quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Revolução no televisionamento?
Por Vinicius Paiva

Desde que o CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica, determinou pelo fim do direito de preferência da Rede Globo nas negociações de televisionamento do futebol no Brasil, os bastidores do setor pegaram fogo. Fruto de um processo que corria há treze anos pelos corredores da autarquia, a decisão, na prática, faz com que a Globo tenha que participar da próxima concorrência (que será referente ao período de 2012 a 2014) apresentando envelopes fechados, assim como seus concorrentes. É assim que ocorre em qualquer processo licitatório no Brasil ou no mundo, e não tinha por que ser diferente neste caso. Por haver preferência na renovação do contrato, a Rede Globo simplesmente tinha o direito de analisar as propostas das concorrentes e decidir se as cobriria ou não.

Agora não, é tiro no escuro. Win or wall. Vitória ou muro.

Outra interessante determinação do CADE é que, além do fim da preferência da Globo, caiu também a negociação conjunta das diversas mídias que possuíam os direitos do futebol. Antes, a Globo batia o martelo e levava um pacotão com os direitos de TV aberta, TV fechada, pay per view, internet e celular. A partir da próxima negociação, cada segmento será vendido em separado, aumentando as chances de que diferentes conglomerados de mídia detenham diferentes autorizações.

Entre os analistas especializados, há quem diga de tudo: desde de “tudo vai mudar” até "fica tudo como está". Só vendo para crer. Mas o fato é que, ao menos nos bastidores, diversas correntes vem atuando como nunca fizeram anteriormente. A TV Record, por exemplo, promete entrar com tudo, fazendo uma proposta bastante superior aos valores atuais. Isto, obviamente, é tudo o que deseja o Clube dos Treze, que segundo informações da Máquina do Esporte, deseja ver os R$ 550 milhões atuais se tornarem R$ 1 bilhão por temporada. Além do mais, a Record afirma que manterá os adiantamentos de cotas, flexibilizará as transmissões - citando o nome de patrocinadores e beneficiando os naming rights, algo que a Globo não faz - e trará as partidas de quarta-feira à noite para o horário das 20:30 hs. Por um lado, esta última medida reduziria a audiência do futebol em cerca de 20%, por conta da concorrência com as novelas (mulher também assiste futebol) e pelo fato de algumas pessoas ainda não terem chegado do trabalho. Por outro, aumentaria o público nos estádios e valorizaria o espetáculo.

Eu, particularmente, vejo vantagens nas intenções da Record. Por outro lado, confesso alguns temores. Se a Rede Globo, empresa carioca, hoje já é tão criticada pelo bairrismo e pela sardinha puxada pro lado dos times de São Paulo, imaginem uma emissora paulistana da gema, frequentemente acusada de propagar o malfadado "processo de corintianização do Brasil"? A Record já sinaliza que, caso vença o leilão, transmitirá duas partidas por rodada, ao contrário da Globo, que atualmente transmite três (uma sempre envolve algum time gaúcho ou mineiro, apenas para suas regiões de interesse). As duas partidas da Record provavelmente envolveriam um time paulista e outro carioca, apenas. O medo advém de um Avaí x Corinthians que seja transmitido "para todo o Brasil, menos o Rio de Janeiro, que fica com Náutico x Flamengo". Já imaginaram? Olha que, pior que tá, fica.

Existe uma outra sugestão que será levada ao Clube dos 13 pela Rede TV, e esta sim me agrada bem mais, apesar de as reduzidas chances de ser levada a cabo. Segundo o Radar Online, da revista Veja, a emissora irá propor que os jogos dos times de maior apelo sejam exibidos por quem fizer a melhor proposta, liberando os outros jogos de menor expressão para outras emissoras interessadas. Acho até bastante justo, mas confesso que o que mais me interessa é outra coisa. Este tipo de negociação, caso seja aplicada também ao pay per view, abriria a possibilidade de um dia, as partidas de um clube (ou de um conjunto deles) serem desatreladas do pacotão. Em outras palavras, imaginem-se pagando apenas por um pacote com partidas do Flamengo no PPV? Ou ainda, por pacotes "Times do RJ", "RJ + SP" ou "12 Grandes"? Afinal de contas, qual é o apelo e a audiência proporcionada pelo clássico Grêmio Prudente x Atlético-GO? Esta seria a lógica. Pagar pelo que usar. E pagar menos, naturalmente, aumentando o número de pacotes vendidos e a lucratividade das empresas detentoras dos direitos.

A ideia exposta acima ainda soa como um devaneio, mas eu tenho convicção de que há de se chegar a uma situação próxima a isto, um dia. E o primeiro passo foi dado pelo CADE, ao modernizar o sistema e implantar as premissas da defesa da concorrência onde ela ainda inexistia.

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Consta que, nos próximos dias, será lançado o tão falado projeto dos "Tijolinhos do CT". Segundo veiculado, o objetivo da diretoria seria a venda de 23 mil kits (tendo 18 mil deles no lote inicial) a R$ 250 cada, gerando uma arrecadação de R$ 5,75 milhões totalmente revertida à construção de uma parte do CT Ninho do Urubu.

O problema é que eu não vejo diferença entre uma péssima ideia, e uma grande idéia utilizada em um péssimo momento.

Primeiro, porque o projeto é audacioso demais. Mesmo que a torcida estivesse vivendo uma lua-de-mel com o time, a demanda qualificada de torcedores do Flamengo (aqueles dispostos a pagarem um montante alto como este) nunca foi testada. R$ 250 é quase o valor de duas camisas oficiais, é bom lembrar.

Além do mais, longe de uma lua-de-mel, a torcida está em litígio com o Flamengo. Não o Flamengo como instituição, mas com sua diretoria. Após o desgaste da saída de Zico, a péssima administração de Patrícia Amorim conseguiu enterrar toda e qualquer confiança que o torcedor pudesse vir a depositar nela. Basta conversar com qualquer flamenguista e descobrir que a maioria absoluta afirma não contribuir nem com um real, enquanto estes que aí estão perdurarem.

Não que eu torça por isto, até porque tenho um acesso interessante à diretoria de marketing do clube, composta por alguns profissionais competentes e de boa índole. Mas temo por estarmos diante do maior fiasco do marketing de um clube de futebol nos últimos anos. Não pelo projeto em si. Mas pelo momento em que ele será lançado.

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Feliz Dia do Flamenguista!


E-mails para a coluna: viniciusflanet@gmail.com

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