga para a Segunda Fase está garantida, para alívio geral. O próximo adversário é o ABC de Natal, que vive péssimo momento.

E a Copa do Brasil será a tábua de salvação do semestre, porque o time acaba eliminado também da Taça Rio, numa das piores campanhas de sua história. No meio do caos, já há quem peça a cabeça de Waldemar. Cauteloso, o treinador vai a Natal com um time mais defensivo, três volantes (Júnior, Diego Souza e Jônatas). Juan é novamente barrado e Angelim enfim ganha a vaga de titular. Mais consistente e equilibrado, o Flamengo faz boa partida e vence merecidamente por 1-0 em noite chuvosa, com mais um gol salvador de Angelim (um belo peixinho), já no final do jogo.

Fiel à sua política de contratações, a diretoria aproveita o intervalo de 15 dias sem jogos e traz mais alguns nomes para compor o elenco, o volante Léo, o atacante Deni (revelações do Nova Iguaçu) e o grandalhão volante Goeber, do Guarani. Léo já estréia contra o ABC no Maracanã, no lugar do contestado Júnior. Outra novidade é a entrada de Vinícius Pacheco no lugar de Peralta, barrado após sistemáticas vaias de uma torcida irritada com seu comportamento extracampo (visto bebendo e fumando num bar do Rio).

Em sua melhor partida no ano, o Flamengo finalmente desencanta e goleia o frágil ABC com extrema facilidade, 4-0 em um jogo que poderia terminar tranquilamente sete ou oito. Os gols são de Renato (em belo chute), Luizão (numa cabeçada esquisita), Ramirez (aproveitando um bate-rebate) e novamente Renato (de pênalti). Mas o destaque negativo é a inacreditável quantidade de gols perdidos por Luizão e especialmente Vinícius Pacheco, que consegue perder oportunidades em cascata, demonstrando uma afobação poucas vezes vista em um jogador profissional. Mas, de qualquer forma, o Flamengo enfim faz as pazes com uma vitória maiúscula e Waldemar ganha tranqüilidade para trabalhar. Vai começar o Campeonato Brasileiro, que será utilizado para ajustar o time para a Copa do Brasil. O próximo desafio já é mais duro, o Guarani.

Mesmo com os visíveis sinais de melhora, o time ainda é visto com desconfiança por uma torcida ainda temerosa. Mas o que pouca gente sabe é que, a partir do confronto seguinte, entrará em cena um personagem até então esquecido, largado pelos cantos da Gávea, praticamente ignorado por todos. Mas, como uma fênix, o sujeito emergirá da obscuridade e do anonimato para ser o fator de restabelecimento de uma relação fragilizada, o herói ungido a fazer a Nação Rubro-Negra voltar a berrar por seus heróis, arrancando do peito um rugido que irá reverberar por todo um país, tornando a fazer do Flamengo uma força de caráter singular.

Predestinado, Obina aguarda sua hora.

Flamengo Net

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