segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Polaroids Rubro-Negros

* Por Juan Saavedra, no blog do site oficial do Flamengo.

Pioneiro de um sonho

Raul, Leandro, Marinho, Mozer, Júnior, Adilio, Andrade, Zico, Tita, Nunes e Lico. Foi essa formação que reabriu o sonho brasileiro de ganhar o mundo. Com esses 11, numa tarde gelada de 13 de dezembro de 1981, o Flamengo lançou a semente do que logo se chamaria "projeto Tóquio". Já não é mais no Japão a sede do Mundial, mas permanece uma verdadeira obsessão acelentar a glória de ganhar o mundo depois de conquistar a América. Nesse rastro vieram, com sucesso, Grêmio (1981), São Paulo (92/93/05) e Internacional (06). Outros fracassaram nas tentativas: Cruzeiro (97), Vasco (98), Palmeiras (99) e o Grêmio (95).

Primeiro clube do país a conquistar o título no outro lado do mundo, o Flamengo também foi o primeiro brasileiro a ganhar o status de melhor do planeta depois do Santos de Pelé, bicampeão em 62/63. Conseguiu o feito num momento em que a Seleção Brasileira acumulava frustrações no cenário internacional, seja nas Copas do Mundo de 1974 e 1978, ou no Mundialito do Uruguai. O título do Flamengo foi visto como um exemplo do Brasil que dá certo, uma massagem na auto-estima do país.

Certa vez, em uma reportagem para a finada revista Trivela, ouvi alguns jornalistas sobre aquele triunfo histórico. Falei com Juca Kfouri, Ruy Carlos Ostermann e Roberto Assaf. Como a edição limitou a pauta a seis páginas, não houve chance de aproveitar todo o material de apuração. Trago aqui alguns trechos inéditos da reportagem.

Pioneirismo do Fla - Segundo ouvi de Ruy Carlos Ostermann, do jornal Zero Hora, um dos mais importantes cronistas esportivos do país, a equipe liderada por Zico abriu caminhos. "O Flamengo conseguiu organizar um time qualificado e teve uma ação pioneira. Decretou finalmente que um objetivo internacional fosse colocado na agenda do futebol brasileiro".

"Aquela vitória", disse a mim Juca Kfouri, "abriu uma nova era: a do projeto Tóquio". A partir dali, afirmou em conversa por telefone o também jornalista e escritor Roberto Assaf, os clubes brasileiros passaram a dar maior importância para as competições sul-americanas. "Foi uma conquista do futebol brasileiro. Os mais jovens podem até não acreditar, mas naquela época os títulos estaduais tinham mais valor para muita gente. E esse título mundial e o da Libertadores serviram para despertar essa cobiça".

Também em entrevista por telefone, Junior - um dos maiores jogadores da história do Flamengo e hoje comentarista da Rede Globo - deu seu testemunho."Hoje há uma valorização [desse título]. E o Flamengo trouxe à tona essa possibilidade".

Lico, o titular ontem que faltava - Uma das curiosidades da história da conquista é que a formação titular, essa que hoje qualquer rubro-negro bem informado sabe de cor, só veio a ser constituída pouco tempo antes da partida com o Liverpool. A peça que faltava era Lico, que recebeu status de titular somente cinco dias antes da primeira partida contra o Cobreloa. Contratado para ser reserva de Zico, o catarinense ganhou definitivamente a posição que era de Baroninho após sua grande exibição nos 6 a 0 impostos ao Botafogo, pelo campeonato estadual, segundo revelo certa vez Paulo Cesar Carpegiani, em entrevista concedida a mim. O treinador decidiu escalar Lico aberto no lado esquerdo, como um quarto homem de meio campo, o que deu mais liberdade a Zico.

Empáfia? - Quando se fala daquela decisão, muitos falam do suposto desrespeito da equipe inglesa. Verdadeiro ou não, fato é que Junior interpretou a risada de Kenny Dalglish, astro do Liverpool, como zombaria, no momento em que os dois times - perfilados em fila indiana - aguardavam o momento de entrar em campo. Indignado, o Capacete encarou o escocês e vociferou, pausadamente: "Vocês vão se... eu vou dar a ... em todos vocês". Quem contou essa a mim, entre risadas, foi Raul Plassmann, que teria dito ao então lateral-esquerdo: "Mas eles não estão entendendo nada". E Junior teria dito: "Estão sim. Essa língua todo mundo entende". Conversando com Junior sobre isso, ele disse que mais tarde mudou sua opinião sobre o suposto menosprezo: "Na época eu achei que era menosprezo, mas quando fui jogar na Europa eu entendi que é um comportamento natural deles".

Mozer - Outro relato delicioso daquela jornada, contou o mesmo Raul Plassmann em Curitiba, onde vivi muitos anos, é sobre Mozer. Diz o ex-goleiro que o jogo estava praticamente resolvido, com 3 a 0, no segundo tempo, quando os britânicos fizeram sua jogada característica, o cruzamento para a área. Nisso, Raul gritou para o zagueiro: "Tira!!!". No desfecho do lance, o talentoso Mozer, em vez de espanar a bola ou afastar com a cabeça, pulou, matou a bola no peito, dominou-a com extrema categoria e deu um passe para o time sair jogando. Raul reclamou da ousadia - afinal era decisão de Mundial. E Mozer respondeu: "Véio, está 3 a 0, faltam cinco minutos, você acha que eu não vou deitar nesses caras?".

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