sábado, 15 de agosto de 2009

NOSSO MUNDO É FLAMENGO: Rubro-negros sem pátria

Paulo Lima*

Não se sabe quantos somos. Mas somos muitos. Espalhados, difusos, desconhecidos. E, a julgar pelas estimativas do governo federal de todos os brasileiros residentes no exterior, estaríamos na casa do meio milhão, se projetarmos internacionalmente a mesma proporção auferida nas recentes pesquisas nacionais de preferências clubísticas.

Vamos supor que este número não corresponda à total realidade, dada a maioria de imigrantes de origem mineira (embora sejamos muito fortes no interior deste estado, que é o grande pólo exportador de gente no Brasil). Tomemos a metade, 250 mil. Esse montante equivaleria à 100a cidade mais populosa do País. E que é composta por um mercado consumidor imenso, intenso, ávido por produtos do Flamengo como relíquias, como iguarias gastronômicas guardadas apenas nos sonhos e em um passado distante. Receber um Manto Sagrado pelo correio é certamente mais emocionante que presente de Papai Noel na véspera de Natal.

Para quem ainda não adivinhou, estamos falando de nós, rubro-negros, no exterior. Um número considerado grande no imaginário – “a maior torcida do mundo” – mas rarefeito e pobre no mundo real.

Sim, porque uma bela oportunidade de tornar viva e ativa esta conexão com os flamenguistas de fora do Brasil está sendo desperdiçada. Criado para conhecer, identificar, se relacionar, interagir e explorar os torcedores e sua paixão pelo clube, o Cidadão Rubro-Negro simplesmente exclui a possibilidade da participação dos rubro-negros no exterior. A começar pelo cadastro, já que, por ele, é necessário que se forneça um endereço no Brasil.

Que ficássemos de fora da promoção com Adriano (desagradável, porém justificável), tudo bem. Há custos muito maiores para um deslocamento internacional. Mas, por uma leitura inicial, nota-se que os participantes da promoção já serão cadastrados no Cidadão Rubro-Negro, e que desde o momento do cadastro começam a acumular os pontos de fidelização. Entendo, por isso, já estarmos de fora do projeto. Na melhor das hipóteses, se consertarem o erro e decidirem abrir para o pessoal do exterior a partir do dia 7 de setembro, que é quando termina a “Imperador por um Dia”, largaremos atrás por não termos tido a chance de somar os pontos por conta da referida promoção.

Em corrente contrária, deve-se dizer que é louvável a iniciativa de o clube aglutinar os torcedores em Embaixadas, que agora começam a incluir núcleos no exterior. A recente filiação de grupos na Bolívia, na Suíça, na China e em Cingapura demonstra a nossa força e a nossa vontade de sermos parte do futuro do Flamengo, ainda que distantes.

Mas isso é muito pouco. Para o torcedor comum, aquele que reside em cidades pequenas de fora do Brasil e que encontra dificuldades de se juntar a outros cinco ou dez flamenguistas, acaba alijado desta aproximação. Ele se esforça para assinar a Globo Internacional e o PFC Internacional; lê e ouve notícias na internet, ou seja, consome verdadeiramente o Flamengo. Mas que gostaria de ser lembrado, aproveitado, notado, “explorado”, de alguma forma.

Foi gratificante ver que a promoção para arrebatar uma das “camisas limpas”, em junho, foi aberta aos “estrangeiros”, e que o ganhador de uma delas, a primeira, foi um rubro-negro da China. Somado ao belo projeto das “Embaixadas”, comecei de fato a vislumbrar novos tempos para nós.

Todavia, fui tomado pela decepção com a exclusão do Cidadão Rubro-Negro. Se este se anuncia como um extenso programa de relacionamento do clube com seus torcedores, concluímos que somos rubro-negros apátridas, sem cidadania, sem passaporte, sem direitos, sem abrigo.

Ainda não recebi resposta do clube, por meio do site do projeto, sobre o que será de nós.

Que tipo de dificuldades haveria para isso?

Será que receberei uma resposta?

* Paulo Lima, 29 anos, residente em Nova York (NY), é servidor público federal e ex-repórter (Paulo Henrique Caruso Lima, aka "Falquinho") do Diário LANCE! (de 2001 a 2008), e escreve também no Mundo Flamengo (www.mundoflamengo.com)

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