quinta-feira, 22 de julho de 2010

Por que o Flamengo não contrata?

Independente de haver torcedores exagerando, parece fato que o rubro-negro ainda não teve contratações à altura do que se espera de um time campeão brasileiro. No sétimo mês do ano, o culpado parece ser sempre o dirigente da semana passada, a presidente do clube e até o pobre do twitter. Se a gente fizer uma retrospectiva rápida encontra os motivos.

A maioria das contratações começou a ser negociada pouco antes do início da Copa do Mundo. Boa parte delas, ainda antes. Há dois meses, a imprensa colocava Belletti próximo do Flamengo, uma contratação que começou a ser costurada antes do vice de futebol Marco Braz ser demitido. Hoje, o jogador é do Fluminense (pessoalmente, acho melhor assim).

Justamente no período em que a maioria dos times fecha 80 ou 90% do seu elenco, ficamos sem uma diretoria de futebol e nenhum comando. O clube perdeu a chance de fechar o seu pacotão que formaria um elenco competitivo e o constrangedor conselho montado um mês após a demissão do vice não retomou as negociações que Braz começou (com a exceção de Correa, que parece realmente ser útil) e sequer buscou outros caminhos. Falou-se em sondagens por jogadores como Thiago Humberto (que ontem seria útil para substituir Petkovic, por exemplo), mas o que se ouve e o que parece é que nunca houve negociações com jogador algum antes de Zico chegar. Apenas telefonemas. Afinal, quando o Vitória contrata um jogador que o Flamengo dizia ter interesse não dá para levar a sério o "interesse".

Nesse período, a diretoria acertou com Jean, que ninguém queria, Jones Carioca e Correa, negociações costuradas por um vice demitido há meses, e Val Baiano (que depois daquela declaração sobre mala branca, considero uma contratação no mínimo incoerente) e a incógnita chamada Borja. Há também o promissor Marquinhos, que não joga bem há pelo menos um ano. Com exceção do ex-volante do Atlético-MG, nenhum deles leva pinta de que será titular absoluto. Pode ser que emplaquem? Sim. Mas são todas incertezas que não estão à altura dos titulares que o clube perdeu.

De lá pra cá, o Palmeiras arrumou a casa pra lá de bagunçada e contratou Kléber, que o Flamengo negociou mas demorou a retomar e perdeu; o Internacional trouxe Rafael Sóbis (mesmo problema do Gladiador) e por aí vai. Reveja todas as contratações para ataque, meio e defesa de outros times e tente lembrar o que o rubro-negro fazia nessa ocasião. A diretoria se valeu da contratação de Zico e fez boa parte da torcida acreditar que era para esperar o Galinho tomar posse. Que ele resolveria tudo. Zico pode ser rei, mas não é milagreiro. Ninguém é capaz de alterar as leis práticas do mercado. Com menos de um mês de cargo, ele vê a maioria das opções já negociadas e tem a opção de endurecer ou fazer loucura. Felizmente, tem sido coerente com o que sempre pregou e mantido o pé no chão.

Independente do Brasileiro, a gestão atual falhou em outros pontos. Juan já pode assinar pré-contrato com qualquer outro clube e sair de graça, por exemplo. Bola cantada em qualquer fórum ou blog esportivo. Isso para não falar que desde o início do ano, todos sabiam que dificilmente o clube manteria sua dupla de ataque. A diretoria teve seis meses para aproveitar o sucesso do Império do Amor e negociar com calma os substitutos, mas simplesmente deixoupralá. Falou-se em Sóbis, Kléber, Sheik, Gaúcho e a realidade é apostar em um promissor atacante que há dois meses estava nos juniores.

O Flamengo perdeu o prazo para negociar. Um erro tão básico que qualquer torcedor que participa de fóruns de discussão já sabia e preveu. Agora, é fácil jogar nos ombros de Zico a responsabilidade por seis meses em que Patrícia Amorim não fez absolutamente nada senão cruzar os braços e assistir um time campeão brasileiro se desfazer. Resta ao maior ídolo do clube a serenidade de prestigiar quem está no clube e administrar com os pés no chão. Custe o que custar. Infelizmente, é o ônus que a omissão administrativa de diretores, conselheiros e presidente lhe deixou.

Tiago Cordeiro é jornalista, twita sobre esportes neste perfil e escreve também no Cronista Esportivo.

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