quarta-feira, 24 de junho de 2009

Bomba! Projeto Sócio-Torcedor
Por Vinicius Paiva


Peço licença a meus colegas do Blog para uma postagem em caráter extraordinário, posto que hoje não é o dia da minha coluna. Trata-se de um material exclusivo: uma conversa telefônica que tive com o vice-presidente de marketing do Flamengo, Ricardo Hinrichsen, no dia de ontem. Este contato foi resultado da divulgação, por parte de alguns meios de comunicação, de que o projeto sócio-torcedor do Flamengo estaria prestes a ser lançado. Ricardo me confirmou esta informação, bem como passou maiores detalhes a respeito do empreendimento. Vamos a eles:

O projeto sócio-torcedor do Flamengo estaria pronto desde dezembro, envolvendo investimentos pesados, oriundos de um fundo de investimentos americano. No entanto, com o eclodir da crise – especialmente na América do Norte – os parceiros abandonaram o projeto, que só pôde ser efetivamente retomado nos últimos meses. O projeto atual, por envolver complexidades e se mostrar diferente dos apresentados por outros clubes, custará aos cofres do Flamengo nada menos do que R$ 2 milhões de reais. Apenas a título de comparação, o projeto vascaíno (http://www.ovascoemeu.com.br) custou ao clube apenas R$ 30 mil reais.

O programa rubro-negro, numa primeira etapa, oferecerá dois planos. O plano básico terá como novidade o fato de ser gratuito. Tudo o que o torcedor precisa fazer é um cadastro relativamente elaborado a respeito de sua pessoa, seus hábitos de consumo, etc. A contrapartida será o acesso a notícias, informações e pesquisas. Esta base de dados rubro-negra será oferecida aos parceiros do negócio, que poderão explorá-la de acordo com seus interesses. O Flamengo auferirá, com este modelo, um ganho indireto que virá das parceiras do projeto, entre elas Olympikus e Caixa Econômica Federal. Esta é a modalidade que tem como expectativa 200 mil “sócios” em seis meses.

O segundo plano será um plano pago, cuja mensalidade será de módicos R$ 8 mensais. O “sócio” usufruirá de benefícios e receberá alguns produtos, mas a modalidade não contemplará compra ou desconto em ingressos, no máximo facilidades para adquiri-lo e para acessar o estádio. Isto, segundo Ricardo, porque é muito difícil contemplar ingressos quando não se tem um estádio próprio, especialmente num momento em que o Maracanã, ao final de 2009, possivelmente será fechado por três (!!) anos, para obras. Neste período, o Flamengo negocia com o Botafogo a utilização do Engenhão. Importante salientar ainda que, como era de se esperar, esta modalidade de “sócio” não contempla direito a voto. A expectativa da diretoria é a de que 60 mil rubro-negros se associem nos primeiros seis meses.

Dois meses após o lançamento inicial do projeto (que está previsto para agosto), o Flamengo promoverá sua terceira submodalidade: a de “sócio Premium”. Nela, o torcedor terá o dispêndio de R$ 4 mil anuais (R$ aproximadamente R$ 333 mensais) para receber em troca produtos sofisticados atrelados à “marca Flamengo”. Ricardo Hinrichsen adiantou que um dos que vem sendo desenvolvidos exclusivamente para esta linha é uma caneta da marca Mont Blanc. A modalidade Premium espera a associação de 500 rubro-negros, e dará direito a voto.

Vamos às minhas considerações:

Não, eu não errei na digitação dos números. Serão três modalidades, uma gratuita, uma a OITO REAIS mensais (que, ao se confirmar a expectativa, renderá menos de meio milhão por mês aos cofres do Flamengo) e outra a TREZENTOS E TRINTA E TRÊS REAIS MENSAIS (esta, renderia cerca de R$ 160 mil reais/mês). As duas modalidades pagas renderiam ao Flamengo, caso se confirmem as expectativas, cerca de R$ 7,7 milhões por ano. É o mesmo valor que o Vasco, com seus atuais 25 mil associados, arrecadará tendo um programa cujo ticket médio fica na casa dos R$ 25. Já o Internacional de Porto Alegre, clube-modelo quando o assunto é sócio-torcedor, arrecada mais de R$ 30 milhões anuais com seus 80 mil sócios.

Isto posto, considero o projeto apresentado pelo Flamengo decepcionante. Um abismo inacreditável (e incompreensível) entre uma modalidade paga e outra, que não satisfaz aos anseios de grande parte de nossa torcida. Que tipo de produtos poderá oferecer uma modalidade cujas mensalidades são de R$ 8? Um chaveiro ao final do ano? Ou seja, estaremos entre uma modalidade que premiará com um chaveiro de R$ 25 e outra que ofertará uma caneta Mont Blanc de, sei lá, R$ 2 mil. Onde está o meio-termo? Eu, como torcedor de classe média, estaria disposto a pagar BEM MAIS do que os módicos 8 reais, que beiram a uma doação. Aliás, importante tocar neste ponto. Ao oferecer bem menos contrapartidas do que se imaginava, o projeto trata o torcedor não como um sócio (e por isto utilizei aspas sempre que usei a palavra), mas como um cliente. E não era bem isto que esperávamos.

Outras duas questões a serem abordadas são: a falta de ingressos e a questão do direito ao voto. Todos sabemos que é verdadeiramente complexo administrar um projeto de sócio-torcedor quando não se possui um estádio próprio, e alguns dos principais clubes que servem de modelo neste âmbito não o fazem em estádios alugados. É difícil, mas não impossível. O Corinthians, que vem colhendo frutos neste empreendimento, não é dono do Pacaembu, no entanto o projeto “Fiel Torcedor” contempla, sim, ingressos. Mas quando vislumbramos o fato de o Maracanã ficar fechado por um longo período – além de sequer termos certeza de onde o Flamengo vá mandar seus jogos – compreende-se o porquê de, ao menos por ora, o programa não contemplar ingressos.

Já a questão que envolve o direito a voto é bem mais delicada. Eu até compreendo que um plano cujas mensalidades sejam muito baixas não contemple este direito. Mas por que, diabos, não oferecer planos de R$ 30, R$ 50 ou mesmo R$ 100 mensais que permitam à nossa torcida o direito de escolher seus representantes? Quem tiver este intuito terá que comprar um título de sócio-proprietário do Flamengo, ou se associar à modalidade “Premium” do sócio-torcedor. Ambos os casos requerem investimentos bastante acima das possibilidades financeiras de 99,9% da nossa torcida (ou de qualquer outra torcida brasileira). Se a intenção não foi esta, sugiro que a diretoria repense as faixas e as contrapartidas do programa a ser apresentado. Ao restringir de maneira tão drástica o acesso ao voto, abre-se espaço para que se questione as boas intenções dos responsáveis pelo projeto.

E-mails para a coluna: viniciusflanet@gmail.com

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