COLUNA DE QUARTA FEIRA João Marcelo Maia
Chutes e pitacos
quarta-feira, 4 de março de 2009
Leio no jornal desta última terça-feira que Cuca "recebeu com muita dor" as provocações da torcida do Botafogo. Eu poderia fazer zilhões de trocadilhos com essa infeliz frase, mas vou me limitar a dizer que um técnico do Flamengo não pode, em hipótese nenhuma, "receber" algo "com muita dor". Junte-se a isso uma notícia que li semana passada no mesmo jornal carioca, segundo o qual Cuca estava triste com alguns membros do elenco e se queixava constantemente dos mesmos para jornalistas. Há um claro problema de atitude aí, que pode jogar uma luz sobre a dificuldade do nosso treineiro atual em ganhar um título.
Em primeiro lugar, Cuca passou recibo. Comportou-se como o garoto que é sacaneado pelos colegas no recreio e se irrita, gritando sua condição de injustiçado ou perseguido. E quem passa recibo é zoado em dobro. Lei do recreio, lei da vida. Além disso, Cuca demonstrou alguma fragilidade. Agiu como se seu belo trabalho no Botafogo o credenciasse a ser tratado "com carinho" pela massa de torcedores. Santa ingenuidade. É preciso estar atento e forte, Cuca, não há tempo para se melindrar nem para lamentar a suposta falta de consideração. Você não deve nada ao Botafogo, nem eles a você (a não ser eventuais salários atrasados, não sei). Sua realidade é a torcida do Flamengo. Ponto.
Reclamar dos jogadores que o boicotam? Ora, quem reabilitou Jônatas, figura que tanto tumultuou elencos passados e que estava curtindo uma saudável sombra na Gávea? Se é pra despertar o vulcão, há que se segurar a erupção e não deixar as cinzas caírem. Todos sabem como é o Flamengo: salários atrasados, falta de comando, indisciplina e presunção. Para enfrentar isso, é preciso um mínimo de liderança e afirmação positiva naquele mundo, sob risco de perder a autoridade. Não reclame com jornalistas, enquadre diretamente os figuras. Se a diretoria o desautorizar, peça o boné e saia gritando.
Cuca é um bom técnico, e já demonstrou isso algumas vezes. Acho que ele tem que continuar o tempo que der, já que a meta não é Estadual. Mas parece faltar ao nosso técnico aquela capacidade de imposição e comando que marcam os vencedores. Eu não imagino Felipão, Muricy ou mesmo Parreira se lamentando do que uma torcida diz ou deixa de dizer sobre eles. Não pode. Neste sentido, montar um bom time e fazê-lo jogar é um primeiro e fundamental passo, mas domar as forças e as pressões que fazem do futebol uma paixão violenta é tão fundamental quanto.
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