sexta-feira, 8 de maio de 2009

COLUNA DE SEXTA-FEIRA - André Monnerat

Com que time o Flamengo jogará o Brasileiro?

O Brasileiro 2009, maior competição do ano para o Flamengo, começa amanhã. Na estreia, contra o Cruzeiro, ainda não joga o grande reforço da temporada, o Imperador Adriano, apresentado ontem. Mas já dá pra tentar visualizar o que Cuca pode estar pensando para o time, a partir do momento em que tiver o centro-avante à disposição. Eis o que imagino que ele possa estar visualizando - agradeço a participação especial de Adílio, craque histórico do time de botão do André Atlético Clube, que ajudou na montagem deste exercício de imaginação:




Tem gente melhor do que eu pra fazer este tipo de visualização tática, mas este é um palpite para as ideias de Cuca - não o time que eu escalaria. Imagino Juan com uma função ofensiva maior que a de Léo Moura, ora como atacante pela esquerda, ora como meia - e Willians e Angelim fazendo mais o trabalho defensivo por ali. Íbson e Kléberson com um certo revezamento de funções no meio. Émerson como um segundo atacante mais pela direita, mas podendo se mexer com liberdade por todo o ataque.

É por aí?

E devo dizer: no papel, o Flamengo tem, hoje, um dos elencos top do país. Coisa pra brigar por título mesmo.


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Mas, pra completar a pergunta do título, temos que levar em consideração que dificilmente o Flamengo terminará este campeonato com o time que começará. Além das conversas sombreadas sobre possíveis reforços e troca-trocas, não podemos esquecer do efeito da janela europeia de transferências. Embora os clubes do Velho Mundo andem ultimamente com menos grana e apetite.

Sei que todos aqui esperam ver um time forte, capaz de lutar pelo hexa. Que torcem para que a diretoria mantenha o máximo possível de jogadores, que não se desfaça da base. Têm esperanças na permanência de Íbson. E por aí vai.

Mas andei dando uma olhada no balanço 2008 do clube, divulgado no fim do mês passado - do qual ando falando no meu blog, o SobreFlamengo. E a questão é a seguinte: o Flamengo tem um passivo circulante - ou seja: dívidas a serem pagas, em princípio, até o fim do exercício 2009 (pessoal da área de contabilidade - pode corrigir se eu estiver errado!) - de R$149 milhões. Dentro disso aí, além de empréstimos bancários milionários e R$13 milhões em impostos atrasados do ano passado, estão R$7,7 milhões de direito de imagem, R$3,9 milhões em luvas, R$4,2 milhões em salários, R$10 milhões na soma de encargos, férias, décimo-terceiro. E R$8 milhões de direitos federativos de contratações ainda não pagas.

Atenção: são R$149 milhões de dívidas imediatas. E a receita total do clube (futebol, social, tudo) em 2008 foi de R$117 milhões. 

O modo de agir da diretoria em relação a isso, até hoje, foi pegar novos empréstimos, pagar parte das dívidas imediatas com eles, adiantar receitas pra pagar outros compromissos, enrolar a outra parte do que tem a pagar e seguir com a vida. Mas até onde isso pode ir? Quão difícil já está pegar novos empréstimos? Qual a capacidade e crédito que a diretoria tem para, nessa linha, conseguir renegociar estas dívidas urgentes?

Em suma: qual é a condição que o Flamengo tem de manter este time que aí está? 

E, mesmo que tente manter, faça sua dose de loucura - o quanto o seu desempenho dentro de campo será afetado pelos inevitáveis atrasos nos pagamentos? É bom dizer: no ano passado, os gastos do futebol subiram em 74%. A folha salarial foi a segunda maior do país, muito perto da do São Paulo e coisa de quase R$20 milhões acima de Palmeiras e Inter. São dados extraídos dos balanços dos clubes.

Como alguém já disse: o caso do Flamengo pede quimioterapia, mas estão tratando com aspirina. É claro que é preciso aumentar as receitas, algo que é mais que possível, vai ajudar muito e até já está sendo feito - há FlaShop, há promoções, há negociação de novo patrocíno e o próprio contrato com a Olympikus, perto de entrar em vigor, será um ganho considerável. Mas não adianta nada disso se os gastos estão crescendo na mesma proporção. E realmente não creio que seja possível colocar o clube nos trilhos pra valer sem que haja um corte grande nas despesas, pra criar um superávit realmente considerável (não adianta comemorar no fim do ano que gastou um milhão a menos do que ganhou, se na verdade a dívida aumentou em quase R$40 milhões). E ter moral para renegociar as dívidas que estão batendo à porta, alongar os pagamentos, normalizar a vida.

Atenção: não estou falando em simplesmente montar um time ruim, e em se conformar com o rebaixamento. Se o Flamengo cortar a folha pela metade, ainda vai estar no nível de gente que bate às portas da vaga na Libertadores. E não adianta simplesmente economizar se não encarar realmente de frente o pagamento das contas, negociar com credores, organizar a vida lá dentro.

Mas sei que é complicado pensar nisso às vésperas da estreia da luta pelo hexa. No meio da empolgação pela chegada de um craque internacional. 

E em ano de eleição.

Flamengo Net

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